“Os deuses tinham
condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma
montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham
pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho
inútil e sem esperança.
(…) Já todos
compreenderam que Sísifo é o herói absurdo. É-o tanto pelas suas paixões como
pelo seu tormento. O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua
paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível em que o seu ser se
emprega em nada terminar. É o preço que é necessário pagar pelas paixões desta
terra.
(…) A felicidade e o
absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer
que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que
o sentimento do absurdo nasça da felicidade. «Acho que tudo está bem» diz Édipo
e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado. Ensina que nem
tudo está bem, que nem tudo foi esgotado. (…)”
O único verdadeiro papel do homem, nascido num mundo absurdo, é viver,
ter consciência da sua vida, da sua revolta, da sua liberdade. No mito de
Sísifo, o homem aparece como um condenado ao terrível suplício de um trabalho
inútil e sem esperança. É o castigo pelo desprezo pelos deuses, o ódio à morte
e a paixão pela vida. É o preço a pagar pelas paixões da terra.