sábado, 8 de dezembro de 2012

O mito de Sísifo. A vida e o absurdo (Albert Camus 1913-1960)



“Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
(…) Já todos compreenderam que Sísifo é o herói absurdo. É-o tanto pelas suas paixões como pelo seu tormento. O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível em que o seu ser se emprega em nada terminar. É o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra.
(…) A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. «Acho que tudo está bem» diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado. Ensina que nem tudo está bem, que nem tudo foi esgotado. (…)”
O único verdadeiro papel do homem, nascido num mundo absurdo, é viver, ter consciência da sua vida, da sua revolta, da sua liberdade. No mito de Sísifo, o homem aparece como um condenado ao terrível suplício de um trabalho inútil e sem esperança. É o castigo pelo desprezo pelos deuses, o ódio à morte e a paixão pela vida. É o preço a pagar pelas paixões da terra.

sábado, 1 de dezembro de 2012

A vida é uma ilusão

Do ponto de vista religioso, parece que a vida só tem sentido quando o seu fim último é alcançar a felicidade eterna. Então, a passagem terrena não é mais do que um calvário de sacrifícios, de mortificações, sem os quais não conseguiremos o currículo necessário que nos permita obter o passaporte para entrar no céu. Deste ponto de vista, até o mais inocente sonho de felicidade terrena pode ser pecaminoso e um entrave para «a verdadeira felicidade», que só poderá ser eliminado do nosso historial mediante um verdadeiro arrependimento e cumprimento do competente castigo. A vida terrena é uma mera passagem da nossa existência para chegar ao bem celestial e «todos os sacrifícios» são uma mais-valia para alcançar o objetivo final.
Contudo, para aqueles que não acreditam no misticismo mas acreditam que a vida é a nossa existência enquanto seres que habitam o planeta e termina para sempre com a morte, faz todo o sentido a procura constante da felicidade, da nossa felicidade e daqueles que nos são próximos, de sonhar e procurar realizar os nossos sonhos, de procurarmos ser felizes o mais possível e sentirmos que contribuímos para a felicidade dos outros, de nos sentirmos realizados.
Para cada um de nós a vida terá um sentido. Se para uns faz sentido arrostar com todos os sacrifícios para alcançar a felicidade eterna, para outros faz todo o sentido viver na procura (sempre) da felicidade, sonhar (principalmente acordado) e procurar realizar os seus sonhos sabendo que a vida nos traz muitos escolhos, mas é precisamente nas vitórias mais difíceis que a felicidade atinge o seu pleno.
No fundo, a vida é uma ilusão. Todos nós vivemos na procura dessa ilusão que é a felicidade. Uma felicidade que não é perene, mas bastas vezes efémera.
Uns gozam-na mais, outros têm menos, mas cada caso é um caso e não há medida quantificável para isso.

sábado, 10 de novembro de 2012

O homem-massa e a sociedade de massas

O progresso tecnológico trouxe, de entre outras coisas, maior liberdade de movimentos; através dos média, uma outra amplitude da visão do mundo, e a democratização do poder político. A sociedade liberta-se do jugo da tirania, derruba fronteiras com respeito pela liberdade individual e pela assunção da responsabilidade pessoal, cultivando os valores espirituais que apoiam o ideal da civilização.
Todavia, um novo tipo de indivíduo depressa ganha influência na sociedade: o homem da multidão, «o homem-massa», que surge em todas as classes sociais; entre os ricos e os pobres, os cultos e os ignorantes. E esta ascensão do homem-massa – a rebelião de massas – ameaça directamente os valores e ideais da democracia liberal e do humanismo, as tradições em que se desenvolve a espiritualidade e a moral do homem livre, a garantia dos fundamentos de uma sociedade livre e aberta. Encara o indivíduo e a sociedade numa perspectiva diferente: recusa o confronto com os valores intelectuais e espirituais; não há medida ou valor que lhe possam ser impostos ou limitados. A vida deve ser sempre fácil e abundante. O esforço intelectual é desnecessário; não avalia criticamente as suas opiniões nem tem em conta as outras pessoas. Isto reforça nele o sentimento do poder, o desejo de controlar. Só ele e os seus congéneres contam, os outros terão que adaptar-se. Tudo o que seja diferente e de pouca ou nenhuma importância a seus olhos simplesmente não deve existir. Ajusta a sua aparência aos ditames da moda e as suas opiniões são moldadas pelos meios de comunicação. Livre de qualquer esforço intelectual, o homem-massa não pensa, erra sem objectivos pela vida, sem referências, verdades ou princípios orientadores, agarra-se às massas e deixa-se levar por elas.
 No século XX, os fenómenos de massa, a histeria de massas, são uma consequência fundamental do psiquismo deste homem moderno, destituído de espírito e indiferente. O medo e o desejo dominam o comportamento de massas.
Nesta cultura social, caracterizada pela falsidade e ilusão, que sobrevaloriza a tecnologia, a velocidade, o dinheiro, a fama, as celebridades e os aspectos exteriores, que despreza os valores mais nobres e orienta toda a sua existência para a satisfação do prazer, as consequências poderão ser pesadas.
A não existência de valores espirituais absolutos torna tudo subjectivo, porque deixou de haver critérios objectivos para avaliar os nossos actos. O meu ego é a medida de tudo e só interessa aquilo que eu sinto, aquilo que eu penso. Eu exijo que o meu gosto, que a minha opinião e a minha maneira de ser sejam respeitados, senão eu ficarei ofendido. O ego sensível como medida de todas as coisas recusa qualquer crítica e ignora a autocrítica. A vida espiritual já não é relevante. Já não somos a expressão de valores, mas de aspectos materiais. Compramos a nossa identidade, adaptámo-la e modificámo-la para que a possamos exibir perante o maior número de pessoas possível, esperando que nos achem agradáveis. O agradável passa a ser a medida de tudo.

sábado, 3 de novembro de 2012

As taxas de juro


A taxa de juro é o montante de juro expresso como percentagem do capital para uma determinada unidade de tempo. Refere-se, normalmente, à taxa remuneratória dos depósitos bancários ou devida por empréstimos,
As taxas de juro são influenciadas pelas variações no nível dos preços. Tendem a acompanhar de perto a inflação. A subida da inflação provoca, mais cedo ou mais tarde, a subida das taxas de juro. São, aliás, uma das formas de controlo da inflação.
A contratação de empréstimos, especialmente no crédito à habitação, é fortemente condicionada pelas taxas Euribor. Trata-se de o indexante utilizado nas operações de crédito, que pode ser negociado por diferentes prazos, sendo os mais usados de 3, 6 e 12 meses. É esta variação a que está sujeita a taxa de juro do empréstimo que vai alterar, para cima ou para baixo, o valor das prestações, com os inerentes problemas que coloca às famílias quando do agravamento da taxa Euribor. A esta taxa de juro, acresce ainda uma taxa de juro fixa (spread), atribuída pela instituição de crédito em função do risco de crédito do cliente e do rácio entre o valor do empréstimo e o valor do imóvel. O valor desta taxa, dependendo da estratégia comercial da instituição de crédito, poderá ser reduzido como contrapartida pela aquisição, facultativa, de outros produtos.
As taxas de juro também têm influência na dívida do Estado. Num país com forte endividamento e face ao risco de crédito, o aumento das taxas de juro pode atingir uma tal magnitude que, em casos extremos, o Estado nem sequer tenha capacidade para pagar o serviço da dívida, ou seja, pagar a totalidade dos juros vencidos, obrigando-se a contrair mais dívida.
A taxa de juro é o prémio ou remuneração oferecido ao aforrador. Quanto maior for a taxa de juro, maior é o incentivo a poupar. O aumento da taxa de juro influencia a poupança de duas maneiras: por ser a própria remuneração da poupança que aumenta; porque vai aumentar o custo do crédito ao consumo, dado que as prestações periódicas das compras a crédito têm implícito um juro determinado pelo mercado financeiro.
A taxa de juro oferecida à poupança deve ser superior à inflação, caso contrário a poupança não será remunerada, mas penalizada: a taxa de juro real (juro nominal descontado o efeito da inflação) seria negativa, pois o juro recebido não compensaria a perda de poder de compra do capital poupado posto a render durante o período da aplicação financeira.
O processo de capitalização, é o mecanismo através do qual um determinado capital aplicado produz juro ao fim de um certo tempo de aplicação.
A forma como o capital e o tempo estão relacionados, está na base da diferença entre dois processos de capitalização:
·         Um processo em que o juro é calculado só em função do tempo, mantendo o mesmo capital inicial – regime de juro simples;
·         Um outro processo em que o juro é calculado com base no capital e no tempo, uma vez que o juro vencido em cada unidade de tempo se adiciona ao capital inicial, vencendo também juro – regime de juro composto.
O processo de cálculo de juros depende ainda da relação entre o período de contagem dos juros e o período a que está referenciada a taxa de juro, podendo estes, por exemplo, serem referidos ao período de capitalização anual, capitalização semestral ou capitalização trimestral, existindo uma relação entre eles.

Consultas:

http://www.thinkfn.com/wikibolsa/Taxa_de_juro
http://pascal.iseg.utl.pt/~jcaiado/Papers/Gestin2001.pdf
http://pascal.iseg.utl.pt/~jcaiado/Papers/VAR_SPE2002.pdf
http://clientebancario.bportugal.pt/pt-PT/TaxasdeJuro/Creditohabitacao/Paginas/default.aspx
http://www.angelfire.com/mac/jpedro/economia/txt7.pdf

sábado, 20 de outubro de 2012

Medição do tempo




O tempo sempre foi uma questão fundamental para a humanidade. Desde os primórdios da nossa existência que se notou a necessidade da contagem do tempo. Desde a observação dos fenómenos naturais: a contagem do dia e da noite; as fases da Lua; a posição dos astros; a variação das marés ou o crescimento das colheitas, foram formas de se medir «o tempo que passou».
Desde o Neolítico, passando pelos ciclos da pedra da cultura megalítica, pelas torres de observação desde a Babilónia à Índia e América, que a preocupação e necessidade de medir o tempo se encontra documentada noutros aparelhos, desde as clepsidras (relógios de água) ou ampulhetas (relógios de areia) em que, num e noutro caso, um fluído se escoa e um volume se mede, assim como os relógios solares da idade média, instrumento astrológico fixo ou móvel, e os relógios de combustão (velas e candeias), até ao relógio mecânico que surge na Renascença, inicialmente com a função de predizer ou indicar acontecimentos astronómicos (século XV) e se converteu, gradualmente, em relógio marcando o compasso da hora, tornando-se em instrumento de regulação da vida comunitária.
A descoberta dos satélites de Júpiter (século XVII), por Galileu Galilei, revelando que há mais mundos para além do nosso, e a dialética sobre os principais sistemas do Mundo, o Geocêntrico e o Heliocêntrico (1632), que se encontra documentada nesta grande descoberta observacional e de grande alcance teórico e prático, permitiu, para além dos movimentos do Sol, da Lua, e dos restantes astros (devido ao movimento da Terra) já utilizados para medir o tempo, utilizar também os movimentos dos satélites de Júpiter (como um relógio fixo no céu) para medir o tempo, e com a vantagem de ser um tempo igualmente observável de qualquer ponto da Terra. Um objetivo que Galileu Galilei e os outros prosseguiram com vista ao aperfeiçoamento das técnicas de navegação.

sábado, 29 de setembro de 2012

O impacto da globalização nas nossas vidas


A globalização é resultante da evolução tecnológica associada a grandes mudanças no âmbito das telecomunicações, da produção, da comercialização e nos mercados financeiros mundiais.
É um fenómeno que está a provocar profundas alterações nas sociedades, afetando as nossas vidas pessoais e íntimas, entrando nas nossas casas, nas comunidades ou contextos locais através de meios impessoais como os média, a internet, a cultura popular ou através do contato pessoal com indivíduos de outros países e culturas.
O fenómeno da globalização obriga-nos a redefinir muitos dos aspetos das nossas vidas pessoais, familiares, os papéis de género, a sexualidade, a identidade pessoal, as nossas relações com os outros e as relações laborais. No fundo, a forma como nos concebemos a nós próprios e a nossa relação com os outros na sociedade.
Nesta época em que vivemos, os indivíduos têm muito mais oportunidades para configurar as suas vidas do que no passado. Antigamente os valores e os estilos de vida dominantes forneciam as regras que guiavam as pessoas na sua vida. As entidades pessoais formavam-se no seio da comunidade em que nasciam. A tradição e os hábitos tinham uma influência determinante na vida das pessoas. A classe social, o género, a etnia e religião, eram condicionantes de peso para se ter acesso ao conhecimento, à cultura e a melhores níveis de vida. O espaço natural da mulher era o lar e a sua vida e identidade eram, em grande medida, definidas pelo marido ou pelo pai e aos filhos estava reservado seguirem, para toda a vida, a profissão do seu predecessor ou outra análoga ao seu estatuto.

sábado, 22 de setembro de 2012

Gestão do trabalho


Existem várias definições de liderança, contudo o conceito contemporâneo de liderança diz que “liderança é a capacidade para influenciar um grupo de pessoas a atuar no sentido da prossecução dos objetivos desse mesmo grupo ou da organização”.
Sendo apenas uma das muitas tarefas de um gestor, a forma como se exerce a liderança repercute-se enormemente não só na evolução da empresa, mas também na forma como a empresa, como organização, é vista, quer pelos seus empregados, quer pelas restantes partes interessadas.
É tão grande a importância da liderança na gestão das organizações, que muitas vezes é confundida com a própria gestão. No entanto, nem todos os líderes são gestores, do mesmo modo que nem todos os gestores são líderes.
A liderança é uma influência de relacionamento, contudo a gestão é um relacionamento de autoridade. A liderança é executada por líderes e pelos seus seguidores envolvendo-os na procura de mudanças reais na organização, ao passo que a gestão é levada a cabo pelos gestores e os seus subordinados envolvendo a coordenação de pessoas e recursos para a produção e venda de bens ou serviços na organização.
Liderar consiste em guiar, orientar e exercer influência, e gerir consiste em realizar, assumir responsabilidades, comandar.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O país da não-inscrição


“Em Portugal nada acontece.” (…) “Nada acontece, quer dizer, nada se inscreve – na história ou na existência individual, na vida social ou no plano artístico.”(José Gil)
Com a Revolução de Abril, e a seguir ao «verão quente de 75», a afirmação dos valores democráticos da igualdade, liberdade e tolerância como que fez esquecer das consciências e da vida a guerra colonial, os vexames, a cultura do medo e a pequenez medíocre engendrada pelo salazarismo. Não houve julgamentos dos responsáveis pelo antigo regime. Um manto como que tapou a realidade repressiva, castradora e humilhante desse nosso passado recente. Como se fosse possível apagar da mente e da história a realidade, sem que as cicatrizes do passado reaparecessem aqui ou ali a testemunhar o que se quis apagar mas que insiste em permanecer.
Quando não se faz de forma devida o luto, o morto e a morte virão assombrar-nos sem descanso.
Com efeito, no tempo de Salazar, o país vivia mergulhado num tal obscurantismo, que a existência individual nos tolhia quase por completo. O que ditava a moral do salazarismo era uma sucessão de atos obscuros, com tanto mais valor quanto se faziam modestos, humildes, despercebidos, onde não havia espaço público e tempo coletivo visíveis, senão na eternidade muda das almas, segundo a visão católica própria de Salazar.

sábado, 8 de setembro de 2012

A Informação e a Comunicação nas Organizações


A Comunicação é uma das maiores dificuldades das pessoas dentro das organizações, apesar de frequentemente existir muita informação disponível – se nos quisermos dar ao trabalho de a obter –, pelo simples facto de ser um processo que deve funcionar nos dois sentidos, devendo haver de ambas as partes interesse para que resulte, o que não acontecerá principalmente nas organizações de maior dimensão.
O importante não é que haja muita comunicação, muito menos apenas informação, mas que todos se sintam envolvidos, se sintam parte do grupo e que sintam que a sua opinião tem influência nas decisões que dizem respeito à organização.
A comunicação é um estado de espírito. Comunicar não é informar, implica diálogo. Comunicar significa informar nos dois sentidos – dar e receber informação. Para isso, a comunicação tem que despertar interesse, ser algo que nos diga respeito, deve ser obra de todos. Deve haver da parte dos comunicantes um esforço de compreensão e de simplificação do discurso para que a comunicação seja profícua.
Ao nível das organizações, a comunicação tem assumido um papel fundamental, exigindo dos profissionais da área conhecimentos, uma visão abrangente do mercado e uma visão estratégica de negócios, englobando o cuidado com a imagem da empresa, melhorando os serviços e aumentando a produtividade e o lucro. Quando uma organização não se comunica bem por falta de comunicação interna e externa logo surgem os problemas: desmotivação dos seus funcionários, perda de confiança de fornecedores e clientes insatisfeitos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A política portuguesa

A política vista por: Victor Moura-Pinto, TVI.
E o Sr. Relvas faltou às aulas, foi p'ra Timor, claro, não precisa!
P'ra onde vai a massa? Vejam bem! Dinheiro há muito, a vergonha é que é pouca!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Política à Portuguesa

A política vista por: Victor Moura-Pinto - TVI.
Se somos todos iguais; ou há moralidade, ou comem todos; ou, então um bom par de patins... não ficaria mal... a certos personagens, claro!

domingo, 2 de setembro de 2012

As relações laborais


A subsistência dos povos na antiguidade era conseguida através do trabalho. A denominação de trabalho que se conhece surgiu com a escravatura em que os trabalhadores eram tidos como meros objetos; posteriormente o trabalho passou a servidão, passando o trabalhador do estado de coisa a ser visto como pessoa, no entanto, privado da sua liberdade; mais tarde, o advento das corporações veio amenizar um pouco a escravidão, pois os trabalhadores já não serviriam o seu senhor, deviam respeito ao mestre.
Entretanto aparece o artesanato como uma forma de produção industrial muito simples, onde havia a divisão do trabalho – concentração de trabalhadores sob a orientação de um chefe num mesmo local, para a produção de produtos ou alfaias. A primeira forma de produção organizada, com prazos de entrega, especificações pré-estabelecidas e fixação de preços das encomendas.
A partir do início da revolução industrial começa a haver, embora de forma incipiente, a consciencialização de que os trabalhadores estavam a ser submetidos a grande exploração, mas só na primeira metade do século XIX, e na sequência de várias greves encetadas, aparecem os primeiros órgãos de defesa dos seus direitos.
A partir de 1830, em diversos países, mas especialmente nos mais industrializados – França, Alemanha, Inglaterra, entre outros – os trabalhadores começam a organizar-se com o intuito de fixar um limite de horas para a jornada de trabalho. Em 1847 surge em Inglaterra a primeira lei que impõe o limite máximo de trabalho de 10 horas diárias. Um ano mais tarde, em França, é imposto o limite de 10 horas, em Paris, e 11 horas no restante do país.

sábado, 25 de agosto de 2012

O processo de desmaterialização da moeda e o €uro


Desde a moeda-mercadoria até hoje, passando pela moeda-metálica, papel-moeda, moeda fiduciária e moeda escritural, tem-se desenvolvido um longo processo de desmaterialização da moeda. Ou seja, a moeda foi perdendo o seu conteúdo material e passou a ser formada por meros registos contabilísticos, deixando de ter realidade material.
Atualmente circulam enormes quantias entre contas bancárias no mesmo país, ou entre países, constituindo mais um passo no processo de desmaterialização da moeda. Grande parte das transações atuais são efetuadas através da movimentação contabilística de depósitos por via informática.
Regra geral a moeda desempenha três funções:
- Meio de pagamento ou instrumento geral de trocas, pois sendo aceite por todos, é utilizada na aquisição de todos os bens;
- Unidade de conta ou medida de valor, visto ser através da moeda que se mede o valor dos bens entre si, isto é, o seu preço;
- Reserva de valor, que se traduz na possibilidade de se conservar moeda por algum tempo, utilizando-a mais tarde.

sábado, 18 de agosto de 2012

A combinação dos fatores de produção e a poupança



A racionalidade económica consiste em se escolher, para cada nível de produção, a combinação de fatores produtivos de menor custo ou, para um dado custo, optar pela combinação dos fatores produtivos que permita obter o maior volume de produção.
As economias de escala, economias resultantes de os custos médios da empresas diminuírem com o aumento da produção, traduzem a diminuição do custo de produção unitário como resultado do aumento da quantidade produzida, ou seja, benefícios adicionais de produção causados por um aumento da escala produtiva.
As deseconomias de escala traduzem o facto de os custos médios da empresa aumentarem, com o aumento da produção; ocorrem quando os custos médios de produção aumentam como resultado do aumento da dimensão das unidades de produção.
Entende-se por economia de escala quando o custo médio de produção diminui no período longo e deseconomia de escala quando o custo médio de produção no período aumenta.
Produtividade marginal traduz-se no custo adicional de cada unidade a mais produzida e obtém-se através do quociente entre os acréscimos de custo total e os respetivos acréscimos de produção.
Custo marginal=
Acréscimo do custo total
Acréscimo de produção


Unidades de produção
Custo total €
Custo médio €
Custo marginal €
100
2500
25

150
300
20
10



A eficiente combinação dos fatores de produção mede-se através da produtividade, o indicador económico que permite calcular o valor de produção gerada por cada unidade de fator utilizada. A alteração das características ao longo do tempo de um dos fatores de produção, capital ou trabalho vai alterar o equilíbrio dos fatores em jogo e condicionar a eficiência da combinação dos fatores de produção.

sábado, 11 de agosto de 2012

O Desafio do Século XXI


O envelhecimento da população e o decréscimo populacional constituem um dos grandes desafios do século XXI.
O aumento do número de idosos trará inúmeras consequências: pressão nos sistemas de saúde e segurança social, mudanças sociais profundas, cuidados de saúde acrescidos, solidão, pobreza, problemas económicos, exclusão social e cultural, entre outras. O grande desafio passará pela mudança das mentalidades. Perceber que os conhecimentos e valores dos mais velhos podem constituir uma enorme mais-valia. Teremos de saber respeitá-los, valorizá-los e proporcionar-lhes as melhores condições de vida, onde não caiba a solidão, o abandono e a tristeza.
O aumento da esperança média de vida é um bem, resultado das melhores condições sociais em que vivemos, dos progressos da tecnologia e da medicina. Trata-se de uma etapa normal da evolução humana que se funda num progresso considerável, no alongamento da vida e da sua qualidade, e que conduz a uma alteração do estado demográfico.
A existência de uma estrutura etária envelhecida não significa, assim, necessariamente uma evolução desvantajosa para a sociedade. A verdadeira razão de ser desvantajosa poderá estar na não adequação entre o curso dos factos demográficos e o modo dominante de organização social, levando a que as sociedades envelhecidas não aproveitem convenientemente o envelhecimento das suas estruturas etárias. Será necessário pensar uma economia mais competitiva e dinâmica do mundo, baseada no conhecimento, apta a um crescimento económico sustentado, com mais e melhores empregos e grande coesão social.

sábado, 4 de agosto de 2012

Envelhecimento Demográfico


Estamos a envelhecer no nosso Planeta, num processo sem precedentes na história da Humanidade.
O envelhecimento é um processo natural da vida, que começa a partir do momento da conceção no ventre da nossa mãe. Curiosamente parece que vivemos na ilusão de que nunca nos tornaremos velhos e quando a velhice chega, muitas vezes não estamos preparados.
“Hoje em dia, a mediana de idades no mundo é de 28 anos, o que significa que metade da população mundial está abaixo desta idade e a outra acima”. A Nigéria é o país com a população mais jovem, com uma mediana de idade de 15 anos. O mais velho é o Japão, onde este valor anda pelos 44 anos. Numa lista de 196 países, Portugal é o oitavo mais envelhecido, ocupando o 15º lugar na tabela das medianas mais altas (40,6 anos), o que nos leva a concluir que é nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento que o envelhecimento demográfico mais se faz notar.
Desde 1950 a Humanidade ganhou 20 anos, passando de um horizonte de vida de 48 anos de média mundial para 68 anos. Em Portugal a população residente continuará a aumentar até 2034, atingindo os 10.898,7 milhões de indivíduos e nos próximos 50 anos poderá continuar com cerca de 10 milhões de residentes, mantendo-se a tendência de envelhecimento demográfico, projetando-se que em 2060 residam no território nacional cerca de 3 idosos por cada jovem. Prevê-se que em 2060 residirão em Portugal 271 idosos por cada 100 jovens, mais do dobro do valor projetado em 2009 (116 idosos por cada 100 jovens).

sábado, 28 de julho de 2012

Proteção da saúde pública


A saúde é um bem diferente dos demais pois tem a ver com a qualidade e mesmo com a vida humana.
Portugal foi um dos países onde os ganhos em saúde foram maiores nos últimos 30 anos, estando entre os melhores do mundo. Estes progressos traduziram-se em ganhos na saúde pública como a diminuição da mortalidade infantil e o aumento da qualidade e esperança de vida.
Foi pela criação de um Serviço Nacional de Saúde, em que todos têm direito à proteção à saúde, universal e tendencialmente gratuita, que todos estes ganhos foram alcançados e que se traduzem numa conquista civilizacional.
Pode dizer-se que em Portugal se viveu até 1946 com a assistência, pública e particular, o mutualismo e o seguro social obrigatório surgido em 1935; de 1946 a 1976 coexistiu a assistência pública e o seguro social obrigatório; em 1976 a Constituição dita no seu Art.º 64º que todos os cidadãos têm o direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover; em 1979 é criado o Serviço Nacional de Saúde (Lei n.º 56/79 de 15 de Setembro) que predomina largamente; em 1990 é publicada uma reforma do S.N.S.
É a partir de 1974 que surgem as condições políticas e sociais que permitem um envolvimento do Estado na satisfação dos serviços sanitários, com mais profundidade com a criação do Serviço Nacional de Saúde em 1979.

sábado, 21 de julho de 2012

A anorexia e a bulimia


Todos nós comemos porque necessitamos de o fazer e nos dá prazer. O modo como nos alimentamos varia de pessoa para pessoa, umas comem mais, outras menos; algumas engordam com facilidade, outras não. A preocupação com o peso e a forma corporal leva as pessoas, cada vez mais, a iniciar dietas progressivas e selectivas, procurando evitar ao máximo alimentos de alto teor calórico. Este tipo de comportamento pode levar a distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia.
Embora seja aparentemente fácil distinguir, as pessoas (geralmente do sexo feminino) que sofrem destas duas perturbações alimentares têm por vezes sintomas comuns, acontecendo com frequência a bulimia desenvolver-se após um período de meses ou anos de sintomas anorécticos.

sábado, 14 de julho de 2012

Ciência médica


A ciência tem por objetivo gerar uma série de modelos da realidade, úteis porque podem fornecer explicações do ponto de vista teórico que contribuem para o desenvolvimento de técnicas e tecnologias que ajudem a resolver problemas.
Assim, é possível diferenciar a ciência médica básica, dirigida para um conhecimento sem um fim prático imediato, da ciência aplicada que pretende resolver problemas práticos.
A construção de um método científico torna possível o acesso ao conhecimento de maneira organizada e sistemática, tendo como objetivo encontrar as causas que expliquem os fenómenos, usando tanto a experimentação, quando é possível, como a lógica, definindo a partir daí as leis com que se procura explicar as causas dos fenómenos naturais e, em certos casos, prever o seu comportamento.
O método científico é a principal ferramenta para o desenvolvimento da ciência. É um procedimento para a obtenção de novo conhecimento, mas não de resultados definitivos, pois está sempre aberto à possibilidade de rejeição de hipóteses já demonstradas, porque a experimentação só permite assegurar a falsidade de uma hipótese, e não a sua verdade.

domingo, 8 de julho de 2012

A INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE


A qualidade de vida  tem sido cada vez mais alvo de estudo, reflexão e encarada numa perspectiva multidimensional: biológica, psicológica, económica e cultural, uma vez que depende destes fatores e é subjetiva. É frequentemente associada à saúde relativamente a determinadas patologias ou intervenções, de forma a indicar os efeitos que determinada medicação ou tratamento tem sobre a qualidade de vida dos pacientes a eles sujeitos, o que pressupõe um estudo prévio do seu nível de qualidade de vida, para ver se haverá ou não alterações, tornando-se oportuno investigar as causas subjacentes, prognóstico, intensidade, etc., caso surjam variações.
Os governos investem fundos em investigações, não com o objetivo de obter produtos que possam ser comercializáveis a curto prazo, mas para solucionar problemas de saúde pública e ampliar o conhecimento médico em geral.
No caso especifico da investigação em saúde, os objectivos gerais a alcançar podem ser resumidos no seguinte:
a)      ampliar o conhecimento dos processos biológicos e psicológicos das pessoas;
b)      ampliar o conhecimento entre as causas da doença, a prática da medicina e a organização da sociedade;
c)       desenvolver melhores técnicas de prevenção e controlo dos problemas de saúde;
d)      ampliar o conhecimento sobre os efeitos nocivos de certos factores ambientais na saúde;
e)      produção de aplicações para a saúde.
É com estes objetivos em mente que o investigador escolhe o tema da sua investigação, partindo dos problemas que se apresentem na sua especialidade.
Há correntes que defendem que, nas investigações, se deve ter em atenção não apenas os indicadores de mortalidade, mas também a qualidade de vida, os custos e o impacto económico e social.

sábado, 30 de junho de 2012

Adoção de cuidados básicos de saúde


Os exercícios físicos realizados de forma regular ou frequente estimulam o sistema imunológico, ajudam a prevenir doenças, moderam o colesterol, ajudam a prevenir a obesidade, melhoram a saúde mental e ajudam a prevenir a depressão, entre outras.
O exercício físico obriga a que o coração bombeie mais sangue, oxigenando as células, permitindo que estas realizem melhor as suas funções.
Tudo parece indicar que a prática desportiva não só treina os nossos músculos, mas também pode treinar o nosso cérebro.
Segundo diversos estudos, uma simples rotina diária durante três meses pode provocar o crescimento dos nossos neurónios em determinadas áreas do cérebro onde se concentram as funções relacionadas com a aprendizagem e a memória – o hipocampo.
O exercício vigoroso melhora a interligação dos neurónios existentes, de modo a que o cérebro funcione mais rápida e eficazmente.
A prática continuada de exercício pode não só atrasar o envelhecimento das funções mentais, como até invertê-lo.
As experiências efetuadas em animais – nomeadamente ratos e outros roedores – em que lhes foram induzidas doenças como o Alzheimer ou Parkinson, indicaram que o exercício físico pode ajudar a travar a deterioração mental associada a estas doenças.

sábado, 23 de junho de 2012

O que é arte

Pela arte o homem representa ou exprime a sua da realidade. A arte começa no momento em que o homem cria e, através dessa criação, procura representar ou exprimir a realidade do seu tempo, confiando-a a uma matéria mais estável e que perdure para além da sua memória. Ao produzir a sua obra, exprime o seu sentimento, a impressão daquilo que o influencia, que o comove.
Procura transmitir o seu mundo aos outros. Aquilo que transporta dentro de si, o mundo desconhecido: o que sente, imagina e sonha. Procura na sua obra projetar aquilo que encerra em si, a necessidade de uma harmonia, de uma maneira de pensar e sentir. E tenta transmitir este segredo em algo legível equivalente para ser decifrado pelos outros. A arte é alguma coisa que se transporta para a matéria e aí fica gravada, a expressão, o reflexo do mundo exterior ou do mundo interior, ou dos dois ao mesmo tempo. Tudo o que está no espírito toma forma, torna-se realidade visível e, pela arte, esta realidade visível, até então meramente física, adquire um sentido humano, adquire uma alma.
A obra de arte é o encontro de três partes: o mundo da realidade visível, o ponto de partida e no qual procura o seus materiais e exprime a sua sensibilidade; o mundo da plástica, das necessidades impostas pela matéria de que é feita e a forma como se faz; o mundo dos sentimentos e dos pensamentos que movem e emocionam o artista, o seu interior, e aos quais tenta dar corpo.

sábado, 16 de junho de 2012

Posicionamento face ao mundo e aos outros


Obediência, fuga ou afastamento face ao mundo, e revolta.
A obediência será à partida uma forma de nos mantermos sociáveis mas, como seres humanos, inventamos formas de sociedade diversas, temos ideais, iniciativas, paixões, ambições próprias, que podem divergir dos outros e originar conflitos, quer com o seu semelhante ou mesmo com grande parte dos membros da sociedade. Alguém disse que “uma sociedade sem conflitos não seria uma sociedade humana, mas um cemitério ou um museu de cera”. Uma sociedade viva, com espírito de colaboração e entre ajuda, tem forçosamente diversidade de ideias, de opiniões, e desse confronto nascem as soluções para a implementação de medidas inovadoras conducentes ao bem-estar geral. O unanimismo é a ausência de ideias e o caminho para o retrocesso. Quando isso não acontece, quando não há comunhão de ideais, surge a contestação e a revolta.

domingo, 10 de junho de 2012

O ESTADO PROVIDÊNCIA


Pode-se dizer que o Estado Providência e o Serviço Nacional de Saúde são contemporâneos.
De facto, em Portugal, até aos anos cinquenta, o esforço do Estado na assistência social, só ou em associação com outras entidades, era muito reduzido.
Foi a partir da década de setenta, nomeadamente a partir de 1974, que houve uma aceleração muito significativa da proteção social por parte do Estado, podendo afirmar-se a cobertura universal do Estado Providência na viragem do século.
No setor da saúde, o início da prestação de serviços às populações, embora de forma restrita, terá começado pelos anos sessenta, mas foi a partir da década de setenta que se foi alargando a prestação de cuidados de saúde às populações por parte do Estado, o que deu origem à criação do SNS, em Setembro de 1979.
Podemos pois afirmar que o Estado Providência e o Serviço Nacional de Saúde nasceram e cresceram em paralelo, e fazem parte de um todo: Educação, Saúde e Segurança Social.

sábado, 2 de junho de 2012

O absoluto da recusa


“A recusa do trabalho e da autoridade, ou, melhor, a recusa da servidão voluntária é o começo de uma política libertadora”.
A recusa da servidão, que não a recusa de servir porque, para vivermos em sociedade, precisamos de servir e ser servidos. Qualquer um de nós, de uma forma ou de outra, já sentiu o desejo de recusa face a injustiças no local de trabalho ou dos poderes políticos. Como forma de revolta, a recusa é absoluta, categórica. Não discute nem faz ouvir as suas razões. É uma forma pacífica e silenciosa de rejeitarmos o poder que nos subjuga. Uma forma de desagrado para com aqueles que nos dominam.
Este tipo de recusa é apenas o começo de uma política libertadora, mas em si própria vazia. É uma fuga em relação à autoridade e, quando encetada de forma solitária, individual, por mais nobres que sejam os nossos desígnios de rejeição de toda a sujeição, de nos afastarmos da relação de dominação, em termos políticos leva apenas à própria rejeição pela sociedade. Precisa de ser uma recusa sustentada. É necessário um projeto que vá para além da recusa, uma alternativa real. Para além da simples recusa, ou como parte da recusa, é necessário encontrar alternativas e, acima de tudo, uma nova comunidade. Um projeto que nos afaste da vida nua do homo tantum, o homem simples, e nos conduza ao homo homo, à humanidade elevada à segunda potência, valorizada pela inteligência coletiva e pelo amor da comunidade.

domingo, 27 de maio de 2012

O Mestre Ignorante - O Ensino Universal


Querer é poder. Todos os homens são capazes de compreender virtualmente o que os outros fizeram e compreenderam.
É possível aprender sozinho e sem mestre explicador quando se quer, seja pela contingência da situação ou pela tensão do próprio desejo.
Não é por certo o caminho mais célere para se chegar ao conhecimento, mas a inteligência com a qual aprendemos a língua materna, pela observação, retenção e repetição, verificando e relacionando as nossas buscas com o já conhecido, fazendo e refletindo, também nos pode levar a atingir aos nossos objetivos desde que para isso tenhamos vontade. E é também através da leitura, procurando compreender o que os textos dizem, interpretando e refletindo que podemos aumentar os nossos conhecimentos.
Por vezes será benéfico que o mestre se retire, deixe que a inteligência dos alunos enfrente a do livro, libertando as duas faculdades em jogo no ato de aprender: a inteligência e a vontade, estabelecendo entre o professor e o aluno uma relação de vontades que tem consequentemente uma relação livre da inteligência do aluno com a inteligência do livro, o vínculo intelectual igualitário entre o mestre e o aluno. Dispositivo que permite distinguir as várias categorias do ato pedagógico e definir o embrutecimento explicador, porque existe embrutecimento quando uma inteligência está subordinada a outra inteligência. No ato de ensinar e aprender, existem duas vontades e duas inteligências e chamaremos embrutecimento à sua coincidência. Porém, quando o aluno se liga à vontade do mestre e a uma inteligência, a do livro, a esta diferença conhecida e mantida das duas relações chamaremos emancipação, o ato de uma inteligência que não obedece senão a si própria, tornando possível aprender o que se ignora emancipando o aluno obrigando-o a usar a sua própria inteligência. A inteligência do mestre apenas se fará notar se for útil em si mesma. Para emancipar um ignorante é preciso e basta que este esteja consciente do verdadeiro poder do espírito humano, aprendendo sozinho o que o mestre ignora, se o mestre acreditar que pode e o obrigar a atualizar a sua capacidade: a relação homóloga do círculo da impotência que une o aluno a um professor do velho método, com uma relação de forças bem particular. O círculo da impotência está sempre presente, é o próprio movimento do mundo social dissimulado na diferença entre a ignorância e a ciência. O círculo da potência só pode ter efeito a partir da sua divulgação, ao aparecer como uma repetição ou um absurdo. “Os excluídos do mundo da inteligência subscrevem eles próprios o veredicto da sua própria exclusão. Resumindo, o círculo da emancipação deve ser começado”.

sábado, 19 de maio de 2012

Os movimentos dos «indignados»


Tudo parece indicar que os mercados estão sem resposta aos desafios que estão a surgir por todos os lados. Os movimentos dos “indignados” constituem um sinal, entre muitos outros, do mal-estar das populações.
As restrições impostas pela crise dos “mercados” financeiros fez emergir novas formas de cidadania, com os mais novos a retomar as bandeiras dos seus pais e a dar outro sentido à resistência ideológica, perante o esbracejar dos incensadores do sistema contra o movimento geral de protesto, alegando que o capitalismo encontra sempre novas formas de se renovar, não passando os seus argumentos de autolimitações de recurso. A verdade é que os sinais de crise são facilmente visíveis e negar ou contornar estes movimentos é tapar o sol com a peneira.
O movimento dos indignados surgiu em 2011 na Europa, nomeadamente em Espanha, e nos Estados Unidos, como uma lufada de ar fresco num mundo a cheirar a podre. Expuseram o que muitos pensam nas redes sociais e em acampamentos: que a crise é uma criação dos bancos com a conivência dos governos; que as populações sofrem com ela; que os políticos apenas se representam a si mesmos; que os meios de comunicação estão condicionados; que não existem vias para que o protesto social se traduza em verdadeiras mudanças, porque na política tudo está organizado, e bem, para que sejam sempre os mesmos a cobrar e os mesmos a ter de pagar.

sábado, 12 de maio de 2012

A não-violência como horizonte de convivência


A resistência passiva, foi comummente identificada durante algum tempo com a não-violência, deixando de ser usada progressivamente pois parecia acentuar em demasia uma atitude defensiva e reativa. Apesar das muitas ambiguidades do termo, começou a utilizar-se preferencialmente a noção de não-violência ativa, no sentido em que foi proposta e praticada, entre outros, por Mahtma Ghandi (1869-1948), que nela procurava a convivência entre a mensagem evangélica e as tradições religiosas hindus e budistas.
A doutrina da não-violência (Ahimsá), integra-se na Satyagraha, ou a doutrina de Adesão à Verdade, cujos três pilares são: a busca da verdade; a não-violência e a livre aceitação do sofrimento. Portanto, a não-violência ativa está ligada à procura da verdade e à aceitação do sofrimento que esta via comporta.
A melhor forma de desarmar o inimigo é ganhá-lo noutro plano, como semelhante, pela não-violência. Embora difícil, é uma proposta individualmente viável, mas quando a política é entendida como a manutenção das lógicas de dominação-submissão ao invés do fomento da liberdade e da responsabilidade, é social e politicamente de muito difícil aplicação. Mas é importante dizer que é possível, que tem probabilidades, que não é utopia.

sábado, 5 de maio de 2012

As revoltas nos subúrbios das grandes cidades e os “tute bianche”


É na periferia das grandes cidades, onde se situam normalmente as chamadas “zonas problemáticas”, para onde são «enxotados» os mais pobres, os excluídos, os marginalizados, causa e efeito da urbanização, da pressão demográfica e da diferenciação e desintegração social que acompanham o processo.
A inadaptabilidade às condições de trabalho devido a problemas de formação, a desorganização familiar, o desemprego, a falta de orientação educacional e ocupacional, os problemas étnicos e a rivalidade entre grupos marginais, são terreno fértil para a proliferação da droga, de atitudes comportamentais desviantes, para a frustração e a revolta.
Em Portugal, as cenas de violência de que há relatos referem-se a confrontos com as autoridades na sequência de realojamentos, protagonizados principalmente por indivíduos que à partida não tinham direito a serem realojados, confrontos entre grupos marginais rivais ou rixas entre etnias, como foi o caso do tiroteio ocorrido entre a comunidade cigana e africana, na Quinta da Fonte, freguesia da Apelação, Loures, em Julho de 2008. No entanto, sente-se a tensão, a pressão social, o mal-estar geral. A crise em que o país está mergulhado e o constante aumento do desemprego, poderão fazer com que o tradicional comportamento pacífico dos portugueses, este clima de paz podre, seja o fermento para o desencadear de cenas de violência desenfreada a que, Ans Magnus Enzensberger no seu ensaio de 1993 sobre a guerra civil, chamou «guerra civil molecular», algo semelhante aos acontecimentos que se verificaram nos subúrbios parisienses em Outubro de 2005.

sábado, 28 de abril de 2012

Debates e intervenção pública


O debate público é fundamental em democracia. Pode dizer-se que faz parte do dever cívico do cidadão intervir em debates, participando ativamente, apresentando as suas ideias, colocando dúvidas, levantando questões, para avaliar a validade dos argumentos das várias teses em disputa e sugerindo soluções para se chegar a uma conclusão informada.
O debate permite um escrutínio das questões de base por parte das populações, ficando estas mais informadas sobre os temas, podendo cada cidadão tomar decisões ou ter posições mais informadas em relação à questão ou questões em causa. Serve não apenas para tornar claras as diferenças das várias opções, mas também para se encontrarem os pontos comuns.
Em Portugal temos uma democracia representativa que se concretiza pela eleição regular dos nossos representantes em escrutínio universal e secreto, mas tal não impede que a tornemos mais participativa. Para que isso aconteça, é necessário termos uma sociedade civil ativa, organizada, que mobilize e incentive os cidadãos a participar na criação de alternativas conducentes à resolução dos problemas do coletivo.
A democracia deliberativa tem necessidade de justificar as decisões tomadas pelos cidadãos e pelos seus representantes, esperando-se que ambos justifiquem as leis que querem «impor» uns aos outros. Numa democracia, os líderes devem justificar as suas decisões e responder às razões que são apresentadas pelos cidadãos. As pessoas devem ser tratadas não como meros objetos das leis ou como sujeitos passivos da governação, mas como agentes autónomos que participam diretamente ou através dos seus representantes no governo da sua própria sociedade.

sábado, 21 de abril de 2012

Obedientes e revoltados


“O homem é um animal cívico, um animal político”, “somos bichos sociáveis, mas não instintiva e automaticamente sociais”.
Ao contrário das outras espécies animais, como seres humanos inventamos formas diversas de sociedade em que nascemos e que vamos transformando fazendo novas experiências de organização, ou seja, repetimos gestos e obedecemos às regras do grupo (como qualquer animal), contudo, se não estamos de acordo desobedecemos, revoltamo-nos, quebramos as rotinas e as normas estabelecidas. O ser humano é o único animal capaz de se amotinar.
Não o fazemos sistematicamente e é normalmente contrariados que obedecemos. Protestamos ao fazer o que os outros querem e é necessário que nos convençam, e muita das vezes nos obriguem, antes de acedermos a desempenhar o papel que nos atribuem na sociedade. Disse Kant que os humanos são “insociavelmente sociáveis”, não vivemos em sociedade apenas a obedecer e a repetir, mas também a revoltar-nos e a inventar.
Mas a nossa revolta não é contra a sociedade, mas contra uma determinada sociedade. Não pela simples razão de que não queremos obedecer a nada e a ninguém, mas porque queremos melhores razões, mais justas, por queremos ser governados por leis mais dignas de respeito. Somos “insociavelmente sociais”, mas não associais ou simplesmente antissociais.

sábado, 14 de abril de 2012

O envelhecimento demográfico



O envelhecimento não tem vindo a ser encarado sempre da mesma maneira ao longo dosséculos. O seu conceito tem sofrido grandes alterações na forma de ser percebida e sentida, variando estas de acordo com culturas e diferente evolução das comunidades. O envelhecer há 50 anos atrás não constituía um problema, sendo encarado como um fenómeno natural, na medida em que não só as pessoas que envelheciam não eram muitas, como o aproveitamento e imagem que a sociedade tinha da população que envelhece era diferente daquela que se tem hoje.
O mercado de trabalho competitivo, a sobrevivência, a falta de informação sobre educação e respeito ao idoso entre pais e filhos parecem justificar, em parte, o modelo familiar de hoje. Mesmo com a estrutura familiar “adoecida”, o idoso, em geral, não prefere morar só. A família é o núcleo por excelência no qual os idosos buscam apoio para sua vivência afetiva. O carinho e o respeito da família contribuem decisivamente para um final de vida feliz.
Contrariamente, verifica-se que é mais fácil criarem-se depósitos de idosos (lares, centros de dia...) do que propriamente se tentar encontrar outras soluções para se manterem os idosos junto das suas famílias, que, infelizmente, muitas vezes apenas os vêm como estorvo. E quantos idosos não vemos sentados sozinhos em bancos de jardins.
A sociedade moderna marginalizou "os velhos" dando prioridade a valores ligados à produtividade, rentabilidade, consumo excessivo, etc., face aos quais, as pessoas com 65 e mais anos não estão em condições de competir, pois até são considerados "pouco produtivos", votando-os ao esquecimento e solidão e, em consequência, à marginalização.

sábado, 7 de abril de 2012

O Homo Sacer atual


A figura do direito arcaico romano, o homo sacer (homem sagrado, no sentido negativo), que teve alguma aplicabilidade em condições históricas concretas, no mundo atual e em virtude da contínua perda de limites espácio-temporais do estado de exceção, tornou-nos a todos potenciais homines sacri (homens sagrados).
Ao longo da história do último século a figura do homo sacer reapareceu sob diversas formas: o refugiado, o indivíduo cuja vida é considerada indigna de ser vivida, os indivíduos e povos submetidos à eugenia e ao extermínio, o indivíduo no estado ultracomatoso e o neomorto e, por fim o indivíduo encarcerado num campo.
Ao refugiado, precisamente por estar destituído de cidadania, propriedade, profissão, mais não lhe deveriam restar senão os direitos associados à sua estrita condição de ser humano, o objeto e o sujeito essencial da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão mas, no sistema do Estado-nação, estes direitos, sagrados e inalienáveis, estão desprovidos de toda a tutela e realidade, na medida em que não é possível configurá-los como cidadãos de direito de um Estado. A partir da 1ª Guerra Mundial, com o aparecimento de novas nações, a relação nascimento-nação deixou de poder desempenhar a função de legitimação de cidadania, quebrando-se a continuidade entre natividade e nacionalidade que se acrescenta à distinção, ou mesmo oposição, entre homem e cidadão.
Ao longo do século passado até hoje o número de refugiados não tem parado de crescer, constituindo uma parte não negligenciável da humanidade, devendo assim ser considerado um conceito-limite ao colocar em causa as categorias fundamentais do Estado-nação, evidenciando a realidade do campo no novo modelo biopolítico.

sábado, 31 de março de 2012

O ASSOCIATIVISMO



O movimento associativo tem vindo a ganhar expansão, sendo considerado uma mais-valia no desenvolvimento da sociedade, refletindo o comportamento social dominante nas próprias comunidades, sendo visto como uma forma de juntar interesses comuns e defender pontos de vista de forma global.
Como expressão organizada da sociedade, apela à responsabilização e intervenção dos cidadãos em várias esferas da sociedade, constituindo um importante meio de exercer cidadania.
A sua importância decorre do facto de ser uma criação e realização viva e independente da sociedade, uma expressão da ação social das populações nas mais variadas áreas, uma expressão de liberdade e exemplo de vida democrática, uma escola viva de vida coletiva, de cooperação, de solidariedade, de generosidade, de independência, humanismo e cidadania, conciliando o valor coletivo e individual.