Pela arte o homem representa ou exprime a sua da
realidade. A arte começa no momento em que o homem cria e, através dessa
criação, procura representar ou exprimir a realidade do seu tempo, confiando-a
a uma matéria mais estável e que perdure para além da sua memória. Ao produzir
a sua obra, exprime o seu sentimento, a impressão daquilo que o influencia, que
o comove.
Procura transmitir o seu mundo aos outros. Aquilo que
transporta dentro de si, o mundo desconhecido: o que sente, imagina e sonha.
Procura na sua obra projetar aquilo que encerra em si, a necessidade de uma
harmonia, de uma maneira de pensar e sentir. E tenta transmitir este segredo em
algo legível equivalente para ser decifrado pelos outros. A arte é alguma coisa
que se transporta para a matéria e aí fica gravada, a expressão, o reflexo do
mundo exterior ou do mundo interior, ou dos dois ao mesmo tempo. Tudo o que
está no espírito toma forma, torna-se realidade visível e, pela arte, esta
realidade visível, até então meramente física, adquire um sentido humano,
adquire uma alma.
A obra de arte é o encontro de três partes: o mundo
da realidade visível, o ponto de partida e no qual procura o seus materiais e exprime
a sua sensibilidade; o mundo da plástica, das necessidades impostas pela
matéria de que é feita e a forma como se faz; o mundo dos sentimentos e dos
pensamentos que movem e emocionam o artista, o seu interior, e aos quais tenta
dar corpo.
A realidade exterior, o mundo visível, impõe-se ao
artista desde o início, dá-lhe mesmo, por vezes, o programa da sua obra: a
tarefa a desempenhar, o local e o espaço a utilizar, etc. mas, como se dirige
aos outros, precisa de uma linguagem, de se fazer entender para traduzir o que
só a ele pertence passando pelas palavras de todos, usa imagens reconhecíveis
que tira da natureza ou, como nas artes abstratas, faz-se entender por meias
palavras, ficando o entendimento mais difícil em benefício da plástica.
Mesmo quando o pintor quer estabelecer uma relação
fiel da natureza ao pintar um quadro, é obrigado a adaptá-lo às condições
deste: o quadro é plano enquanto a natureza é profunda e infinita e a beleza
que o artista aspira realizar virá, tanto do partido que souber tirar dos
materiais que utiliza como do espetáculo que representa através destes.
Mas a obra só é composta pela vontade, inteligência,
sensibilidade e pela mão do artista que apenas se serve da natureza e da obra
para transmitir qualquer coisa. Voluntariamente ou não, ele exprime-se, traduz
intenções conscientes, imaginações, algo que ele quer dizer, pressões
instintivas que surgem e que se exteriorizam irresistivelmente, que sugerem a
natureza profunda da sua alma. O artista é o intérprete da coletividade a que
pertence, da sua fé e do seu estado de civilização, é o intérprete da sua
natureza individual, dos seus sonhos.
Cada obra de arte é uma experiência de vida que se
transmite e, ao mesmo tempo, a sua leitura é a nossa experiência de viver. A
arte não existe para nós se não a recriarmos também. Recriamos a obra de arte
quando a vemos, a lemos, a ouvimos porque nos inserimos nela, e as palavras, as
imagens, libertam-se subitamente dentro de nós.
Uma obra de arte não é apenas a representação da
realidade como tal, nem no extremo oposto, um simples modelo abstrato de
pintura, de música, de escultura ou de palavras. A melhor obra de arte não é
apenas realista ou apenas abstrata. As grandes obras foram concebidas em períodos
onde não houve qualquer destes extremos. “A arte é uma experiência de vida que
partilhamos com o artista. (…) O artista cria a obra, mas o espetador
recria-a”.
A arte reproduz a sua contemporaneidade, como o
artista a vê e como nós a vemos.
É na vida povoada de seres e de coisas, regida por
ideias que o homem ama, sofre e goza, que se alegra e se comove. Por isso, a
arte nasce ligada à vida. Tudo faz parte da experiência humana e de tudo a arte
se alimenta: tanto do bem como do mal, do belo como do feio, do justo como do
injusto, do verdadeiro e do falso, do real e do ilusório ou ideal, da ação como
do pensamento, do debate das ideias de bem, de mal, de belo, de feio, de
justiça, de injustiça, de verdade, de erro, de ilusão, do que é a vida no
sofrimento e na alegria.
A arte não tem uma finalidade social, ideológica,
religiosa, moral ou política. A arte é para o artista um veículo expressivo na
qual exerce uma função; exprimir-se no mundo em que se inscreve e nele
intervém. Exprime a natureza humana enredada nos seus conflitos e que na obra
de arte reaparecem entre o que esta reflete das condições ambientais em que
nasce e as virtualidades do homem, através das circunstâncias paradoxais que o
suscitam e contrariam.
Através da arte, o artista exterioriza as suas
fantasias, encontra formas de compensar os seus desejos recalcados. A arte cria
a harmonia entre o real e o irreal. Ao produzir a sua obra, o artista como que
se afasta da sua realidade, liberta o seu inconsciente e dá asas à imaginação,
à fantasia, mas, conciliando o seu mundo fantasmático com a realidade, vai
dando aos seus fantasmas a forma de coisas reais.
Mas o imaginário, a fantasia, não são domínio
exclusivo do artista mas da humanidade e todos nós procuramos no sonho, no imaginário,
alguma compensação e consolo para os nossos recalcamentos e a arte dá-nos isso,
embora nem todos consigamos desfrutar dela em pleno.
O artista tem o poder de modelar determinados
materiais até os tornar na imagem fiel da representação existente na sua fantasia
e o de ligar essa representação inconsciente a uma quantidade de prazer capaz
de mascarar os recalcamentos, de dar aos seus sonhos acordados uma tal forma e
beleza que estes perdem todo o seu carácter pessoal, para se converterem numa
fonte de prazer para os outros.
Quando o artista consegue realizar tudo isto, fornece
aos outros o meio de alcançarem novo alívio e consolo nas fontes de prazer do
próprio inconsciente e, aí, a arte torna-se purificadora.
A arte é uma
forma particular de interpretar a realidade e a sua envolvente. Procura
refletir a cultura duma sociedade dessa época. Interage com a
cultura da sociedade na época em que é concebida, tentando interpretar os seus
problemas e os seus valores fazendo dessa forma uma crítica social.
A arte é uma atividade de criação humana ligada a
manifestações de ordem estética (beleza, revolta, harmonia, equilíbrio) concebida
por artistas a partir da sua perceção de emoções, sentimentos, ideias e
contexto atual, com o objetivo de estimular e comunicar com um ou mais
espectadores.
Cada obra de arte é uma experiência de vida que se
transmite e na sua leitura reflete-se a nossa experiência de viver. A arte não
existe se não a soubermos recriar também. Perante um quadro, um livro, uma peça
musical ou uma peça de teatro, cada um de nós tem a sua interpretação, a sua
leitura, que está de acordo com a sua fantasia ou o seu sonho, a sua emoção, o
seu sentimento, a sua cultura, com a sua experiência de vida, com o seu estado
de espírito, com a forma como penetramos na obra, como as palavras, as imagens
ou os sons se libertam dentro de nós.
Na criação da obra de arte, o artista é levado a
projetar o seu mundo, aquilo que transporta dentro de si, os seus sonhos, as
suas emoções, os seus sentimentos, os seus ideais, as suas ambições, a sua
sensibilidade, o seu estado de espírito coincidente com a realidade do seu
tempo.
A arte transmite uma mensagem ou mensagens que o espetador
capta e descodifica à sua maneira dando à obra a sua própria interpretação de
acordo com o seu contexto pessoal. Ninguém se comove com as mesmas passagens e
cada passagem tem necessariamente uma leitura diferente para cada um.
A arte é comunicação de algo sob a forma de uma
“linguagem” especial falada e compreendida por muitas pessoas diferentes,
substitui coisas por sinais, mas não utiliza um sinal especial para cada
impressão ou ideia, mas uma espécie de dicionário, no qual existe muitas vezes
uma única expressão para vários conceitos diferentes. E cada artista tem o seu
dicionário próprio e emprega os seus próprios meios de representação sempre que
algo tiver de ser representado.
Para as diferentes artes há variações de forma
convencionais que limitam e oferecem resistência aos esforços naturalistas do
artista individual. Na pintura, estas formas surgem da superfície bidimensional
na qual o artista tem de dar uma impressão de espaço e de consistência; no
teatro derivam do tempo limitado e do espaço restrito do palco, dentro do qual
toda a ação com um certo número de episódios, um enredo tem de ser
representado; no cinema onde a tarefa mais importante do autor e realizador é
traduzir o enredo para formas não-linguísticas, onde as falas são
necessariamente breves ou estão ausentes; no romance quando o romancista se
esforça por acumular e resolver dentro dos limites de um só dia todas as
impressões, sensações, emoções registadas, sentidas, experimentadas e vividas
por uma mesma personagem.
Desde os tempos pré-históricos que o homem procurou
comunicar os seus sentimentos, as angústias, as frustrações, as alegrias e
tristezas, os mitos, as crenças. E fazia-o através da escultura ou da pintura
tentando preservar algo que sentiu, que o comoveu. É através da arte que o
homem melhor se exprime, se compreende e se realiza. A arte nasce ligada à
vida, faz parte da experiência humana e de tudo a arte se alimenta: do bem e do
mal, do belo e do feio, do justo e do injusto, do verdadeiro e do falso, do
real e do ilusório ou ideal, da ação, do pensamento, do debate das ideias, do
que é a vida no sofrimento e na alegria.
Todos nós, consciente ou inconscientemente
participamos nela, quer através da criação quer da sua contemplação. A arte é
uma forma de linguagem que cada um interpreta à sua maneira. Pelas mais
diversas formas ela chega a todas as classes e o que é sublime para uns, pode
não o ser para outros e vice-versa. Não há arte sem homem e não haverá homem
sem arte. É a arte que “permite um eterno intercâmbio entre nós e o que nos
cerca. Uma espécie de respiração da alma, análoga à respiração física, sem a
qual o nosso corpo não pode passar”.
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