sábado, 23 de junho de 2012

O que é arte

Pela arte o homem representa ou exprime a sua da realidade. A arte começa no momento em que o homem cria e, através dessa criação, procura representar ou exprimir a realidade do seu tempo, confiando-a a uma matéria mais estável e que perdure para além da sua memória. Ao produzir a sua obra, exprime o seu sentimento, a impressão daquilo que o influencia, que o comove.
Procura transmitir o seu mundo aos outros. Aquilo que transporta dentro de si, o mundo desconhecido: o que sente, imagina e sonha. Procura na sua obra projetar aquilo que encerra em si, a necessidade de uma harmonia, de uma maneira de pensar e sentir. E tenta transmitir este segredo em algo legível equivalente para ser decifrado pelos outros. A arte é alguma coisa que se transporta para a matéria e aí fica gravada, a expressão, o reflexo do mundo exterior ou do mundo interior, ou dos dois ao mesmo tempo. Tudo o que está no espírito toma forma, torna-se realidade visível e, pela arte, esta realidade visível, até então meramente física, adquire um sentido humano, adquire uma alma.
A obra de arte é o encontro de três partes: o mundo da realidade visível, o ponto de partida e no qual procura o seus materiais e exprime a sua sensibilidade; o mundo da plástica, das necessidades impostas pela matéria de que é feita e a forma como se faz; o mundo dos sentimentos e dos pensamentos que movem e emocionam o artista, o seu interior, e aos quais tenta dar corpo.
A realidade exterior, o mundo visível, impõe-se ao artista desde o início, dá-lhe mesmo, por vezes, o programa da sua obra: a tarefa a desempenhar, o local e o espaço a utilizar, etc. mas, como se dirige aos outros, precisa de uma linguagem, de se fazer entender para traduzir o que só a ele pertence passando pelas palavras de todos, usa imagens reconhecíveis que tira da natureza ou, como nas artes abstratas, faz-se entender por meias palavras, ficando o entendimento mais difícil em benefício da plástica.
Mesmo quando o pintor quer estabelecer uma relação fiel da natureza ao pintar um quadro, é obrigado a adaptá-lo às condições deste: o quadro é plano enquanto a natureza é profunda e infinita e a beleza que o artista aspira realizar virá, tanto do partido que souber tirar dos materiais que utiliza como do espetáculo que representa através destes.
Mas a obra só é composta pela vontade, inteligência, sensibilidade e pela mão do artista que apenas se serve da natureza e da obra para transmitir qualquer coisa. Voluntariamente ou não, ele exprime-se, traduz intenções conscientes, imaginações, algo que ele quer dizer, pressões instintivas que surgem e que se exteriorizam irresistivelmente, que sugerem a natureza profunda da sua alma. O artista é o intérprete da coletividade a que pertence, da sua fé e do seu estado de civilização, é o intérprete da sua natureza individual, dos seus sonhos.
Cada obra de arte é uma experiência de vida que se transmite e, ao mesmo tempo, a sua leitura é a nossa experiência de viver. A arte não existe para nós se não a recriarmos também. Recriamos a obra de arte quando a vemos, a lemos, a ouvimos porque nos inserimos nela, e as palavras, as imagens, libertam-se subitamente dentro de nós.
Uma obra de arte não é apenas a representação da realidade como tal, nem no extremo oposto, um simples modelo abstrato de pintura, de música, de escultura ou de palavras. A melhor obra de arte não é apenas realista ou apenas abstrata. As grandes obras foram concebidas em períodos onde não houve qualquer destes extremos. “A arte é uma experiência de vida que partilhamos com o artista. (…) O artista cria a obra, mas o espetador recria-a”.
A arte reproduz a sua contemporaneidade, como o artista a vê e como nós a vemos.
É na vida povoada de seres e de coisas, regida por ideias que o homem ama, sofre e goza, que se alegra e se comove. Por isso, a arte nasce ligada à vida. Tudo faz parte da experiência humana e de tudo a arte se alimenta: tanto do bem como do mal, do belo como do feio, do justo como do injusto, do verdadeiro e do falso, do real e do ilusório ou ideal, da ação como do pensamento, do debate das ideias de bem, de mal, de belo, de feio, de justiça, de injustiça, de verdade, de erro, de ilusão, do que é a vida no sofrimento e na alegria.
A arte não tem uma finalidade social, ideológica, religiosa, moral ou política. A arte é para o artista um veículo expressivo na qual exerce uma função; exprimir-se no mundo em que se inscreve e nele intervém. Exprime a natureza humana enredada nos seus conflitos e que na obra de arte reaparecem entre o que esta reflete das condições ambientais em que nasce e as virtualidades do homem, através das circunstâncias paradoxais que o suscitam e contrariam.
Através da arte, o artista exterioriza as suas fantasias, encontra formas de compensar os seus desejos recalcados. A arte cria a harmonia entre o real e o irreal. Ao produzir a sua obra, o artista como que se afasta da sua realidade, liberta o seu inconsciente e dá asas à imaginação, à fantasia, mas, conciliando o seu mundo fantasmático com a realidade, vai dando aos seus fantasmas a forma de coisas reais.
Mas o imaginário, a fantasia, não são domínio exclusivo do artista mas da humanidade e todos nós procuramos no sonho, no imaginário, alguma compensação e consolo para os nossos recalcamentos e a arte dá-nos isso, embora nem todos consigamos desfrutar dela em pleno.
O artista tem o poder de modelar determinados materiais até os tornar na imagem fiel da representação existente na sua fantasia e o de ligar essa representação inconsciente a uma quantidade de prazer capaz de mascarar os recalcamentos, de dar aos seus sonhos acordados uma tal forma e beleza que estes perdem todo o seu carácter pessoal, para se converterem numa fonte de prazer para os outros.
Quando o artista consegue realizar tudo isto, fornece aos outros o meio de alcançarem novo alívio e consolo nas fontes de prazer do próprio inconsciente e, aí, a arte torna-se purificadora.
A arte é uma forma particular de interpretar a realidade e a sua envolvente. Procura refletir a cultura duma sociedade dessa época. Interage com a cultura da sociedade na época em que é concebida, tentando interpretar os seus problemas e os seus valores fazendo dessa forma uma crítica social.
A arte é uma atividade de criação humana ligada a manifestações de ordem estética (beleza, revolta, harmonia, equilíbrio) concebida por artistas a partir da sua perceção de emoções, sentimentos, ideias e contexto atual, com o objetivo de estimular e comunicar com um ou mais espectadores.
Cada obra de arte é uma experiência de vida que se transmite e na sua leitura reflete-se a nossa experiência de viver. A arte não existe se não a soubermos recriar também. Perante um quadro, um livro, uma peça musical ou uma peça de teatro, cada um de nós tem a sua interpretação, a sua leitura, que está de acordo com a sua fantasia ou o seu sonho, a sua emoção, o seu sentimento, a sua cultura, com a sua experiência de vida, com o seu estado de espírito, com a forma como penetramos na obra, como as palavras, as imagens ou os sons se libertam dentro de nós.
Na criação da obra de arte, o artista é levado a projetar o seu mundo, aquilo que transporta dentro de si, os seus sonhos, as suas emoções, os seus sentimentos, os seus ideais, as suas ambições, a sua sensibilidade, o seu estado de espírito coincidente com a realidade do seu tempo.
A arte transmite uma mensagem ou mensagens que o espetador capta e descodifica à sua maneira dando à obra a sua própria interpretação de acordo com o seu contexto pessoal. Ninguém se comove com as mesmas passagens e cada passagem tem necessariamente uma leitura diferente para cada um.
A arte é comunicação de algo sob a forma de uma “linguagem” especial falada e compreendida por muitas pessoas diferentes, substitui coisas por sinais, mas não utiliza um sinal especial para cada impressão ou ideia, mas uma espécie de dicionário, no qual existe muitas vezes uma única expressão para vários conceitos diferentes. E cada artista tem o seu dicionário próprio e emprega os seus próprios meios de representação sempre que algo tiver de ser representado.
Para as diferentes artes há variações de forma convencionais que limitam e oferecem resistência aos esforços naturalistas do artista individual. Na pintura, estas formas surgem da superfície bidimensional na qual o artista tem de dar uma impressão de espaço e de consistência; no teatro derivam do tempo limitado e do espaço restrito do palco, dentro do qual toda a ação com um certo número de episódios, um enredo tem de ser representado; no cinema onde a tarefa mais importante do autor e realizador é traduzir o enredo para formas não-linguísticas, onde as falas são necessariamente breves ou estão ausentes; no romance quando o romancista se esforça por acumular e resolver dentro dos limites de um só dia todas as impressões, sensações, emoções registadas, sentidas, experimentadas e vividas por uma mesma personagem.
Desde os tempos pré-históricos que o homem procurou comunicar os seus sentimentos, as angústias, as frustrações, as alegrias e tristezas, os mitos, as crenças. E fazia-o através da escultura ou da pintura tentando preservar algo que sentiu, que o comoveu. É através da arte que o homem melhor se exprime, se compreende e se realiza. A arte nasce ligada à vida, faz parte da experiência humana e de tudo a arte se alimenta: do bem e do mal, do belo e do feio, do justo e do injusto, do verdadeiro e do falso, do real e do ilusório ou ideal, da ação, do pensamento, do debate das ideias, do que é a vida no sofrimento e na alegria.
Todos nós, consciente ou inconscientemente participamos nela, quer através da criação quer da sua contemplação. A arte é uma forma de linguagem que cada um interpreta à sua maneira. Pelas mais diversas formas ela chega a todas as classes e o que é sublime para uns, pode não o ser para outros e vice-versa. Não há arte sem homem e não haverá homem sem arte. É a arte que “permite um eterno intercâmbio entre nós e o que nos cerca. Uma espécie de respiração da alma, análoga à respiração física, sem a qual o nosso corpo não pode passar”.

Sem comentários:

Enviar um comentário