sábado, 2 de junho de 2012

O absoluto da recusa


“A recusa do trabalho e da autoridade, ou, melhor, a recusa da servidão voluntária é o começo de uma política libertadora”.
A recusa da servidão, que não a recusa de servir porque, para vivermos em sociedade, precisamos de servir e ser servidos. Qualquer um de nós, de uma forma ou de outra, já sentiu o desejo de recusa face a injustiças no local de trabalho ou dos poderes políticos. Como forma de revolta, a recusa é absoluta, categórica. Não discute nem faz ouvir as suas razões. É uma forma pacífica e silenciosa de rejeitarmos o poder que nos subjuga. Uma forma de desagrado para com aqueles que nos dominam.
Este tipo de recusa é apenas o começo de uma política libertadora, mas em si própria vazia. É uma fuga em relação à autoridade e, quando encetada de forma solitária, individual, por mais nobres que sejam os nossos desígnios de rejeição de toda a sujeição, de nos afastarmos da relação de dominação, em termos políticos leva apenas à própria rejeição pela sociedade. Precisa de ser uma recusa sustentada. É necessário um projeto que vá para além da recusa, uma alternativa real. Para além da simples recusa, ou como parte da recusa, é necessário encontrar alternativas e, acima de tudo, uma nova comunidade. Um projeto que nos afaste da vida nua do homo tantum, o homem simples, e nos conduza ao homo homo, à humanidade elevada à segunda potência, valorizada pela inteligência coletiva e pelo amor da comunidade.
Nem todas as formas de violência poderão ser consideradas como más. Há aspetos intoleráveis em que somos forçados a recorrer à violência para terminar com situações injustas. Considerar toda a violência como má é procurar esconder precisamente as injustiças praticadas na sociedade.
Por sua vez não é fácil ser-se violento. Atuar para que se altere o modelo de vida social vigente, para o bem ou para o mal, exige ousadia e coragem para enfrentar a rejeição por parte de quem se sinta injustiçado ou privado dos seus direitos.
Porém, há uma relação estreita entre a violência subjetiva, a violência gratuita, e a violência sistémica, a violência instalada no próprio funcionamento da sociedade, que não é exclusiva de certos atos, mas que pode aparecer como violento ou não segundo o seu contexto. Uma ação meritória pode originar efeitos completamente contrários. Por vezes o entorpecimento de um sistema, a sua simples reprodução sem transformações, requer uma tal mudança que o primeiro gesto para provocar uma transformação é abandonar a atividade, não fazer nada. Por vezes é preferível não agir.

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