“A recusa do
trabalho e da autoridade, ou, melhor, a recusa da servidão voluntária é o
começo de uma política libertadora”.
A recusa da
servidão, que não a recusa de servir porque, para vivermos em sociedade,
precisamos de servir e ser servidos. Qualquer um de nós, de uma forma ou de
outra, já sentiu o desejo de recusa face a injustiças no local de trabalho ou
dos poderes políticos. Como forma de revolta, a recusa é absoluta, categórica.
Não discute nem faz ouvir as suas razões. É uma forma pacífica e silenciosa de
rejeitarmos o poder que nos subjuga. Uma forma de desagrado para com aqueles
que nos dominam.
Este tipo de
recusa é apenas o começo de uma política libertadora, mas em si própria vazia.
É uma fuga em relação à autoridade e, quando encetada de forma solitária,
individual, por mais nobres que sejam os nossos desígnios de rejeição de toda a
sujeição, de nos afastarmos da relação de dominação, em termos políticos leva
apenas à própria rejeição pela sociedade. Precisa de ser uma recusa sustentada.
É necessário um projeto que vá para além da recusa, uma alternativa real. Para
além da simples recusa, ou como parte da recusa, é necessário encontrar
alternativas e, acima de tudo, uma nova comunidade. Um projeto que nos afaste
da vida nua do homo tantum, o homem simples, e nos conduza ao homo homo, à humanidade elevada à segunda potência, valorizada pela
inteligência coletiva e pelo amor da comunidade.
Nem todas as
formas de violência poderão ser consideradas como más. Há aspetos intoleráveis
em que somos forçados a recorrer à violência para terminar com situações
injustas. Considerar toda a violência como má é procurar esconder precisamente
as injustiças praticadas na sociedade.
Por sua vez não
é fácil ser-se violento. Atuar para que se altere o modelo de vida social
vigente, para o bem ou para o mal, exige ousadia e coragem para enfrentar a
rejeição por parte de quem se sinta injustiçado ou privado dos seus direitos.
Porém, há uma
relação estreita entre a violência subjetiva, a violência gratuita, e a
violência sistémica, a violência instalada no próprio funcionamento da
sociedade, que não é exclusiva de certos atos, mas que pode aparecer como
violento ou não segundo o seu contexto. Uma ação meritória pode originar
efeitos completamente contrários. Por vezes o entorpecimento de um sistema, a
sua simples reprodução sem transformações, requer uma tal mudança que o primeiro gesto para provocar uma transformação é abandonar
a atividade, não fazer nada. Por vezes é preferível não agir.
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