sábado, 16 de junho de 2012

Posicionamento face ao mundo e aos outros


Obediência, fuga ou afastamento face ao mundo, e revolta.
A obediência será à partida uma forma de nos mantermos sociáveis mas, como seres humanos, inventamos formas de sociedade diversas, temos ideais, iniciativas, paixões, ambições próprias, que podem divergir dos outros e originar conflitos, quer com o seu semelhante ou mesmo com grande parte dos membros da sociedade. Alguém disse que “uma sociedade sem conflitos não seria uma sociedade humana, mas um cemitério ou um museu de cera”. Uma sociedade viva, com espírito de colaboração e entre ajuda, tem forçosamente diversidade de ideias, de opiniões, e desse confronto nascem as soluções para a implementação de medidas inovadoras conducentes ao bem-estar geral. O unanimismo é a ausência de ideias e o caminho para o retrocesso. Quando isso não acontece, quando não há comunhão de ideais, surge a contestação e a revolta.
A fuga ou o afastamento face ao mundo aparenta ser uma estratégia de obediência e resignação, mas é ao mesmo tempo uma estratégia de revolta fria e contida, quando não dirigida contra nós próprios. É uma forma de recusa do estado das coisas mas ao mesmo tempo uma ausência de ação. A descrença na sociedade e nos seus valores.
A revolta surge como a forma de contestar injustiças, arbitrariedades, reivindicar direitos e liberdades, denunciar abusos, libertação colonialista, soberania, independência, de lutar pelo bem-estar da sociedade, por aquilo que achamos que é justo e nos está a ser negado.
A história está repleta de episódios sobre as lutas dos povos, quer pelos mais elementares direitos de sobrevivência, quer pelo seu direito à liberdade, independência e autonomia, passando pelos não menos nobres direitos de toda a sociedade que são a liberdade, a saúde, a educação, a justiça, etc., ou seja, o progresso e o bem-estar.
Ao longo dos tempos as revoltas têm-se manifestado de forma violenta e não-violenta. A forma violenta pode ser gratuita, subjetiva, recorrendo a atos de vandalismo e destruição de bens patrimoniais públicos e privados, agressões físicas podendo até causar mortes e que, embora possa ter na sua génese causas justas, acaba por ser deslegitimada e repudiada pela sociedade. Porém, há aspetos em que a revolta violenta é o único meio de acabar com agente opressor que subjuga ou a ela se tem de recorrer em legítima defesa contra a repressão do poder instituído, e, nestes casos, a violência é libertadora, opera a transformação das formas de vida, é uma violência emancipatória.
A revolta não-violenta pode ser definida por formal e informal. A não-violência como prática continuada é uma atitude muito difícil e, em situações limite, parece não deixar alternativa perante os nossos deveres de proteção dos outros. Mas é importante dizer que é possível, que tem probabilidades, que não é utopia.
A não-violência informal, durante muito tempo identificada como resistência passiva, apesar das ambiguidades do termo, passou a utilizar-se a noção de não-violência ativa.
Esta forma contestatária já provou a sua eficácia como no caso da libertação da Índia (Mahtma Ghandi, 1869-1948) e o reconhecimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos (M. Luther King 1929-1968). Individualmente, mas sem dúvida socialmente, esta prática deve ser sempre uma procura pela justiça. Não pode haver paz sem justiça, se a causa não for justa. Independentemente dos pontos de vista em jogo, se não houver uma razão, esta forma de pressão é uma fraude e pode ser perigosa levando ao descrédito os meios não-violentos de resolução de conflitos.
A não-violência formal tem a ver com participação pacífica dos cidadãos na vida democrática, quer seja pela militância nas organizações políticas da democracia, quer seja pela manifestação das suas decisões através do voto.
Disse um dia Wiston Churchil (1874-1965) que “A democracia é o pior dos regimes políticos… excetuando todos os outros”. Se não há regimes perfeitos, há pelo menos um que pela sua própria natureza procura a justiça, tendo por base o respeito pela vontade do povo e que por isso se designa democracia. Com base nestes pressupostos é o povo que em última instância através do voto pode e deve manifestar a sua revolta rejeitando a forma como está a ser governado. A menos que o poder já não se submeta à vontade popular, e então, a revolta violenta, mas não gratuita, poderá ser o meio mais eficaz de repor a honra, a verdade e a dignidade do povo.

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