Tudo parece indicar que os mercados estão sem resposta aos desafios que
estão a surgir por todos os lados. Os movimentos dos “indignados” constituem um
sinal, entre muitos outros, do mal-estar das populações.
As restrições impostas pela crise dos “mercados” financeiros fez emergir
novas formas de cidadania, com os mais novos a retomar as bandeiras dos seus
pais e a dar outro sentido à resistência ideológica, perante o esbracejar dos
incensadores do sistema contra o movimento geral de protesto, alegando que o
capitalismo encontra sempre novas formas de se renovar, não passando os seus
argumentos de autolimitações de recurso. A verdade é que os sinais de crise são
facilmente visíveis e negar ou contornar estes movimentos é tapar o sol com a
peneira.
O movimento dos indignados surgiu em 2011 na Europa, nomeadamente em
Espanha, e nos Estados Unidos, como uma lufada de ar fresco num mundo a cheirar
a podre. Expuseram o que muitos pensam nas redes sociais e em acampamentos: que
a crise é uma criação dos bancos com a conivência dos governos; que as
populações sofrem com ela; que os políticos apenas se representam a si mesmos;
que os meios de comunicação estão condicionados; que não existem vias para que
o protesto social se traduza em verdadeiras mudanças, porque na política tudo
está organizado, e bem, para que sejam sempre os mesmos a cobrar e os mesmos a
ter de pagar.
Durante meses, dezenas de milhares de pessoas participaram em
assembleias e manifestações de forma pacífica, exceto a violência resultante
das ações excessivas da polícia.
O tema central era “democracia já”, uma outra democracia, bem diferente
desta a que estamos habituados, que é mais uma farsa que realidade. Uma
democracia construída vinda de baixo, articulada com o povo, transparente nos
seus procedimentos e não mais corroída pela corrupção, caracterizada por
vincular justiça social com justiça ecológica.
“Os indignados” emergiram inorganicamente, à margem dos partidos e das
organizações sindicais, pela razão simples de que não se sentem representados
nem defendidos. Este tipo de iniciativas pode fazer despertar os nossos
adormecimentos e as nossas indiferenças e por em causa as origens dos poderes
que dominam os valores morais e nos causam desgraça, infelicidade e medo.
Um ano passou e é preciso, é urgente, que de «indignados» não passemos
rapidamente a «indiferentes».
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