O envelhecimento não tem vindo a ser encarado sempre
da mesma maneira ao longo dosséculos. O seu conceito tem sofrido grandes
alterações na forma de ser percebida e sentida, variando estas de acordo com
culturas e diferente evolução das comunidades. O envelhecer há 50 anos atrás
não constituía um problema, sendo encarado como um fenómeno natural, na medida
em que não só as pessoas que envelheciam não eram muitas, como o aproveitamento
e imagem que a sociedade tinha da população que envelhece era diferente daquela
que se tem hoje.
O
mercado de trabalho competitivo, a sobrevivência, a falta de informação sobre
educação e respeito ao idoso entre pais e filhos parecem justificar, em parte,
o modelo familiar de hoje. Mesmo com a estrutura familiar “adoecida”, o idoso,
em geral, não prefere morar só. A família é o núcleo por excelência no qual os
idosos buscam apoio para sua vivência afetiva. O carinho e o respeito da
família contribuem decisivamente para um final de vida feliz.
Contrariamente,
verifica-se que é mais fácil criarem-se depósitos de idosos (lares, centros de
dia...) do que propriamente se tentar encontrar outras soluções para se
manterem os idosos junto das suas famílias, que, infelizmente, muitas vezes
apenas os vêm como estorvo. E quantos idosos não vemos sentados sozinhos em
bancos de jardins.
A sociedade moderna marginalizou "os
velhos" dando prioridade a valores ligados à produtividade, rentabilidade,
consumo excessivo, etc., face aos quais, as pessoas com 65 e mais anos não
estão em condições de competir, pois até são considerados "pouco
produtivos", votando-os ao esquecimento e solidão e, em consequência, à
marginalização.
No entanto, e apesar das diferenças conjeturais, a
atitude social generalizada é a de tratar os velhos com atitudes paternalistas,
retirando-lhes a sua qualidade de interlocutores válidos e desrespeitando a sua
individualidade.
Para
além desta atitude estigmatizadora e dirigista surge a reforma, que se revela
como o mecanismo que marca o afastamento do indivíduo do seu ritmo de trabalho
de uma forma brusca quando atinge 65 anos, separando o idoso do mundo laboral,
num grande número de casos, em condições que não lhe concedem o mínimo
indispensável para garantir uma vivência com qualidade de vida, dignificante e,
ou mesmo, um fim digno.
Mercê de progressivas alterações, mutações sociais e
reformas, começaram a surgir não só os problemas relacionados com a
"inatividade pensionada", pagando a pessoas com determinada idade para
ficarem inativas, o que lhes assegura algum bem-estar económico, mas cujos custos
se refletem na população ativa, como também começaram a surgir problemas
sociais, nomeadamente os de rejeição, afastamento, internamento,
residencialismo, "gaiola dourada" ou hotelaria de luxo para idosos,
com as consequências que daí advêm, tanto na imagem que a sociedade tem dos
idosos, como na forma como vai sendo progressivamente construída a categoria
social da velhice.
Esta
problemática é ainda mais potencializada nas sociedades modernas pela mudança
conceptual e estrutural de família. Anteriormente, as famílias, como núcleos
fundamentais de produção, não afastavam "o ancião" do trabalho,
adotando este novas tarefas e novos papéis, permanecendo ativo e útil.
Atualmente, apenas nos meios rurais ainda são visíveis alguns sinais deste sistema,
onde o idoso, apesar de receber a sua reforma, mantém algum nível de atividade
similar à que desempenhava durante a sua vida.
A
realidade urbana (em muitos casos), mostra-nos que a reforma constitui um
trauma em vez de libertação, já que a inatividade a que são votados provoca
sentimentos de inutilidade e a diminuição do poder económico frequentemente os
obriga a viver dependentes dos seus familiares.
Também
a família tradicional, o clã em que avós, pais, filhos e netos se
congregavam na mesma, casa se alterou. A família, entendida como o mais
marcante espaço de realização, desenvolvimento e consolidação, nuclearizou-se
tornando incompatível a coabitação dos mais novos com os mais velhos e, por
isso, surgem as instituições vocacionadas para acolhimento dos idosos.
Adicionalmente,
acentua-se o desequilíbrio entre homens e mulheres, devido ao forte aumento de
longevidade feminina em relação à masculina, por um lado; por outro, o
aparecimento da designada "Quarta Idade", a partir dos 85 anos
aproximadamente, com grandes implicações, tanto no baixo rendimento económico
auferido pela população idosa feminina, como na crescente vulnerabilidade e
consequente necessidade de cuidados de saúde.
Em jeito de resumo podemos dizer que o desafio que o
envelhecimento demográfico atual representa para as sociedades poderá
globalmente ser analisado segundo as seguintes dimensões:
·
Relativo declínio da população ativa e envelhecimento
da mão-de-obra;
·
Pressão sobre os regimes de pensão e as finanças
públicas, provocada pelo número crescente de reformados e pela diminuição da
população em idade ativa;
·
Necessidade crescente de cuidados de saúde e
assistência a pessoas idosas;
·
Diversidade dos recursos e das necessidades dos
idosos;
·
Inatividade abrupta que cria sentimentos de
inutilidade, rejeição e afastamento.
A
saúde das pessoas é um processo, não é um estado fixo, e o processo de envelhecimento
deve ser encarado de uma forma natural. Face a esta realidade, as sociedades
vão tentando encontrar formas de gerir estas alterações demográficas, criando
redes de suporte formais e informais de apoio aos idosos.
A rede
de suporte formal é composta de organismos de ajuda governamentais, e é
constituída por várias instituições (Centros de Dia, Hospitais de Dia, Lares,
Centros de Convívio, etc.). A rede de suporte informal, ou também chamada rede
natural de ajuda, é constituída pelo companheiro, parentes, filhos, amigos e
vizinhos.
A primeira solução é a mais utilizada nos casos de
idosos com grandes incapacidades físicas e psicológicas, enquanto as segundas
são as preferidas e mais utilizadas nos casos em que há manutenção de autonomia
funcional.
É hoje assumida em quase todos os países do mundo
ocidental a necessidade de implementar uma política económica, social e
familiar na tentativa de equilibrar os "arranjos" sociais em crise, repensando
os padrões tradicionais da família como medida importante, com o objetivo de
tentar solucionar, ou pelo menos minimizar, um grande número de preocupações
com que nos debatemos coletivamente.
Fomentar medidas que voltem a colocar os idosos na
cúpula dos agregados familiares onde se entrecruzem três ou mais gerações é
permitir que crianças e adolescentes encontrem referências e valores universais
na fase de construção da personalidade e da modelação do carácter. Ser-se velho
era ser-se sábio; era ter-se a mais-valia do tempo, que fazia do velho o
conselheiro, o amigo... a memória das gerações.
Admitamos que temos que sonhar para vislumbrar outra
realidade mais promissora. Sonhos que possam ser traduzidos em ações por todos
aqueles que acreditam na velhice como mais uma fase realizadora na vida. Isto
não custa assim tanto. Basta que cada um comece a fazer a sua parte, porque na
realidade envelhecer é também ir aprendendo outra forma de viver...
Um inquérito realizado pela Associação Portuguesa
para a Defesa do Consumidor (Deco) concluiu que, pelo menos, 40 mil idosos
portugueses não têm capacidade financeira para comprar alimentos. De acordo com
o mesmo estudo, o custo dos produtos alimentares é ainda uma das razões para
que não consumam refeições mais saudáveis.
O estudo realizado entre Fevereiro e Março de 2009,
através de um questionário a que responderam 3400 idosos, com idades entre os
65 e 79 anos, e publicado na edição de Novembro da revista “Proteste”, conclui que “o preço é o
fator que mais decide a escolha” dos alimentos para 64% dos inquiridos,
seguindo-se o sabor e a qualidade dos alimentos.
Ainda de acordo com os inquiridos, 76% dos
portugueses têm “hábitos alimentares pouco saudáveis, os quais pioram com o
avançar da idade”, enquanto que cerca de ¼ afirmou ter uma alimentação
saudável. A “difícil situação económica e a falta de autonomia influenciam de
forma negativa o que se come: mais de 1/5 dos inquiridos indicou ter
dificuldades financeiras”, acrescenta a Deco.
Os autores da investigação apuraram mesmo que 3% dos
inquiridos passou fome na semana anterior a responderem a estas perguntas.
Entre os motivos que os idosos apresentam para comer mal estão os problemas
dentários (35%), as dificuldades económicas (24%), a falta de apetite (13%) e
os medicamentos (12%).
Partindo do princípio que uma dieta equilibrada e
saudável precisa de refeições sem mais de 4 horas de intervalo, o inquérito
apurou que apenas 5% dos idosos seguem esta norma. 7% dos inquiridos não tomam
o pequeno-almoço e, em média, os idosos tomam 4 refeições diárias, o que “é
pouco”. As regiões do Norte, Centro e Alentejo são as que têm mais inquiridos a
“comer mal”.
No que diz respeito aos alimentos, o
estudo apurou uma preferência pela carne em detrimento do peixe, uma “opção
pouco saudável”. “O custo do peixe é um dos fatores que explica esta opção”,
lê-se no estudo.
O
inquérito revela ainda que, principalmente nos homens, os idosos bebem mais
álcool do que deviam: mais de dois copos por dia, o que “é excessivo”. Também
em demasia se encontra o consumo de doces, já que 70 por cento indicaram que os
comem, pelo menos, duas vezes por dia.
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