sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

COMUNICAÇÃO E CULTURA

“Comunicar” quer dizer: dar a conhecer, divulgar, anunciar, informar. Há comunicação sempre que um indivíduo partilha com outro(s) um determinado conteúdo. A comunicação é uma atividade essencial para a vida em sociedade.
Sendo a comunicação o fator mais importante no relacionamento da Humanidade, facilmente se compreende que má comunicação pode acarretar consequências funestas no conserto entre as pessoas.
Passamos a maior parte do nosso tempo a interagir com os outros através da comunicação, é nessa comunicação que influenciamos os seus comportamentos e que satisfazemos as suas e as nossas necessidades.
A comunicação é um processo de criação e recriação de informação, de troca, de partilha, de colocar em comum sentimentos e emoções. A comunicação transmite-se de forma consciente e inconsciente, pelo comportamento verbal e não verbal, de modo mais global pela maneira de agir dos intervenientes.
Pela comunicação chegamos a aprender e compreender as intenções, opiniões, sentimentos e emoções.
A comunicação pode ser vista e interpretada sobre várias perspetivas, no entanto temos de ter sempre presente que a comunicação é a base de todas as relações humanas, daí a importância de comunicarmos bem.
Os fundamentos da comunicação humana suportam-se em formas e métodos diversificados, em que os seres humanos recebem e retransmitem informações, sentimentos e perceções da mais variada índole. Assim, é o quadro de referência simbólico que suporta a transmissão das emoções que não têm tradução evidente na comunicação verbal. Ou seja, estamos a referir a importância da comunicação não-verbal e da perceção que a acompanha. Neste contexto, a opinião pública, traduzida na comunicação pública, é um fator determinante para a consciencialização global de quem a recebe. Assim, podemos compreender que a comunicação não se resume unicamente à informação. Ela transita de forma circular e constante, num intercâmbio de palavras com o intento de informar, em que tanto influencia como é influenciada.
A comunicação requer que, quando alguém esteja a falar, o outro seja capaz de o ouvir. Ser capaz de ouvir com atenção é o reconhecimento concreto da valorização do individuo. Se o ponto de vista expresso for muito importante, levá-lo-á até algum escalão superior. Podemos afirmar que ouvir com atenção já é dizer sim. Se o ponto de vista for válido, concordar, ou, caso contrário, argumentar e tomar uma decisão.
O sistema de comunicação é bom quando não se nota que ele existe. Uma organização comunica-se de forma perfeita quando os seus órgãos se comunicam entre si de forma contínua e informal, quer com os escalões superiores, quer inferiores, ou do mesmo nível na organização, e quando todos contam a mesma história para o exterior: clientes; acionistas; governo; comunidade; etc.
O termo comunicação tem vários sentidos possíveis, revestindo-se de diversas cambiantes, em função de quem o usa. Podemos utilizá-lo como sinónimo de «media», que hoje lhe é universalmente atribuído como meios de informação, e aqui poderíamos interrogar-nos sobre a expressão meios de informação: o que quer significar? São veículos de informação ou, de preferência, dos conteúdos que eles veiculam?
Há a convicção de que saber é poder, e os meios de comunicação podem facilmente condicionar indivíduos e coletividades; através deles podemos ser condicionados a considerar umas culturas superiores a outras e até classificarmos, em escalas valorativas, sociedades e países.
Para os «media» de massa, a informação tenta captar o imediato, o agora, o fugaz. Porém existem duas realidades: uma rotulada como a «sociedade do saber» (a escola) e a outra «a sociedade dos média de comunicação», reivindicando para si próprias objetivos similares e recusando-se ao mesmo tempo mutuamente, quer de forma explícita, quer implícita. A escola considera praticamente os «media» como algo de estranho e que muitos dos seus agentes e responsáveis, os representantes de uma cultura paralela à da escola, e a sua formação específica considerada, ou indiferenciada ou básica, resultado da sua experiência vulgar ou imediata. Daí a recusa e desdém da escola face aos «media», retirando-lhes toda a dignidade cultural.
Porém algo começou a mudar com o ensino à distância, com as universidades abertas e com a internet. Esta mudança de atitude deve-se ao facto der se ter percebido que a imagem teve, e terá sempre, tanto impacto na cultura humana, como a linguagem articulada ou escrita, e que, por isso, ela é tão antiga como as raízes culturais. As imagens parecem adequar-se mais às disciplinas descritivas, assim como a sensibilidade ao som, o ouvido fiel, podem favorecer a aprendizagem de línguas, por exemplo. Não se estranhará, portanto, que os chamados audiovisuais possam ser mais facilmente usados, por serem fáceis de manipular e controlar, e os «media» exerçam uma influência constante, perdurando o seu prestígio e fascínio ao longo de todas as fases da vida.
Nas sociedades modernas a lei do mais forte implica, em grande medida, o acesso imediato ao saber, à apropriação de dados acumulados, e aqui reside o fascínio da informática, cuja utilização pode não se revelar consentânea com os valores e modelos da escola tradicional: a reflexão crítica, a abstração, a neutralidade e a tolerância.
Ao falarmos de cultura referimo-nos concretamente a quê? Encarando-a no sentido mais amplo do termo, cultura consiste nos meios que os homens foram criando para agir sobre o mundo. Dela fazem parte utensílios, máquinas, objetos artísticos e literários, palavras, conceitos, técnicas mentais, formas de pensamento, ou seja, tudo aquilo que designaríamos por saber-fazer. Cultura é o resíduo da experiência do passado gravado na memória, quer do indivíduo, quer da coletividade. Bibliotecas, museus, academias, institutos, agrupamentos de intervenção social, etc., constituem manifestações dessa cultura.
Num mundo em que uma cultura de base parece ser um direito de todos, em que a democratização dos bens faz parte da consciência comum, qual a correlação entre esta aspiração legítima dos cidadãos e a aspiração a ela através dos meios de comunicação, designadamente a imprensa, a rádio, a televisão e a internet? A sensação que o cidadão comum pode ter é a de se encontrar constantemente em direto com fontes de saber, tão válidas como as da escola tradicional.
E aqui também se pode afirmar que o indivíduo vai criando uma cultura que não tem unidade, caótica e transitória. Face ao bombardeamento a que é submetido, tem mais a sensação de que lhe é imposta uma cultura, do que ele a pode escolher e controlar. Desse modo se vão aceitando inconscientemente sistemas simbólicos comuns, as diferenças, os particularismos de grupo, as especificidades, diluem-se cada vez mais e imergem os lugares-comuns.
Um dos maiores desafios da cultura e da educação de hoje será o de ensinar as pessoas a utilizar de forma adequada e positiva os imensos recursos oferecidos pelos «media», preservando a sua personalidade e as suas capacidades criativas, aprendendo a descodificar as linguagens e os conteúdos. A escola, a família e a sociedade não podem ignorar o imenso potencial pedagógico e cultural das novas fontes de informação. Será criminoso não os aproveitar adequadamente.
A comunicação de massas não pode apenas ser encarada e acusada de destruir valores, de não obedecer a programas rigorosos e sequenciais, de não favorecer a conceptualização, o raciocínio crítico, a descoberta individual e de impor ao indivíduo um ritmo desajustado e alienador, de se preocupar apenas com o passageiro, o fugidio, o atual, de realçar o sensacionalismo, a desordem, os contravalores, o acesso fácil aos prazeres e ao dinheiro.
O aperfeiçoamento progressivo dos transportes e das comunicações vem provocando choques sucessivos de grande impacto desde, pelo menos, a época das grandes navegações atlânticas, começando a misturar culturas e a proceder a uma progressiva integração e interação mútuas.
O impacto das novas tecnologias no que se refere à cultura concentrada, isto é, às tradicionais bibliotecas, veio alterar os velhos paradigmas, criando novas necessidades e sempre mais exigentes. A informação está cada vez menos ligada ao suporte físico. O bibliotecário era alguém trabalhando sobre determinados produtos (livros, revistas) e os seus clientes eram os frequentadores das bibliotecas, para obterem a desejada informação. Cada vez mais esses procedimentos são dispensáveis. Vive-se progressivamente mais naquilo a que um autor chamou “as bibliotecas sem paredes para livros sem páginas”. Trata-se de uma revolução sem precedentes. As “tecnologias da inteligência” tornam pouco importante o lugar onde se encontra o documento. O que mais interessa é saber a sua fiabilidade e importância. As bibliotecas virtuais apontam para a possibilidade de informação sem posse física dos seus instrumentos. A construção das bibliotecas virtuais, a sua otimização e seu manuseio, são cada vez mais função de técnicos de comunicações tecnológicas de ponta.
Embora se tenda para novos formatos e paradigmas, o livro, contudo, continua a ser indispensável como meio de comunicação e de transmissão/aquisição de cultura.
As novas tecnologias são apenas mais uma etapa na longa história do livro, e não parecem, pois, adivinhar a sua morte física.
Como se vê, a comunicação e a cultura estão condenados a marchar solidariamente desde o início do terceiro milénio.

Fontes:
(António Camilo-Alves; João Carlos A. Pinto – Universidade Autónoma de Lisboa – 2014)
(A Importância da Comunicação nas Organizações. Priscilda P. F. Coelho – Fund. Educ. do Município de Assis – Inst. Sup. de Assis Campus «José Santilli Sobrinho»)
(Eugénio dos Santos – Comunicação e Cultura: uma abordagem – Universidade do Porto, Faculdade de Letras)