sábado, 25 de maio de 2013

Análise e compreensão da experiência estética


Estética é a disciplina filosófica que reflete sobre a arte e a beleza, centrando-se nos diversos aspetos a ela associados, como: a experiência e os juízos estéticos, e a criação artística.
A perceção sensorial é a origem da experiência estética da beleza e da arte, sendo muito variada ao nível das diferentes artes (pintura, escultura, literatura, poesia, teatro, música, fotografia, cinema, etc.) e no interior de cada uma delas, sendo as experiências que têm como objeto a beleza e a arte muito distintas.
Arte designa um conjunto de objetos ou práticas e Beleza é uma ideia ou ideal, pelo que podemos considerar como objeto de arte algo que não é belo e belo um objeto que não é arte.
Podemos desta forma distinguir três domínios da experiência estética:
- A contemplação do belo natural, a beleza da natureza;
- O processo de criação artística;
- A contemplação do belo artístico, a obra de arte e de outros objetos de produção humana.
A contemplação do belo artístico implica uma atitude estética de apreciação do objeto por si próprio, pondo de lado todas as considerações sobre a sua utilidade, valores morais inerentes à obra ou conhecimentos que possa transmitir. Sendo uma emoção pura e desinteressada, vivida através de perceções auditivas e visuais, a atitude estética, sendo contemplativa, não tem em vista qualquer fim prático.
O imaginário, a fantasia, não são domínio exclusivo da artista mas da humanidade e todos nós procuramos no sonho, no imaginário, alguma compensação para os nossos recalcamentos, e a arte dá-nos isso, embora nem todos consigamos disfrutar dela em pleno. O artista tem o poder de modelar determinados materiais na imagem fiel da representação existente na sua fantasia, e ligar essa representação a uma quantidade de prazer capaz de mascarar os seus recalcamentos, de dar aos seus sonhos uma tal forma de beleza que estes perdem o seu carácter pessoal, para se converterem numa fonte de prazer para os outros. A arte fornece-nos o meio de alcançarmos (novo) alívio e consolo nas fontes de prazer do próprio inconsciente.
O juízo estético é um juízo de valor ou de apreciação em relação ao belo, ou às categorias que lhe são afins, como resultado da experiência estética.
Há uma certa afinidade entre o belo e o verdadeiro, associando-se o juízo estético à sensibilidade e ao sentimento, não devendo ser confundido com o juízo científico, nem com o juízo prático.
Enquanto juízo de valor, o juízo estético coloca problemas particularmente difíceis, porquanto quando dizemos que determinado objeto é belo, referimos que a beleza é uma propriedade desse objeto ou um sentimento relativamente a ele? Será que a beleza está nos olhos de quem vê ou no objeto que é visto e contemplado?
Existem duas teorias para explicar os consensos em matéria de gosto estético e as divergências de gosto: O objetivismo estético que afirma que um objeto é belo em função das suas propriedades íntimas e independentemente de gostarmos ou não dele; o subjetivismo estético que, na sua forma mais básica, sustenta que afirmar que um objeto é belo é o mesmo que dizer que gostamos do objeto.
No que se refere ao objetivismo estético, podemos questionar se a beleza é uma propriedade que faz parte integrante das coisas, ou se existirá em si mesma, de forma independente e absoluta. Platão (427 – 347a.C.) defendeu que as coisas belas são imitações de um belo absoluto e ideal, só existente no mundo das ideias. As coisas são belas enquanto participam da ideia de belo, da beleza em si.
Para Platão, a apreensão da beleza em si não é imediata, exigindo uma gradual ascensão da alma face ao corpo e à sua própria realidade.
Devemos começar por amar um corpo belo e, conscientes de que a beleza de um corpo é irmã da de qualquer outro, devemos passar a amar todos os corpos belos. Em seguida dar-se-á atenção à beleza das almas, sendo-se atraído pelas almas belas, mesmo se estas habitem corpos desgraciosos; neste processo amaremos as belas ações, os belos costumes, belas leis e a moral, bela em si mesma. Passaremos então ao amor das ciências, chegando a uma visão mais ampla da beleza e, por fim, à contemplação e intuição da beleza absoluta, o arquétipo de todas as coisas belas.
Platão define assim esta ascensão em quatro degraus de beleza: a corporal, a moral, a intelectual e a Beleza Absoluta, sempre em estreita relação com o amor, o motor desta dialética ascendente.
Para Platão, a Ideia do Belo articula-se e identifica-se com a do Bem supremo e a da Verdade soberana. A Beleza tem uma dimensão moral e racional.
Os conceitos são sempre objetivos e o juízo estético, sendo subjetivo, significa que não estejamos todos de acordo quanto à beleza ou fealdade de um objeto. Não sendo o juízo estético um juízo teórico (com base em conceitos), também não se reduz a uma simples inclinação pessoal relativa ao gostar ou não gostar.
Ao afirmar que gosto de X, manifesto uma preferência, e também gostos não se discutem, mas ao afirmar que X é agradável, manifesto a necessidade de que a satisfação seja reconhecida por toda a gente, ou seja, há uma aspiração à universalidade, considerando-se que os outros experimentam ou devem experimentar a mesma satisfação. Resumindo, o sentimento do belo existe no ser humano e é nesta base que está a pretensão à universalidade dos juízos estéticos.
As estéticas tradicionais partem de uma conceção objetivista do belo, estabelecendo regras normativas. A teoria das Ideias ou Formas (Platão), na qual os objetos de conhecimento, que se encontram no mundo inteligível (o mundo verdadeiro e perfeito), constituem a unidade e o fundamento da diversidade, são realidades incorruptíveis e puras que, servindo de modelo, permitem avaliar as coisas do mundo sensível, cópias da verdadeira realidade. As coisas, se são belas, são-no porque participam da beleza em si.
As estéticas contemporâneas subjetivas (Immanuel Kant, (1724 - 1804) tentam compreender as experiências concretas da beleza, tendo em conta a maneira como essas experiências são vivenciadas. A atribuição do belo a um objeto não se reduz à própria expressão da experiência do sujeito, mas significa que o belo existe como uma ideia separada, ou como uma propriedade inerente às coisas.
David Hume (1711 – 1776) explica que existem padrões do gosto, relativamente aos quais as pessoas se vão conformando, que proporcionam um critério geral de satisfação racional dos gostos pessoais e que nos permitem estar de acordo, em grande medida, acerca das «obras-primas» das várias artes. Se dizemos que gostamos de algo, dizemos que algo é belo de acordo com o padrão do gosto.
Mas o padrão do gosto não depende só do mesmo sentimento estético, sendo formado ao longo do tempo, com base no funcionamento universal da nossa mente e dos nossos sentidos, na nossa constituição psicológica, em harmonia com uns objetos (prazer) e não com outros (desprazer).
Outros fatores podem ainda influir na formação do gosto, como: a sensibilidade dos indivíduos, daí resultando uma variação na delicadeza do gosto, a existência de opiniões e hábitos característicos de certas culturas e idades, as modas e os preconceitos, condicionantes da forma como se «vê» a obra de arte.
Face a estes fatores Hume não identifica o padrão do gosto com o gosto da maioria. Para David Hume, o padrão do gosto reside em «observações» gerais acerca do que tem sido universalmente aceite como agradável, acreditando que o teste do tempo determina quais as coisas que são na verdade esteticamente agradáveis.
Immanuel Kant vai mais além ao afirmar que quando dizemos que algo é belo estamos a comunicar um sentimento de prazer que ocorre quando da contemplação do objeto.
Segundo Hume, quando afirmamos que gostamos de algo, dizemos que algo é belo de acordo com o padrão do gosto. Mas os padrões do gosto não dependem apenas do mesmo sentimento estético, mas formam-se ao longo dos tempos.
Para Kant, existe um sentido do gosto comum para todos os seres humanos (equivalente ao padrão do gosto de Hume) e este sentido do gosto fundamenta a pretensão à universalidade dos juízos estéticos, não permitindo encará-los como fruto de opiniões arbitrárias. Kant sustenta que sendo o juízo estético puro e desinteressado, se pode ajuizar que os outros reconhecem também a beleza e que sentem face a determinados objetos o mesmo tipo de satisfação.

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