Estética é a disciplina filosófica que reflete sobre
a arte e a beleza, centrando-se nos diversos aspetos a ela associados, como: a
experiência e os juízos estéticos, e a criação artística.
A perceção sensorial é a origem da experiência
estética da beleza e da arte, sendo muito variada ao nível das diferentes artes
(pintura, escultura, literatura, poesia, teatro, música, fotografia, cinema,
etc.) e no interior de cada uma delas, sendo as experiências que têm como
objeto a beleza e a arte muito distintas.
Arte designa um conjunto de objetos ou
práticas e Beleza é uma ideia ou ideal, pelo que podemos considerar como
objeto de arte algo que não é belo e belo um objeto que não é arte.
Podemos desta forma distinguir
três domínios da experiência estética:
- A contemplação do belo natural,
a beleza da natureza;
- O processo de criação
artística;
- A contemplação do belo artístico, a obra de arte e
de outros objetos de produção humana.
A contemplação do belo artístico implica uma atitude
estética de apreciação do objeto por si próprio, pondo de lado todas as
considerações sobre a sua utilidade, valores morais inerentes à obra ou
conhecimentos que possa transmitir. Sendo uma emoção pura e desinteressada,
vivida através de perceções auditivas e visuais, a atitude estética, sendo
contemplativa, não tem em vista qualquer fim prático.
O imaginário, a fantasia, não são domínio exclusivo
da artista mas da humanidade e todos nós procuramos no sonho, no imaginário,
alguma compensação para os nossos recalcamentos, e a arte dá-nos isso, embora
nem todos consigamos disfrutar dela em pleno. O artista tem o poder de modelar
determinados materiais na imagem fiel da representação existente na sua
fantasia, e ligar essa representação a uma quantidade de prazer capaz de
mascarar os seus recalcamentos, de dar aos seus sonhos uma tal forma de beleza
que estes perdem o seu carácter pessoal, para se converterem numa fonte de
prazer para os outros. A arte fornece-nos o meio de alcançarmos (novo) alívio e
consolo nas fontes de prazer do próprio inconsciente.
O juízo estético é um juízo de valor ou de apreciação
em relação ao belo, ou às categorias que lhe são afins, como resultado da
experiência estética.
Há uma certa afinidade entre o belo e o verdadeiro,
associando-se o juízo estético à sensibilidade e ao sentimento, não devendo ser
confundido com o juízo científico, nem com o juízo prático.
Enquanto juízo de valor, o juízo estético coloca
problemas particularmente difíceis, porquanto quando dizemos que determinado
objeto é belo, referimos que a beleza é uma propriedade desse objeto ou um
sentimento relativamente a ele? Será que a beleza está nos olhos de quem vê ou
no objeto que é visto e contemplado?
Existem duas teorias para explicar os consensos em
matéria de gosto estético e as divergências de gosto: O objetivismo estético
que afirma que um objeto é belo em função das suas propriedades íntimas e
independentemente de gostarmos ou não dele; o subjetivismo estético que,
na sua forma mais básica, sustenta que afirmar que um objeto é belo é o mesmo
que dizer que gostamos do objeto.
No que se refere ao objetivismo estético, podemos
questionar se a beleza é uma propriedade que faz parte integrante das coisas,
ou se existirá em si mesma, de forma independente e absoluta. Platão (427 –
347a.C.) defendeu que as coisas belas são imitações de um belo absoluto e
ideal, só existente no mundo das ideias. As coisas são belas enquanto
participam da ideia de belo, da beleza em si.
Para Platão, a apreensão da beleza em si não é
imediata, exigindo uma gradual ascensão da alma face ao corpo e à sua própria
realidade.
Devemos começar por amar um corpo belo e, conscientes
de que a beleza de um corpo é irmã da de qualquer outro, devemos passar a amar
todos os corpos belos. Em seguida dar-se-á atenção à beleza das almas, sendo-se
atraído pelas almas belas, mesmo se estas habitem corpos desgraciosos; neste
processo amaremos as belas ações, os belos costumes, belas leis e a moral, bela
em si mesma. Passaremos então ao amor das ciências, chegando a uma visão mais
ampla da beleza e, por fim, à contemplação e intuição da beleza absoluta, o
arquétipo de todas as coisas belas.
Platão define assim esta ascensão em quatro degraus
de beleza: a corporal, a moral, a intelectual e a Beleza Absoluta, sempre em
estreita relação com o amor, o motor desta dialética ascendente.
Para Platão, a Ideia do Belo articula-se e
identifica-se com a do Bem supremo e a da Verdade soberana. A Beleza tem uma
dimensão moral e racional.
Os conceitos são sempre objetivos e o juízo estético,
sendo subjetivo, significa que não estejamos todos de acordo quanto à beleza ou
fealdade de um objeto. Não sendo o juízo estético um juízo teórico (com base em
conceitos), também não se reduz a uma simples inclinação pessoal relativa ao
gostar ou não gostar.
Ao afirmar que gosto de X, manifesto uma preferência,
e também gostos não se discutem, mas ao afirmar que X é agradável, manifesto a
necessidade de que a satisfação seja reconhecida por toda a gente, ou seja, há uma
aspiração à universalidade, considerando-se que os outros experimentam ou devem
experimentar a mesma satisfação. Resumindo, o sentimento do belo existe no ser
humano e é nesta base que está a pretensão à universalidade dos juízos
estéticos.
As estéticas tradicionais partem de uma conceção
objetivista do belo, estabelecendo regras normativas. A teoria das Ideias ou
Formas (Platão), na qual os objetos de conhecimento, que se encontram no
mundo inteligível (o mundo verdadeiro e perfeito), constituem a unidade e o
fundamento da diversidade, são realidades incorruptíveis e puras que, servindo
de modelo, permitem avaliar as coisas do mundo sensível, cópias da verdadeira
realidade. As coisas, se são belas, são-no porque participam da beleza em si.
As estéticas contemporâneas subjetivas (Immanuel Kant,
(1724 - 1804) tentam compreender as experiências concretas da beleza, tendo em
conta a maneira como essas experiências são vivenciadas. A atribuição do belo a
um objeto não se reduz à própria expressão da experiência do sujeito, mas
significa que o belo existe como uma ideia separada, ou como uma propriedade
inerente às coisas.
David Hume (1711 – 1776) explica que existem padrões
do gosto, relativamente aos quais as pessoas se vão conformando, que proporcionam
um critério geral de satisfação racional dos gostos pessoais e que nos permitem
estar de acordo, em grande medida, acerca das «obras-primas» das várias artes.
Se dizemos que gostamos de algo, dizemos que algo é belo de acordo com o padrão
do gosto.
Mas o padrão do gosto não depende só do mesmo
sentimento estético, sendo formado ao longo do tempo, com base no funcionamento
universal da nossa mente e dos nossos sentidos, na nossa constituição
psicológica, em harmonia com uns objetos (prazer) e não com outros (desprazer).
Outros fatores podem ainda influir na formação do
gosto, como: a sensibilidade dos indivíduos, daí resultando uma variação na
delicadeza do gosto, a existência de opiniões e hábitos característicos de
certas culturas e idades, as modas e os preconceitos, condicionantes da forma
como se «vê» a obra de arte.
Face a estes fatores Hume não identifica o padrão do
gosto com o gosto da maioria. Para David Hume, o padrão do gosto reside em
«observações» gerais acerca do que tem sido universalmente aceite como
agradável, acreditando que o teste do tempo determina quais as coisas que são
na verdade esteticamente agradáveis.
Immanuel Kant vai mais além ao afirmar que quando
dizemos que algo é belo estamos a comunicar um sentimento de prazer que ocorre
quando da contemplação do objeto.
Segundo Hume, quando afirmamos que gostamos de algo,
dizemos que algo é belo de acordo com o padrão do gosto. Mas os padrões do
gosto não dependem apenas do mesmo sentimento estético, mas formam-se ao longo
dos tempos.
Para Kant, existe um sentido do gosto comum para
todos os seres humanos (equivalente ao padrão do gosto de Hume) e este sentido
do gosto fundamenta a pretensão à universalidade dos juízos estéticos, não
permitindo encará-los como fruto de opiniões arbitrárias. Kant sustenta que
sendo o juízo estético puro e desinteressado, se pode ajuizar que os outros
reconhecem também a beleza e que sentem face a determinados objetos o mesmo
tipo de satisfação.
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