domingo, 20 de novembro de 2011

Reconversões Profissionais e Organizacionais

Do ponto de vista da formação profissional, a modernização é o conjunto de transformações tecnológicas que vão ocorrendo directamente no processo de trabalho. No mesmo conceito se usam outras expressões como: inovações tecnológicas, novas tecnologias ou inovações técnico-científicas.
Movido como forma de resgatar o lucro e o ganho do capital, a modernização veio alterar a estrutura do sistema produtivo nos aspectos de natureza organizacional e de equipamentos, gerando mudanças na qualificação profissional, afectando o desemprego e criando a necessidade de reconversão profissional. O problema agrava-se com a agressiva competitividade nos mercados internacionais conjugado com as questões ligadas à qualidade e diversidade dos produtos, num quadro inquietante de impasses políticos, económicos e sociais.
A incorporação das novas tecnologias por força dessas transformações, suscita discussões sobre as formas de organização da produção, a gestão do trabalho e a qualificação profissional tendo em vista os desafios que são colocados às empresas, aos trabalhadores, às escolas e à sociedade.
Na sequência deste debate, o papel que a educação deve desempenhar nas relações com o trabalho e as referências às necessidades de educação profissional, acabam no contexto específico da reconversão profissional, fechando num círculo que não tem fim como processo. São exemplo o desemprego estrutural resultante das inovações tecnológicas e dos novos processos de trabalho, por um lado, e por outro, o subemprego de um grande número de pessoas desprovidas das ferramentas básicas para enfrentar as novas exigências do mercado de trabalho.
Restringindo-nos aos impactos da modernização tecnológica, a presente discussão pode resumir-se:
1.º As modificações na economia obrigam a reorganização dos processos de trabalho e a introdução de novas formas organizacionais;
2.º Essas modificações determinam a mudança radical da organização do trabalho, exigindo uma produção flexível, com uma profunda dependência da tecnologia, que por sua vez exige um maior nível de conhecimento técnico-científico;
3.º Exigência de trabalhadores com características de conhecimento e atitudes muito diferentes para enfrentar as novas situações de flexibilidade, de mudança, de ruptura entre concepção e execução e de acção das equipas de trabalho;
4.º Por fim entra o papel da educação, da co-responsabilidade pela formação desse novo perfil, adequado às novas exigências: um trabalhador polivalente, politécnico, munido da compreensão dos princípios técnicos e científicos.
Pensar o papel da educação pelo lado da modernização significa analisar o peso da instituição escolar como agente capaz de contribuir para estabelecer as condições necessárias à modernidade, analisar as relações entre a modernização da produção e a educação profissional com vista às tecnologias produtivas modernas, pois nas instituições viradas para a educação profissional, o trabalho e o trabalhador são os verdadeiros princípios pedagógicos.
O perfil do profissional qualificado, apurado pela adopção das novas tecnologias e novas formas organizacionais, tem como indicadores gerais novos parâmetros estruturais e sistémicos, sinalizadores de novas exigências às instituições que cuidam da educação profissional:
- Desempenho mais elevado, com enfoque nos aspectos cognitivos: pensamento abstracto, capacidade de análise, de pensamento estratégico, de planeamento, de responder criativamente perante novas situações;
- Conhecimentos mais selectivos, mais valiosos, de nível mais elevado, mais amplos e mais teóricos;
- Polivalência técnica e operacional;
- Comportamento fortemente marcado pela autonomia e pela motivação consciente;
- Capacidade de lidar e usar produtivamente a informação, a tecnologia, os sistemas e as habilidades interpessoais sócio comunicativas;
- Elevado desempenho em termos e atitudes sociais e profissionais.
Aumentam assim as exigências de escolarização e características pessoais, e, por sua vez, o espaço escolar requer um processo renovado de interacção docente/aluno, de aquisição de saber, de mais atenção à empregabilidade do que ao mercado de trabalho, de flexibilização, de auto desenvolvimento, de educação continuada, tendo em vista que a primazia na sociedade é o conhecimento. Subjacente a todos esses parâmetros do novo perfil do trabalhador deve estar a educação de qualidade, aquela que motiva aprender a aprender, algo equivalente ao alargamento da base de aptidões, não a que simplesmente passa a informação.
Há que atrair, manter a motivação, acrescentar conhecimentos relevantes ao indivíduo e permitir a transferência de aprendizagem. No caso da reconversão profissional, é preciso atender a outros factores, como a rapidez e a aplicabilidade final por se estar a tratar com adultos, potencialmente desempregados, o que, de per si, causa premência e ansiedade.
A reconversão é um dos problemas mais recentes do momento actual da economia mundial no jogo final entre a competitividade e o lucro. Começam a aparecer os problemas decorrentes das mudanças estruturais e, em muitos países, lê-se sobre grandes empresas que promovem grandes despedimentos de trabalhadores, partilhando com o governo e outras instituições a responsabilidade de criar novos empregos ou ajudar os trabalhadores dispensados a encontrar uma nova alternativa de trabalho. Exemplos disso são os planos de emprego, combinando interesses dos sindicatos com interesses dos sistemas produtivos, estabelecendo fundo sociais, condições especiais de reciclagem profissional ou de outras alternativas de trabalho, funcionando como um instrumento para evitar conflitos decorrentes da redução de postos de trabalho e que tornariam mais difícil a introdução de programas de capacitação e a própria reestruturação da empresa.
É preciso afirmar que não existe uma solução total, a curto prazo, para o desemprego, mas sim conjuntos de soluções, ainda que parciais, que só podem partir da sociedade como um todo e orientarem-se para o mesmo caminho, ou seja, com o concurso de todos os agentes envolvidos num clima de participação imprescindível, e é bom pensar se não vale a pena trabalhar pela ideia de que o encaminhamento para a questão do desemprego, mais que uma lógica de análise, exige criatividade, soluções imaginativas.
Desse esforço conjunto poderão resultar ganhos de qualidade, inclusive nas políticas de formação na forma de: conhecimento suficiente dos recursos humanos disponíveis em cada área para orientar os trabalhadores e ao mesmo tempo oferecer informação às empresas sobre o perfil dos que procuram emprego; planos especiais qualificação/reconversão, que facilitem a mobilidade profissional e proporcionem às empresas pessoal com perfil adequado, colaborando no estabelecimento de sistemas de formação contínua; conhecimento, de perto, do mercado de trabalho; trabalhadores com emprego adequado às suas qualificações e empresas com pessoal devidamente qualificado.

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