A poesia de Alexandre O’Neill concilia uma
atitude de vanguarda – surrealismo e experiências próximas do concretismo – que
se manifesta no carácter lúdico, que evidencia o lado surreal do real, ou nos
típicos «inventários» surrealistas. Os seus textos caracterizam-se por uma
intensa sátira a Portugal e aos portugueses, numa alternância entre a
constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor.
Foi empregado de comércio e trabalhou em
publicidade, tendo sido o criador do conhecido dístico «Há mar e mar, há ir e
voltar».
Recebeu, em 1982, o Prémio da Associação
dos Críticos Literários.
Filho de um bancário e de uma dona de
casa, nasce em Lisboa, em 19 de Dezembro de 1924, Alexandre Manuel Vahía de
Castro O’Neill de Bulhões, ou simplesmente, Alexandre O’Neill.
Em 1944, terminou o 1º ano da Escola
Náutica de Lisboa mas, por causa da miopia, é-lhe recusada a cédula marítima
para exercer pilotagem (“eu andei para marinheiro mas pus óculos de fiquei em
terra”). O’Neill não continua os estudos.
Em 1946, por desavenças familiares,
abandonou a casa dos pais e foi viver em casa do tio materno; em 1948, com
Mário Cesariny, José-Augusto França, António Pedro e Vespereira, é um dos
fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa: colabora na Ampola Miraculosa,
um livro de colagens surrealistas; em 1949, apaixona-se pela surrealista
francesa Nora Mitrani; em 1950, em grande polémica, O’Neill rompe com o
movimento surrealista; no ano de 1951, publica a colectânea “Tempo de
Fantasmas”; é preso pela PIDE em 1953 e permanece nos calabouços durante 40
dias: casa com Noémia Delgado em 1957; em 1958 publica “O Reino da Dinamarca”;
nasce o seu primeiro filho em 1959 e, em 1960, publica “Abandono Vigiado, em
1962, “Poemas com Endereço”, em 1965, “Feira Cabisbaixa”, e em 1966, em Turim,
são publicados poemas de O’Neill sob o título “Portogalo mio rimorso”; em 1969
publica “De Ombro na Ombreira” e, em 1970, “As Andorinhas não têm Restaurante”;
divorcia-se de Noémia Delgado em 1971 e casa-se com Teresa Patrício Gouveia; no
ano de 1972 é publicado “Entre a Cortina e a Vidraça” e, em 1976, nasce o
segundo filho do poeta; publica, em 1979, “A Saca de Orelhas”. Em 1980
apaixona-se por Laurinda Bom, publica “Uma Coisa em Forma de Assim”; em 1981
divorcia-se de Teresa e publica “As Horas já de Números Vestidas”; em 1983
publica “Dezanove Poemas”; em 1986 escreve “O Principio da Utopia”, “O
Princípio da Realidade” e morre de doença cardíaca.
No ano da sua morte foi publicada a
antologia "Tomai lá do O'Neill!", título escolhido pelo poeta que já
não chegou a assistir ao lançamento da obra.
Sobre a obra de Alexandre O'Neill escreveu
António Tabucchi: «Como um simples curto-circuito, diz mais que um tratado de
antropologia, mais que um volume de história, mais que um breviário de
estética! A poesia de O'Neill fala do sonho, do riso, da dor, da coragem de nos
olharmos ao espelho».
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