Considerado como o mais
universal dos poetas portugueses e um dos mais importantes escritores do
modernismo em Portugal, Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa a 16
de Junho de 1888. O nome Fernando António talvez tenha surgido do facto de ter
nascido no dia de S. António (Fernando de Bulhões).
Desde a infância que toda a sua
vida foi marcada por acontecimentos nefastos, que muito terão contribuído para
marcar a sua personalidade. Em 1893, com apenas cinco anos de idade, vê desaparecer
o pai a quem era muito apegado, vitimado pela tuberculose aos 43 anos de idade,
e a família é obrigada a leiloar parte dos seus bens e ir viver com a avó
Dionísia. Um ano depois, com um ano incompleto, morre o seu irmão Jorge. Para
compensar estas perdas, Pessoa encontra um amigo invisível, o seu primeiro
heterónimo, através do qual escreve cartas a ele próprio.
Dois anos mais tarde, em 1895,
escreve o seu primeiro poema. Em Dezembro desse ano a sua mãe casa, por
procuração, com João Miguel Rosa, que fora nomeado cônsul de Portugal e,
entretanto, partira para Durban, África do Sul. No ano seguinte, em Janeiro, é
concedido o passaporte à sua mãe e a família parte para Durban, onde conclui,
na escola de freiras irlandesas da West Stret, o curso primário e faz a
primeira comunhão. (1897)
Ingressa no High School, em
Durban (Abril/1899) e cria o seu pseudónimo Alexander Search. Mais tarde (1900)
é admitido no terceiro ano do liceu, sendo considerado um aluno brilhante e,
antes do final do ano, é promovido ao quarto ano. É também premiado em francês.
Em Junho de 1901, Pessoa é
aprovado no exame da Cape School High Examination e é nessa altura que começa a
escrever as primeiras poesias em inglês. Dá-se a morte da irmã Madalena
Henriqueta. Em Agosto parte com a família para Portugal, visita a Ilha Terceira
em Maio de 1902, e, em Junho, a família regressa a Durban mas Pessoa apenas
volta para junto dos seus em Setembro.
Submete-se ao exame de admissão
à Universidade do Cabo (1903) e consegue a melhor nota em inglês, ganhando o
Prémio Rainha Vitória. Em Dezembro de 1904 termina os seus estudos na África do
Sul.
Vem para Lisboa, em 1905, viver
com a avó Dionísia, continuando a escrever poemas em inglês. Um ano depois, em
Outubro, matricula-se no Curso Superior de Letras, que abandona ao fim de 2
anos e sem ter feito um único exame. Como a mãe e o padrasto voltam a Lisboa,
Fernando Pessoa vai morar com eles e, algum tempo depois, vê desaparecer a irmã
Maria Clara.
Com o regresso da família a
Durban (1907), Pessoa volta a morar com a avó e, depois da desistência do Curso
de Letras, acontece a morte desta. Fernando Pessoa estabelece uma tipografia
mas por um curto período de tempo, pois esta não resulta. Começa então a
trabalhar como correspondente estrangeiro em escritórios comerciais.
Dá-se uma intensa produção de
poesia e prosa em inglês e francês e, por volta de 1910, também em português.
Respeitado como intelectual, publica com regularidade o seu trabalho em
revistas, algumas das quais ajuda a fundar e a dirigir (Orpheu, 1915, Olisipo,
1921 e Athena, 1924)). É em 1912 que publica na revista “Águia” o seu primeiro
ensaio de crítica literária.
Em 1914 cria os heterónimos
Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Bernardo Soares e escreve os
poemas de “O Guardador de Rebanhos” e o “Livro do Desassossego”. Em 1915 sai o
primeiro número da “Orpheu” e Pessoa decide “matar” Alberto Caeiro.
É em 1920 que Pessoa conhece a
mulher que amou, Ofélia Queiroz, com quem nunca se permitiu uma relação
amorosa, por se dedicar por completo à sua paixão pela poesia. Entretanto, a
sua mãe, após a morte do segundo marido, deixa a África do Sul e regressa a
Lisboa. Pessoa arrenda um andar para a família e foi aí, naquela que é hoje
conhecida como a “Casa Fernando Pessoa”, que o poeta passou os últimos 15 anos
da sua vida. Em Outubro desse ano, este vulto das nossas letras atravessa uma
grande depressão, pensa em internar-se numa casa de saúde e rompe com Ofélia.
A 17 de Março de 1925 morre-lhe
a mãe. Pessoa ainda dirige, algum tempo depois e com o seu cunhado, a “Revista
do Comércio e Contabilidade”. Mais tarde colabora com a revista “Presença” e,
mais tarde ainda, volta a relacionar-se com Ofélia para voltar a romper com ela
algum tempo depois.
O seu único volume de versos portugueses
que se publica em vida, “Mensagem”, sai em 1934. Trata-se de uma obra que aborda
o glorioso passado de Portugal de forma encomiástica e tenta encontrar um
sentido para a antiga grandeza e a decadência existente na época.
A 29 de Novembro de 1935, é
internado com o diagnóstico de cólica hepática e morre no dia seguinte.
A sucessão de factos ocorridos
na infância e adolescência viriam a influenciar a personalidade de Pessoa.
Tímido, estudante brilhante, dotado de grande imaginação, não tendo amigos com
quem brincar, refugiava-se nos amigos imaginários com quem trocava confidências
e desabafos.
Desde muito novo, Pessoa sentiu
necessidade de escrever por alguém que não ele próprio. Daí a profusão de
heterónimos dotados de variadas personalidades.
Homem muito reservado e
solitário, era no entanto afetuoso e bem-humorado. Meditativo, escrevia
afanosamente em cadernos de notas, folhas soltas, verso de cartas, anúncios,
papel timbrado das firmas para as quais trabalhava e dos cafés que frequentava,
subscritos, nas margens dos textos, etc., acumulando os seus escritos ao longo
dos anos e deixando-nos um valioso espólio de textos em poesia, peças de
teatro, filosofia, crítica literária, etc.
Aos seus heterónimos, os “outros
eus”, Pessoa dotou-os de biografias, características físicas, visões políticas,
religiosas e atividades literárias próprias. Algumas das suas obras mais
memoráveis escritas em português são atribuídas aos quatro heterónimos
principais – Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares,
este último é considerado como um semi-heterónimo por possuir muitas
semelhanças com o seu ortónimo e não ter uma personalidade muito característica.
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