sábado, 6 de fevereiro de 2016

Equipamentos domésticos e a condição da mulher portuguesa

No geral, as famílias portuguesas da primeira metade do século XX eram do tipo tradicional, cabendo ao homem o garante do sustento da família e à mulher cabiam exclusivamente a execução dos trabalhos domésticos e o papel de orientadora e educadora familiar. Estas tarefas ocupavam a tempo inteiro a vida da “dona-de-casa” mas, com os avanços da tecnologia, o aparecimento dos eletrodomésticos transformaram a vida das “fadas do lar”, sendo preciosos auxiliares da vida doméstica, poupando tempo e esforços, permitindo conciliar as lides domésticas com outras atividades de cariz quer social, que mesmo profissional.
Em resultado do fator socioeconómico do país e das grandes dificuldades económicas das famílias portuguesas, grande parte da mão-de-obra masculina viu-se forçada a emigrar, criando um grande desequilíbrio nos sexos e vagas nos postos de trabalho, até aqui ocupados pelos homens, que vão sendo ocupados pela mão-de-obra feminina, que procura, fora do lar, o ganha-pão para sustento da família. Os meios mecânicos são muito pouco utilizados e é a mão-de-obra feminina, mal remunerada, que é empregue preferencialmente no transporte braçal.
Nos pequenos trajetos, e dado que a maior dificuldade para os grandes pesos era colocá-los na cabeça, a melhor opção era transportar cargas à mão e com menos peso, de cada vez. Para distâncias maiores a melhor opção era o transporte à cabeça, depois era uma questão de equilíbrio que pela prática se adquiria com alguma facilidade, o que permitia transportar maiores pesos com menos esforço e sem correr grandes riscos de deformação corporal.
As dificuldades económicas que as famílias atravessam e o excedente de mão-de-obra feminina, condicionam a aceitação de qualquer tipo de trabalho por baixos salários. Esta mão-de-obra é aproveitada nas cargas e descargas nos portos marítimos, daí resultando o investimento tardio em equipamento mecânico neste tipo de manobras.
Na viragem do século XIX para o século XX, a sociedade sofreu alterações em resultado do crescimento da industrialização e da urbanização, isto é, o aumento das cidades. Apesar das tensões entre países, verificava-se um clima de otimismo e confiança. Melhoraram as condições de vida do operariado, a classe média aumentou a sua influência e importância nos domínios políticos, sociais e culturais e as desigualdades sociais diminuíram com a melhoria das condições de vida e do poder de compra.
Este período de prosperidade económica: aumento da produção; melhoria do nível de vida das populações; desenvolvimento do crédito e aumento do consumo, culminou com a queda da bolsa de Novo Iorque (1929), a Grande Depressão e a Grande Crise do Capitalismo nos anos 30.
A I Guerra Mundial provocou ainda grandes mudanças na sociedade desencadeando a emancipação da mulher ao levá-las a assumirem novos papéis e funções no trabalho e na família, antes exclusivos dos homens.
A seguir à I Guerra Mundial alguns países europeus atravessaram grandes dificuldades económicas. O crescimento dos sindicatos e dos partidos de esquerda, o triunfo da revolução soviética e as tentativas de revolução socialista noutros países, assustaram grandes setores da burguesia que, com as crescentes ocupações das fábricas, apoiaram os movimentos de extrema-direita, acabando por triunfar os regimes ditatoriais na maior parte da Europa, a que Portugal não escapou. Foi o surgimento de governos totalitários com fortes objetivos militaristas e expansionistas, em especial o nazismo alemão que levou ao desencadear da II Guerra Mundial.
Com a II Guerra Mundial a maioria dos países envolvidos tiveram que integrar cada vez mais a mão-de-obra feminina na produção, em substituição da masculina empenhada no esforço de guerra. Assiste-se, a partir daqui, a um gradual conquistar de espaço da mulher na sociedade que não tem retorno.
Com os avanços da ciência e da tecnologia, na sua maior parte desenvolvidos para a guerra, surgiram os eletrodomésticos que se transformaram em preciosos auxiliares e indispensáveis para a execução das tarefas domésticas, poupando esforços e tempo à mulher.
Com a introdução, cada vez em maior escala, deste tipo de equipamentos, a mulher passou a ter maior disponibilidade de tempo livre, o que lhe permitiu de forma gradual uma maior integração no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, a sua progressiva autodeterminação. No entanto, a cada vez maior disponibilidade de equipamentos domésticos veio aumentar exponencialmente o consumo das famílias, pelo que os fabricantes têm apostado na produção de aparelhos cada vez mais eficientes, quer no uso, quer no consumo energético.
A partir de segunda metade do século XX é cada vez maior o número de mulheres que prosseguem uma carreira profissional, e assim, as tarefas que eram apenas consideradas para o exercício feminino passaram a ser executadas pelos homens que, embora desproporcionalmente, usam os mesmos equipamentos domésticos.
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