No geral, as famílias portuguesas da primeira metade do século XX eram
do tipo tradicional, cabendo ao homem o garante do sustento da família e à
mulher cabiam exclusivamente a execução dos trabalhos domésticos e o papel de
orientadora e educadora familiar. Estas tarefas ocupavam a tempo inteiro a vida
da “dona-de-casa” mas, com os avanços da tecnologia, o aparecimento dos
eletrodomésticos transformaram a vida das “fadas do lar”, sendo preciosos
auxiliares da vida doméstica, poupando tempo e esforços, permitindo conciliar
as lides domésticas com outras atividades de cariz quer social, que mesmo
profissional.
Em resultado do fator socioeconómico do país e das grandes dificuldades
económicas das famílias portuguesas, grande parte da mão-de-obra masculina
viu-se forçada a emigrar, criando um grande desequilíbrio nos sexos e vagas nos
postos de trabalho, até aqui ocupados pelos homens, que vão sendo ocupados pela
mão-de-obra feminina, que procura, fora do lar, o ganha-pão para sustento da
família. Os meios mecânicos são muito pouco utilizados e é a mão-de-obra
feminina, mal remunerada, que é empregue preferencialmente no transporte
braçal.
Nos pequenos trajetos, e dado que a maior dificuldade para os grandes
pesos era colocá-los na cabeça, a melhor opção era transportar cargas à mão e
com menos peso, de cada vez. Para distâncias maiores a melhor opção era o
transporte à cabeça, depois era uma questão de equilíbrio que pela prática se
adquiria com alguma facilidade, o que permitia transportar maiores pesos com
menos esforço e sem correr grandes riscos de deformação corporal.
As dificuldades económicas que as famílias atravessam e o excedente de
mão-de-obra feminina, condicionam a aceitação de qualquer tipo de trabalho por
baixos salários. Esta mão-de-obra é aproveitada nas cargas e descargas nos
portos marítimos, daí resultando o investimento tardio em equipamento mecânico
neste tipo de manobras.
Na viragem do século XIX para o século XX, a sociedade sofreu alterações
em resultado do crescimento da industrialização e da urbanização, isto é, o
aumento das cidades. Apesar das tensões entre países, verificava-se um clima de
otimismo e confiança. Melhoraram as condições de vida do operariado, a classe
média aumentou a sua influência e importância nos domínios políticos, sociais e
culturais e as desigualdades sociais diminuíram com a melhoria das condições de
vida e do poder de compra.
Este período de prosperidade económica: aumento da produção; melhoria
do nível de vida das populações; desenvolvimento do crédito e aumento do
consumo, culminou com a queda da bolsa de Novo Iorque (1929), a Grande
Depressão e a Grande Crise do Capitalismo nos anos 30.
A I Guerra Mundial provocou ainda grandes mudanças na sociedade desencadeando
a emancipação da mulher ao levá-las a assumirem novos papéis e funções no
trabalho e na família, antes exclusivos dos homens.
A seguir à I Guerra Mundial alguns países europeus atravessaram grandes
dificuldades económicas. O crescimento dos sindicatos e dos partidos de
esquerda, o triunfo da revolução soviética e as tentativas de revolução
socialista noutros países, assustaram grandes setores da burguesia que, com as
crescentes ocupações das fábricas, apoiaram os movimentos de extrema-direita,
acabando por triunfar os regimes ditatoriais na maior parte da Europa, a que
Portugal não escapou. Foi o surgimento de governos totalitários com fortes
objetivos militaristas e expansionistas, em especial o nazismo alemão que levou
ao desencadear da II Guerra Mundial.
Com a II Guerra Mundial a maioria dos países envolvidos tiveram que
integrar cada vez mais a mão-de-obra feminina na produção, em substituição da
masculina empenhada no esforço de guerra. Assiste-se, a partir daqui, a um
gradual conquistar de espaço da mulher na sociedade que não tem retorno.
Com os avanços da ciência e da tecnologia, na sua maior parte
desenvolvidos para a guerra, surgiram os eletrodomésticos que se transformaram
em preciosos auxiliares e indispensáveis para a execução das tarefas domésticas,
poupando esforços e tempo à mulher.
Com a introdução, cada vez em maior escala, deste tipo de equipamentos,
a mulher passou a ter maior disponibilidade de tempo livre, o que lhe permitiu
de forma gradual uma maior integração no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, a
sua progressiva autodeterminação. No entanto, a cada vez maior disponibilidade
de equipamentos domésticos veio aumentar exponencialmente o consumo das
famílias, pelo que os fabricantes têm apostado na produção de aparelhos cada
vez mais eficientes, quer no uso, quer no consumo energético.
A partir de segunda metade do século XX é cada vez maior o número de
mulheres que prosseguem uma carreira profissional, e assim, as tarefas que eram
apenas consideradas para o exercício feminino passaram a ser executadas pelos
homens que, embora desproporcionalmente, usam os mesmos equipamentos
domésticos.
Referências:
Sem comentários:
Enviar um comentário