sexta-feira, 6 de junho de 2014

A questão do sentido da vida

Por certo que uns mais, outros menos, todos nós nos questionamos acerca do sentido a dar às nossas vidas. Vulgarmente projetamos para a nossa existência uma vida desafogada, alicerçada numa carreira profissional de sucesso, bem remunerada, que permita fazer profissionalmente aquilo que gostamos; nos proporcione viajar, ter belos momentos de lazer, viver rodeados pelos familiares e amigos. É este, julgo eu, o quadro mais ou menos idílico que cada um de nós projeta para a sua vida.
Quando se coloca a pergunta “qual é o sentido da vida?”, fico com muitas dúvidas perante uma questão que me parece demasiado vaga, pois questiono-me se devemos dar às nossas vidas qualquer outro sentido, outro desígnio, que não seja o de estarmos bem connosco e com os outros, sem precisarmos de meditar na  temporalidade e finitude da vida, sabendo nós de antemão que tudo tem um tempo e um fim.
Enfrentando estas dúvidas as respostas encontradas poderão ser muito diversas e dependendo de várias condicionantes que terão a ver com a cultura, a religião, as tradições, as características pessoais, etc.
Albert Camus descreveu o «homem absurdo» como aquele que vive «sem apelo», desafiando a indiferença que o mundo lhe oferece. É, no fundo o que que a maioria de nós enfrenta, uma vida absurda onde todos os nossos melhores projetos são quotidianamente postos em causa, sofrendo com os insucessos, as desilusões, mas abraçando a vida o mais plenamente possível. E não poderemos negar ou esquecer que existirá algum fundamento racional para isto.
Sartre afirma: “o homem antes de mais nada, é um projeto que se vive subjetivamente”. Desta forma tornamo-nos responsáveis por aquilo que somos. Segundo esta perspetiva não seremos aquilo que queremos ser, mas o projeto que estamos a viver e este projeto é uma escolha, cuja responsabilidade é apenas do próprio homem. Inserido no contexto da humanidade, ao fazer uma escolha, o homem não se escolhe apenas a si mesmo, mas escolhe toda a humanidade, ficando por isso condenado à subjetividade humana.
Parece que o mundo é indiferente ao nosso destino e nesta perspetiva coloca-se a questão de se saber se devemos dar um sentido à nossa vida para ser vivida ou se, pelo contrário, ela será vivida ainda melhor se não tiver sentido.
As religiões dão-nos uma perspetiva natural para o sentido da vida. Se acreditamos que um ser sobrenatural criou o mundo segundo um plano grandioso, então procuraremos saber qual a finalidade desse plano e qual o lugar que a vida nele ocupa. As adversidades da vida: o sofrimento, as injustiças, o mal, as incompreensões, podem parecer-nos injustificados, mas os desígnios de Deus são insondáveis e ultrapassam os limites da nossa capacidade de compreensão.
O projeto de vida é a realização do ser humano em direção a um deus. A vida terrena é uma mera etapa do nosso aperfeiçoamento e a morte o começo da vida eterna. O sentido da vida é o seu deus e é nesta direção que devemos seguir.
Se para aqueles que defendem que o sentido da vida é o sagrado e encontram aí o lenitivo para aliviar o sofrimento e as injustiças deste mundo, há aqueles que não professando qualquer religião, ainda assim encontram um sentido para a vida.
Sabendo que tudo tem um tempo e um fim, enfrentam as vicissitudes da vida e não se vergam perante o pessimismo e a angústia. Acreditam na dignidade humana como valor supremo, e na Natureza como a casa comum partilhada com todos os seres vivos, encontrando o sentido da vida na participação e realização de uma sociedade mais justa onde reine a paz, a solidariedade e a igualdade sejam respeitadas, e nas causas ecológicas participando na preservação das espécies e dos recursos naturais.
Cada pessoa é singular pela forma como se relaciona com o que a cerca. Vive num lugar e num tempo, integra uma cultura. Estes aspetos não serão tudo na sua formação da singularidade, pois há a considerar a carga genética que deve ser somada à liberdade e à circunstância. A biologia dá uma importante ajuda para compreender o aspeto físico da singularidade, mas o que realmente nos faz únicos são as escolhas que fazemos a partir dos elementos circunstanciais que as singularizam.

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