sábado, 8 de dezembro de 2012

O mito de Sísifo. A vida e o absurdo (Albert Camus 1913-1960)



“Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
(…) Já todos compreenderam que Sísifo é o herói absurdo. É-o tanto pelas suas paixões como pelo seu tormento. O seu desprezo pelos deuses, o seu ódio à morte e a sua paixão pela vida valeram-lhe esse suplício indizível em que o seu ser se emprega em nada terminar. É o preço que é necessário pagar pelas paixões desta terra.
(…) A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. «Acho que tudo está bem» diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado. Ensina que nem tudo está bem, que nem tudo foi esgotado. (…)”
O único verdadeiro papel do homem, nascido num mundo absurdo, é viver, ter consciência da sua vida, da sua revolta, da sua liberdade. No mito de Sísifo, o homem aparece como um condenado ao terrível suplício de um trabalho inútil e sem esperança. É o castigo pelo desprezo pelos deuses, o ódio à morte e a paixão pela vida. É o preço a pagar pelas paixões da terra.

sábado, 1 de dezembro de 2012

A vida é uma ilusão

Do ponto de vista religioso, parece que a vida só tem sentido quando o seu fim último é alcançar a felicidade eterna. Então, a passagem terrena não é mais do que um calvário de sacrifícios, de mortificações, sem os quais não conseguiremos o currículo necessário que nos permita obter o passaporte para entrar no céu. Deste ponto de vista, até o mais inocente sonho de felicidade terrena pode ser pecaminoso e um entrave para «a verdadeira felicidade», que só poderá ser eliminado do nosso historial mediante um verdadeiro arrependimento e cumprimento do competente castigo. A vida terrena é uma mera passagem da nossa existência para chegar ao bem celestial e «todos os sacrifícios» são uma mais-valia para alcançar o objetivo final.
Contudo, para aqueles que não acreditam no misticismo mas acreditam que a vida é a nossa existência enquanto seres que habitam o planeta e termina para sempre com a morte, faz todo o sentido a procura constante da felicidade, da nossa felicidade e daqueles que nos são próximos, de sonhar e procurar realizar os nossos sonhos, de procurarmos ser felizes o mais possível e sentirmos que contribuímos para a felicidade dos outros, de nos sentirmos realizados.
Para cada um de nós a vida terá um sentido. Se para uns faz sentido arrostar com todos os sacrifícios para alcançar a felicidade eterna, para outros faz todo o sentido viver na procura (sempre) da felicidade, sonhar (principalmente acordado) e procurar realizar os seus sonhos sabendo que a vida nos traz muitos escolhos, mas é precisamente nas vitórias mais difíceis que a felicidade atinge o seu pleno.
No fundo, a vida é uma ilusão. Todos nós vivemos na procura dessa ilusão que é a felicidade. Uma felicidade que não é perene, mas bastas vezes efémera.
Uns gozam-na mais, outros têm menos, mas cada caso é um caso e não há medida quantificável para isso.