quinta-feira, 1 de maio de 2025

SANGUEDO – SANTA MARIA DA FEIRA

Geograficamente situada na parte setentrional do concelho de Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, a cerca de 12 km da sede do concelho e 17 km da cidade do Porto, a freguesia de Sanguedo é limitada a Sul e Este pelo rio Uíma (que também foi chamado Gaeta em razão de passar pelo lugar desse nome, na freguesia de Vila Maior), confina com as freguesias de Argoncilhe, Fiães, Lobão, Vila Maior e Sandim, esta última a NE e pertencente ao concelho de Vila Nova de Gaia.
Com cerca de 4,31 Km2 (IGP/2013) e 3474 habitantes (censo de 2021), esta freguesia tem, por isso, uma densidade populacional de 806 hab./Km2.


O brasão de Sanguedo é formado por um escudo de púrpura com a imagem de Santa Eulália (padroeira protetora) com túnica branca e manto de vermelho, dois ramos de sanguinos à esquerda e à direita e duas espigas de milho, folhas em ponta com os pés cruzados em aspa, tudo em ouro. Coroa mural de prata com três torres e listel branco com legenda a negro e em maiúsculas “SANGUEDO”.
Bandeira esquartelada de purpura e amarelo e estandarte com cordões e borlas de ouro e púrpura, haste e lança de ouro.

Sanguedo tem origem antiquíssima. Nos dicionários geográficos do século XVIII e anteriores, vem designada como Sanguedo, havendo quem afirme que seu verdadeiro nome era São Guêdo, que terá sido o primeiro padroeiro da povoação. Também era vulgarmente conhecida por Terreiro ou Santa Eulália do Terreiro.
Em 1757, tinha esta freguesia 152 fogos e era seu orago Santa Eulália.
O seu reitor era apresentado pelo real padroado, tinha 170$000 reis de rendimento e o pé d’altar (rendimento dos serviços religiosos). Tinha uma boa residência e passais sofríveis.
A igreja matriz, ainda que muito antiga, é um bonito templo e bem conservado em razão dos bons materiais de que foi construído, está situada numa bonita planície e com extensas vistas.
Terra fértil em todos os géneros agrícolas, criando muito gado bovino, que exporta. Faz negócio constante com a cidade do Porto.
A freguesia é cortada pela nova estrada, em construção, (1874) para unir Gaia à Feira e à estação do caminho de ferro em Ovar
Tinha também uma feira a 24 de cada mês.

Segundo parece, o primeiro nome desta freguesia foi Sanganhedo ou Sangunhedo.
Por documentos que existiram no mosteiro de Pedroso, Gaia, sabe-se que:
Gondezindo, filho d'Ero e sua mulher, Enderquina Pala, filha de capitão Mendo Guterres, tiveram (Gondezindo e Pala) quatro filhos: — Soeiro, Ermesinda, Adosinda e Froila.
No dia 9 das calendas de março, da era de Cesar 933 (27 de fevereiro do ano 897(?) de J.C), (933=895; 935=897) o dito Gondezindo e sua mulher doaram ao mosteiro de monges e monjas, da ordem de S. Bento, do Salvador, de Labra (o Salvador é ainda o padroeiro da freguesia de Lavra, no concelho de Bouças, hoje Matosinhos) junto à praia do mar (fundato ab antiqua in ripa maris) e pouco ao N. de Matosinhos, os três mosteiros da mesma ordem, e também dobrados, que haviam fundado, que eram:
1º — S. Miguel, d'Azevedo (hoje ainda este lugar conserva o nome oficial de Azevedo, mas denominava-se vulgarmente, Azeveduce, na freguesia de S. Jorge de Caldelas (Caldas de S. Jorge), do concelho da Feira — para a distinguir de outra do mesmo nome, a 4 quilómetros ao N.E. desta, e na freguesia de Gião, do mesmo concelho. Deste mosteiro de S. Miguel, de Azevedo, não existe o mínimo vestígio.
2º — SÃO CHRISTOVAM DE SANGANHÊDO, onde já havia uma antiga igreja de Santa Eulália, entre Douro e Vouga. (Santa Eulália, é ainda atualmente a padroeira da freguesia de Sanguedo. Vê-se, portanto, que esta paróquia já existia antes da invasão dos mouros na Lusitânia, em 716.)

Não sei se ainda existem vestígios deste antiquíssimo mosteiro, junto à igreja; e formava parte dele, e também não sei se ainda é a atual residência do pároco — já se sabe, muitas vezes reconstruída.

3º — S. Pedro, de Dide, entre o Douro e Tâmega. (?) Esta doação foi feita, sendo abade do mosteiro de Lavra, D. Desterigo, e com a condição de ser neste mosteiro religiosa, sua filha, D. Froila, à qual deram também os doadores, 100 escravos, para que a servissem em sua vida e, por sua morte, ficassem forros, bem como suas mulheres, filhos e netos. «Et non habeant licentiam ex genere meo acrepantandi illos, pro servitio.» (E não terão licença de tratar com rigor os escravos, por causa do trabalho. Acrepantar, era um verbo do antigo português, e significava, subjugar, obrigar ao trabalho, tratar com rigor, etc.)

Todos estes três mosteiros foram findados em quintas dos doadores.
Ainda na mesma data, Gondezindo e sua mulher, doaram também ao mosteiro de Lavra (no qual sua filha Adosinda se havia feito religiosa), entre outros muitos bens, os padroados das seguintes igrejas:
1ª — Santa Eulália, de Gondomar.
2ª — São Pedro, de Kauso. (?)
3ª — São Martinho, de Valongo. (Hoje, São Martinho do Campo, no concelho de Valongo.)
A doação foi feita — «ad Fratres, el Sorores, qui ibi sunt avitantes, vel qui ibidem Dominus super duxerint, et in vita Sancta perceberint, sub manus de ipsa Abba, et de ipsa filia mea, jam superius nominatis.» (aos irmãos e irmãs que ali estão, evitando, ou que o Senhor conduziu até ali e que alcançaram uma vida santa, pelas mãos do mesmo abade e da minha própria filha, já referidas anteriormente).
Protestaram os doadores, que era sua suprema vontade, que em nenhum tempo, e sob qualquer pretexto, se possam estes bens vender, dar, doar, ou por outro qualquer modo alienar do dito mosteiro, etc.
Na primeira doação que fica referida, onde se inclui o mosteiro de Sanganhedo (a), declaram os doadores que sua filha Froila nascera tão aleijada e contrafeita, que se não podia sentar; o que atribuíam a castigo das suas culpas (deles doadores). E para que Deus lhes perdoasse, libertaram todos os seus escravos e separaram a quinta parte de todos os seus bens, que eram imensos, e com ela fundaram e largamente dotaram os três mosteiros beneditinos, duplex, da primeira doação, e que nela doaram ao mosteiro de Lavra, do qual era então abadessa, D. Gelvira.
A D. Adosinda deram também 100 escravos forros, d'ambos os sexos, para a servirem enquanto ela vivesse.
Esta mesma senhora, depois da morte de sua mãe, fundou com várias herdades do seu dote, o mosteiro de S. Martinho d'Avintes, sobre a margem esquerda do Douro, e a 3 quilómetros ao E. do Porto; ao qual seu pai doou o senhorio da mesma vila d'Avintes.
Estas escrituras de doação acham-se originais no arquivo da universidade de Coimbra.

(a) Houve na freguesia de Lavra, Matosinhos, um antiquíssimo convento duplex (de ambos os sexos) da Ordem de S. Bento, fundado no tempo dos suevos. Chamava-se mosteiro de S. Salvador de Labra. Em 897, doou D. Gundezindo a este mosteiro fundato ab antiquo in ripa maris (no qual sua filha Adosinda se tinha feito religiosa) muitas igrejas, e entre elas Santa Eulália de Gondemar, S. Pedro de Kauso e S. Martinho de Vallongo, Sever do Vouga, Várzea de Carvoeiro, Bigas e Esmoriz.

N'esta doação (que era muito grande) se diz que D. Gundezindo era filho de Ero e casara com Enderquina Pala, filha do capitão Mendo (ou Mem) Guterres, da qual teve estes filhos: Sueiro, Ermisinda, Adosinda & Froilo, e que esta (Froilo) nascera tão aleijada, que se não podia sentar; o que, atribuindo seus pais a castigo das suas culpas, libertaram seus escravos e separaram a quinta parte dos seus muitos bens, com que fundaram e largamente dotaram três convénios nas suas próprias terras, a saber : — o de S. Miguel Archanjo e seus companheiros, em Azevedo (freguesia das Caldas de S. Jorge, no concelho da Feira) — o de S. Christovão e seus companheiros, em Sanganhêdo (hoje Sanguedo ou Terreiro, ou simplesmente Sanguedo, também no concelho da Feira) onde havia uma antiga egreja de Santa' Eolalia; ambas entre Vouga e Douroe o de S. Pedro de Dide, entre Douro e Tâmega. Os quaes entregaram ao abbade Dom Desterigo, para que n'elles fosse religiosa sua filha Froilo, debaixo da obediência da abbadessa D. Gelvira, dando-lhe 100 escravos forros, entre homens e mulheres, para que a servissem em quanto fosse viva. E que, ficando vivo Gundezindo, elle e sua filha Adosinda, fundaram o mosteiro de S. Martinho d'Avintes. Esta Adosinda se meteu depois freira em Lavra. (Documento da Universidade de Coimbra).

Conhecida como a Capital da Fórmula ROLL, a freguesia de Sanguedo, apesar de uma vetusta fisionomia rural e laboriosa por tradição, foi, até há relativamente pouco tempo, um centro aglutinador de pequenas indústrias caseiras, às quais se sobrepõe atualmente um conjunto diversificado de pequenas e médias estruturas empresariais, que emerge em função e por inerência das necessidades da vida moderna, destacando-se, entre todas, a indústria da construção civil.
Mesmo sendo, em termos populacionais, uma das freguesias menos povoadas do concelho, pode dizer-se que a sua vivência sociocultural é das mais ricas. Alicerçada em coletividades que desempenham um papel fundamental nesta área, como acontece por exemplo com a dinâmica “Juventude de Sanguedo”, possui um moderno edifício sede da Junta de Freguesia, onde funciona o Posto de Assistência e Serviço Médico Social e a Biblioteca, para além do conjunto de escolas primárias e pré-primárias, do Centro Social de apoio à terceira idade, Rancho Folclórico Santa Eulália, Unidos do Pedal-Clube BTT, União Columbófila, etc., que convergem no sentido de dar resposta aos mais profundos anseios da população.
Sanguedo pode orgulhar-se da sua vida associativa e cultural, que assim garante, de forma eficaz, a transmissão das tradições mais genuínas às gerações presentes e vindouras.

Fontes:

Leal, Pinho; Portugal Antigo e Moderno, Vol. 1, pág. 292; Vol. 3, págs. 344 e 345; Vol. 4, págs. 59 e 60; Vol. 8, págs. 391 a 393.

https://www.jf-sanguedo.pt/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sanguedo

https://www.heraldicacivica.pt/vfr-sanguedo.html#gsc.tab=0