Geograficamente
situada na parte setentrional do concelho de Santa Maria da Feira, distrito de
Aveiro, a cerca de 12 km da sede do concelho e 17 km da cidade do Porto, a freguesia
de Sanguedo é limitada a Sul e Este pelo rio Uíma (que também foi chamado Gaeta
em razão de passar pelo lugar desse nome, na freguesia de Vila Maior), confina com as
freguesias de Argoncilhe, Fiães, Lobão, Vila Maior e Sandim, esta última a NE e
pertencente ao concelho de Vila Nova de Gaia.
Com cerca de
4,31 Km2 (IGP/2013) e 3474 habitantes (censo de 2021), esta
freguesia tem, por isso, uma densidade populacional de 806 hab./Km2.
O brasão de
Sanguedo é formado por um escudo de púrpura com a imagem de Santa Eulália
(padroeira protetora) com túnica branca e manto de vermelho, dois ramos de
sanguinos à esquerda e à direita e duas espigas de milho, folhas em ponta com
os pés cruzados em aspa, tudo em ouro. Coroa mural de prata com três torres e
listel branco com legenda a negro e em maiúsculas “SANGUEDO”.
Bandeira
esquartelada de purpura e amarelo e estandarte com cordões e borlas de ouro e
púrpura, haste e lança de ouro.
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⛩Sanguedo tem
origem antiquíssima. Nos dicionários geográficos do século XVIII e anteriores,
vem designada como Sanguedo, havendo quem afirme que seu verdadeiro nome era
São Guêdo, que terá sido o primeiro padroeiro da povoação. Também era
vulgarmente conhecida por Terreiro ou Santa Eulália do Terreiro.
Em 1757, tinha
esta freguesia 152 fogos e era seu orago Santa Eulália.
O seu reitor
era apresentado pelo real padroado, tinha 170$000 reis de rendimento e o pé
d’altar (rendimento dos serviços religiosos). Tinha uma boa residência e
passais sofríveis.
A igreja
matriz, ainda que muito antiga, é um bonito templo e bem conservado em razão
dos bons materiais de que foi construído, está situada numa bonita planície e
com extensas vistas.
Terra fértil em
todos os géneros agrícolas, criando muito gado bovino, que exporta. Faz negócio
constante com a cidade do Porto.
A freguesia é
cortada pela nova estrada, em construção, (1874) para unir Gaia à Feira e à
estação do caminho de ferro em Ovar
Tinha também
uma feira a 24 de cada mês.
⚔
Segundo parece,
o primeiro nome desta freguesia foi Sanganhedo ou Sangunhedo.
Por documentos
que existiram no mosteiro de Pedroso, Gaia, sabe-se que:
Gondezindo,
filho d'Ero e sua mulher, Enderquina Pala, filha de capitão Mendo Guterres,
tiveram (Gondezindo e Pala) quatro filhos: — Soeiro, Ermesinda, Adosinda e
Froila.
No dia 9 das
calendas de março, da era de Cesar 933 (27 de fevereiro do ano 897(?) de J.C),
(933=895; 935=897) o dito Gondezindo e sua mulher doaram ao mosteiro de
monges e monjas, da ordem de S. Bento, do Salvador, de Labra (o Salvador é
ainda o padroeiro da freguesia de Lavra, no concelho de Bouças, hoje Matosinhos)
junto à praia do mar (fundato ab antiqua in ripa maris) e pouco ao N. de Matosinhos, os três
mosteiros da mesma ordem, e também dobrados, que haviam fundado, que eram:
1º — S. Miguel,
d'Azevedo (hoje ainda este lugar conserva o nome oficial de Azevedo, mas
denominava-se vulgarmente, Azeveduce, na freguesia de S. Jorge de Caldelas
(Caldas de S. Jorge), do concelho da Feira — para a distinguir de outra do
mesmo nome, a 4 quilómetros ao N.E. desta, e na freguesia de Gião, do mesmo
concelho. Deste mosteiro de S. Miguel, de Azevedo, não existe o mínimo
vestígio.
2º — SÃO
CHRISTOVAM DE SANGANHÊDO, onde já havia uma antiga igreja de Santa Eulália,
entre Douro e Vouga. (Santa Eulália, é ainda atualmente a padroeira da
freguesia de Sanguedo. Vê-se, portanto, que esta paróquia já existia antes da
invasão dos mouros na Lusitânia, em 716.)
Não sei se ainda
existem vestígios deste antiquíssimo mosteiro, junto à igreja; e formava parte
dele, e também não sei se ainda é a atual residência do pároco — já se sabe,
muitas vezes reconstruída.
3º — S. Pedro,
de Dide, entre o Douro e Tâmega. (?) Esta doação foi feita, sendo abade do
mosteiro de Lavra, D. Desterigo, e com a condição de ser neste mosteiro
religiosa, sua filha, D. Froila, à qual deram também os doadores, 100 escravos,
para que a servissem em sua vida e, por sua morte, ficassem forros, bem como
suas mulheres, filhos e netos. «Et non habeant licentiam ex genere meo
acrepantandi illos, pro servitio.» (E não terão licença de tratar com rigor os escravos, por causa do
trabalho. Acrepantar, era um verbo do antigo português, e significava, subjugar, obrigar
ao trabalho, tratar com rigor, etc.)
Todos estes
três mosteiros foram findados em quintas dos doadores.
Ainda na mesma
data, Gondezindo e sua mulher, doaram também ao mosteiro de Lavra (no qual sua filha Adosinda se havia feito
religiosa), entre outros
muitos bens, os padroados das seguintes igrejas:
1ª — Santa Eulália, de
Gondomar.
2ª — São Pedro, de
Kauso. (?)
3ª — São Martinho, de
Valongo. (Hoje, São
Martinho do Campo, no concelho de Valongo.)
A doação foi
feita — «ad Fratres, el Sorores, qui ibi sunt avitantes, vel qui
ibidem Dominus super duxerint, et in vita Sancta perceberint, sub manus de ipsa Abba, et de ipsa filia mea, jam superius
nominatis.» (aos irmãos e irmãs que ali estão, evitando, ou que o
Senhor conduziu até ali e que alcançaram uma vida santa, pelas mãos do mesmo abade
e da minha própria filha, já referidas anteriormente).
Protestaram os
doadores, que era sua suprema vontade, que em nenhum tempo, e sob
qualquer pretexto, se possam estes bens vender, dar, doar,
ou por outro qualquer modo alienar do dito mosteiro, etc.
Na primeira
doação que fica referida, onde se inclui o mosteiro de Sanganhedo (a), declaram os
doadores que sua filha Froila nascera tão aleijada e contrafeita, que se não
podia sentar; o que atribuíam a castigo das suas culpas (deles doadores). E
para que Deus lhes perdoasse, libertaram todos os seus escravos e separaram a
quinta parte de todos os seus bens, que eram imensos, e com ela fundaram e
largamente dotaram os três mosteiros beneditinos, duplex, da primeira doação, e
que nela doaram ao mosteiro de Lavra, do qual era então abadessa, D. Gelvira.
A D. Adosinda
deram também 100 escravos forros, d'ambos os sexos, para a servirem enquanto
ela vivesse.
Esta mesma
senhora, depois da morte de sua mãe, fundou com várias herdades do seu dote, o
mosteiro de S. Martinho d'Avintes, sobre a margem esquerda do Douro, e a 3
quilómetros ao E. do Porto; ao qual seu pai doou o senhorio da mesma vila
d'Avintes.
Estas escrituras de doação acham-se originais no arquivo da universidade de Coimbra.
(a) Houve na
freguesia de Lavra, Matosinhos, um antiquíssimo convento duplex (de ambos os sexos) da Ordem de S. Bento, fundado no tempo dos
suevos. Chamava-se mosteiro de S. Salvador de Labra. Em 897, doou D. Gundezindo a este mosteiro fundato ab antiquo in
ripa maris (no qual sua filha Adosinda se tinha feito religiosa)
muitas igrejas, e entre elas Santa Eulália de Gondemar, S. Pedro de
Kauso e S. Martinho de Vallongo, Sever do Vouga, Várzea de
Carvoeiro, Bigas e Esmoriz.
N'esta doação
(que era muito grande) se diz que D. Gundezindo era filho de Ero e casara com Enderquina Pala, filha do capitão Mendo (ou Mem) Guterres,
da qual teve estes filhos: Sueiro, Ermisinda, Adosinda
& Froilo, e que esta (Froilo) nascera tão aleijada, que se
não podia sentar; o que, atribuindo seus pais a castigo das suas culpas, libertaram
seus escravos e separaram a quinta parte dos seus muitos bens, com que
fundaram e largamente dotaram três convénios nas suas próprias terras, a
saber : — o de S. Miguel Archanjo e seus companheiros, em Azevedo (freguesia
das Caldas de S. Jorge, no concelho da Feira) — o de S. Christovão e seus
companheiros, em Sanganhêdo (hoje Sanguedo ou Terreiro, ou simplesmente
Sanguedo, também no concelho da Feira) onde havia uma antiga egreja de
Santa' Eolalia; ambas entre Vouga e Douro — e o de S. Pedro de Dide,
entre Douro e Tâmega. Os quaes entregaram ao abbade Dom Desterigo, para que
n'elles fosse religiosa sua filha Froilo, debaixo da obediência da abbadessa D.
Gelvira, dando-lhe 100 escravos forros, entre homens e mulheres, para que a
servissem em quanto fosse viva. E que, ficando vivo Gundezindo, elle e sua
filha Adosinda, fundaram o mosteiro de S. Martinho d'Avintes. Esta Adosinda se
meteu depois freira em Lavra. (Documento da Universidade de Coimbra).
⚒
Conhecida como
a Capital da Fórmula ROLL, a freguesia de Sanguedo, apesar de uma vetusta fisionomia
rural e laboriosa por tradição, foi, até há relativamente pouco tempo, um centro
aglutinador de pequenas indústrias caseiras, às quais se sobrepõe atualmente um conjunto diversificado de pequenas e médias estruturas empresariais, que
emerge em função e por inerência das necessidades da vida moderna,
destacando-se, entre todas, a indústria da construção civil.
Mesmo sendo, em termos populacionais, uma
das freguesias menos povoadas do concelho, pode dizer-se que a sua vivência sociocultural
é das mais ricas. Alicerçada em coletividades que desempenham um papel
fundamental nesta área, como acontece por exemplo com a dinâmica “Juventude de
Sanguedo”, possui um moderno edifício sede da Junta de Freguesia, onde funciona
o Posto de Assistência e Serviço Médico Social e a Biblioteca, para além do
conjunto de escolas primárias e pré-primárias, do Centro Social de apoio à
terceira idade, Rancho Folclórico Santa Eulália, Unidos do Pedal-Clube BTT,
União Columbófila, etc., que convergem no sentido de dar resposta aos mais
profundos anseios da população.
Sanguedo pode orgulhar-se da sua vida
associativa e cultural, que assim garante, de forma eficaz, a transmissão das
tradições mais genuínas às gerações presentes e vindouras.
Fontes:
Leal, Pinho; Portugal Antigo e Moderno, Vol. 1, pág.
292; Vol. 3, págs. 344 e 345; Vol. 4, págs. 59 e 60; Vol. 8, págs. 391 a 393.
https://www.jf-sanguedo.pt/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sanguedo
https://www.heraldicacivica.pt/vfr-sanguedo.html#gsc.tab=0