Na galeria de
heróis da História de Portugal figuram apenas nomes masculinos. Se por um lado
se compreende, pois o homem é geralmente mais forte mais forte fisicamente e,
portanto, mais apto para o combate, não deixa de ser irónico que os heróis são
geralmente aqueles que em razão da sua posição social comandavam os exércitos,
e o seu heroísmo dependia dos que verdadeiramente lutavam, até porque nem
sempre o comandante marchava à frente dos seus homens, porque se o fizesse,
corria o risco de ser dos primeiros morrer e lá ficava o exército sem comando.
Quero com isto dizer que a vitória ou derrota numa batalha estava dependente,
entre vários fatores, da bravura, ou falta dela, daqueles que realmente
combatiam.
Ora, se aqueles heróis
não combatiam, mas dirigiam os exércitos, por que não eram esses exércitos
comandados por mulheres? Em inteligência e artes de dissimulação parece que são
até superiores aos homens. Talvez até houvesse menos guerras (ou mais, sabe-se
lá) na história dos povos, dado que os homens de antanho não quereriam ser
comandados por mulheres, recusariam ir combater e assim o mundo viveria
pacificamente.
Isto que estou
para aqui a dizer até parece fazer sentido, mas, se olharmos a nossa História,
verificamos que também tem (poucas, é certo) heroínas: Deu-la-Deu Martins;
Antónia Rodrigues, natural de Aveiro, a mulher-soldado e o terror dos
mouros; a Padeira de Aljubarrota; a Inês Negra, de Melgaço e a Maria
da Fonte.
A história destas
mulheres anda envolvida em lendas populares, numa mistura entre o que é suposto
ser real e o que a tradição oral foi contando ao longo dos tempos, onde os
pormenores variavam de contador para contador, confundindo-se a história com
estória.
Mas, se a lenda
das mulheres acima mencionadas faz mais ou menos parte do nosso imaginário, já
a história, ou estória, de Joana da Silva não aparece na galeria das
nossas heroínas, pelo que não resisto a contá-la aqui, segundo o que li.
Joana da Silva
nasceu pelos anos de 1530, em Peniche. Era uma mulher cheia de força e com uma
coragem de leão.
Estava esta
mulher na casa dos 50 anos, quando reinava em Portugal o neto de D. Manuel I, o
Filipe II de Espanha e cognominado Filipe I de Portugal.
Apesar da idade,
esta mulher era tão vigorosa nas suas forças e de tal ânimo, que o mais varonil
dos homens lhe cedia, sem controvérsia, toda a primazia. Envergonhava-se até de
lutar contra um só e até mesmo contra dois, o seu brio não admitia paralelismos.
Era mesmo capaz de enfrentar sozinha quatro ou cinco.
Numa discussão
com três castelhanos, de que muito se aborrecia, deixou-os em tal estado, que
foram precisos muitos tempos para se restabelecerem.
A outro que intentou
ofender a sua honra, desonrou-o com uma grande bofetada, e, porque este se quis vingar
da “insolência”, recebeu dela tal tratamento que ficou às portas da morte.
Para lá destas, outras
façanhas idênticas esta guerreira operou contra os espanhóis.
Desconhece-se a
data do seu falecimento.