A TERRA DE SANTA MARIA era antigamente uma vasta região
delimitada a Norte pelo rio Ave, que vai desde a sua nascente na serra da
Cabreira, em Vieira do Minho, até ao Atlântico, em Vila do Conde, e a Sul pelo
rio Caima, cuja nascente é na serra da Freita, indo desaguar no rio Vouga,
junto a Sernada do Vouga. Pelo Este, os limites deste território eram o rio
Arda, o qual nasce na União de Freguesias de Arouca e Burgo, indo entrar na
margem esquerdo do Douro, em Pedorido, Castelo de Paiva, e o rio Sousa, que nasce
em Friande, Felgueiras, desaguando na margem direita do mesmo Douro, na
freguesia de Foz do Sousa, Gondomar. Pelo Oeste todo este território era
banhado pelo Atlântico.
Mais tarde ao território que fica na margem direita do Douro passou a chamar-se
Terra da Maia, compreendendo tudo o
que fica entre o rio Douro e o rio Lima, de sul a norte, e o rio Sousa e o mar,
de leste a oeste.
Esta denominação de Terra de
Santa Maria, deu-se a partir da sua conquista aos mouros, nos séculos X e
XI.
A povoação que deu início àquela que hoje se denomina de Santa Maria da
Feira, ter-se-á iniciado com a fundação de uma colónia de galo-celtas, pelos
anos 390 a.C., com o nome de Lancobriga ou Langobriga.
Presume-se que o chefe dessa colónia se chamasse Lanca, e dele tomou a
povoação o nome. Na linguagem celta, Lancobriga
significa povoação, ou cidade de Lanco.
Há porém quem ache a fundação desta povoação ainda mais remota, em 2084
a.C., e que o seu fundador foi Brigo, 4º rei de Hespanha, baseando-se
unicamente na terminação briga, sem
acrescentar qualquer outro facto por onde se prove tal antiguidade.
O que está provado é que briga
é palavra céltica e que significa povoação, cidade, etc. Se briga, em alguns casos, indica povoação
fundada por Brigo ou em sua honra; o que podia ser muitos anos depois da sua
morte, na sua maior parte não exprime mais do que povoação ou cidade.
Também se afirma que a primitiva ocupação humana do sítio remonta à
pré-história e que adquiriu relevância quando os Lusitanos lá ergueram um
templo em honra da divindade Bandeve-Lugo
Tuerœs.
A Feira era uma fortaleza militar e a tradição oral e escrita diz-nos que
foram os mouros quem a fundou, mas o que parece não sofrer contestação é que
quando estes chegaram ao local onde se encontra o castelo, já lá existia uma
povoação, como o atestam inscrições romanas ali encontradas em 1912 e 1917, e
ainda uma última em 1937, esta bastante deteriorada, não sendo, por isso,
possível fazer a sua leitura. Estes achados parecem sugerir a existência de um
templo; o que leva a crer que deveria o povoado ter uma certa importância. Depois
a circunstância deste povoado estar no cimo de um outeiro; aliada à importância
que forçosamente teria, faz-nos acreditar ter havido no local um castro ou
castelo, para defensão dos moradores; o que induz que a fundação desta
fortaleza seja obra dos romanos e não dos mouros, como refere a tradição.
Consta no manuscrito “Crónica dos Godos” que noticia a vitória de
Bermudo III de Leão (1028-1037) sobre um chefe muçulmano em Terras de Santa
Maria, uma referência a esta fortificação. Será deste período a construção da
torre de menagem, com funções de alcáçova, protegida por uma cerca amuralhada,
da qual apenas restam vestígios.
Como aconteceu em todas as povoações da Península, a Feira sofreu as
consequências das constantes guerras da idade média, até que, cerca do século
I, caiu em poder dos romanos, exaurida de forças, e quási reduzida a mulheres e
crianças.
Porque os romanos achavam bárbara a terminação briga, esta foi latinizada
em todas as povoações da Lusitânia, alterando-se para brica, e assim Lancobriga
passou a chamar-se Lancobrica.
Próximo desta cidade passava a via militar romana, que de Mérida, então capital da Lusitânia,
vinha a Conimbriga (Condeixa a
Velha), Talábriga, Lancobriga; importante durante o domínio
romano, e Cale (Gaia), e que conduzia
até Bracara Augusta (Braga). Como era
uma estrada necessitada com frequência de reparações nos pântanos por onde
passava, tornando-se por isso muito dispendiosa, os árabes, no século IX,
construíram uma nova via de Coimbra a Porto
de Cale, pela cidade de Ӕminium (Águeda), seguindo um
traçado muito idêntico ao da antiga estrada real, mais tarde estrada nacional
1, de Lisboa para o Porto, que durou muitos anos e também conhecida por estrada mourisca.
Pinho Leal situa Talábriga em
Aveiro, mas também afirma que se diz que o seu primeiro assento “era onde hoje está a povoação de Cacia”
no entanto tudo indica que esta povoação romana se situava em Cabeço do Vouga
(Lamas do Vouga), na União de Freguesias de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga,
concelho de Águeda.
Por sua vez Lancobriga também
não seria a povoação junto ao castelo da Feira, mas no Monte (Redondo) de Santa
Maria (Castro de Fiães), freguesia de Fiães, no mesmo concelho de Santa Maria
da Feira (cerca de 8 km da sede do concelho). Escavações efetuadas no local, em
1971, especialmente na área a nascente da capela de Nossa Senhora da Conceição,
erguida aí mais tarde, permitiram colocar a descoberto uma zona bastante
revolvida e algum espólio balizado cronologicamente entre os séculos IV e V dC,
correspondendo a uma das fases de maior atividade registadas no sítio. Alguns
indícios de fragmentos encontrados apontam para a construção inicial desta
estação arqueológica em plena Idade do Ferro nesta região; a maioria dos
artefactos encontrados aponta para o período relativo à ocupação romana.
Sondagens efetuadas em 1980 permitiram localizar um troço da muralha erguida na
primeira fase da ocupação do local, correspondente à idade do ferro.
Em O Arqueólogo Português – 1ª
Série, Volume IV (1898), pág. 250, pode ler-se:
“219. Fiaes (Beira)
Sepulturas «mouriscas».
Freguesia de Santa
Maria. Comenda da Feira. – «Algũas antiguidades se descobrem nesta freguesia
como são as seguintes: No sitio da Capella da Senhora da Conceyção de que se
faz memsam no interrogatório 13 se tem por virozimel ser povoação de Mouros;
porque se achão pedaços de paredes de cantaria; muito tijolo, e muita cinza e
carvões indicios de cozinhas. Algum dinheiro de cobre com figuras e outros
crateres, cujos letreiros se não persebem e tambem se achou huma moeda de ouro
do tamanho de hũa de dezasseis tostões.
Tambem
se descobrem em outro oiteiro defronte da dita Capela enterrados debaxo da
terra altura de dous palmos varias panellas e salgadeiras de barro vermelho,
tapadas todas com louzas de pedra, todas com seus letreiros ao paresser de
letra mourisca e dentro das tais panellas ossos e carvões, metais sem se saber
que metal seja, pois tudo se acha quazi gasto; e dentro em alguns destes vazos
se achavão copos de feytio de calis, e em hum se descobrirão mais de cincoenta
vazos destes, de que hoje não ha nenhuns pois se quebrarão». (Tomo XV, fl.
411)”
No período do domínio romano e no princípio do gótico, Lancobriga
pertencia ao bispado de Mérida. Ao ser criado o bispado de Coimbra, os godos
retiraram do bispado de Mérida todo o território entre o Mondego e o Douro, e
outras terras, para constituírem o novo bispado, ficando Lancobriga a pertencer
ao bispado de Coimbra até 1195, passando então a ser do Porto.
Quando a Lusitânia foi invadida pelos povos do norte, Lancobriga ficou
a pertencer aos Visigodos, vulgarmente designados Godos.
É muito provável que foram os godos os construtores do atual castelo,
face à sua arquitetura e às suas seteiras
em forma de cruz. As seteiras das
fortalezas árabes eram em forma de um crescente.
Apresentando o castelo da Feira indícios de ser construção gótica, tal
não quer dizer que foi construído nos três séculos do seu domínio na Península,
uma vez que a arquitetura gótica sobreviveu por muitos séculos; no entanto
supõe-se que quando os muçulmanos ocuparam a Feira, já o castelo existia.
Pensa-se que durante o domínio árabe, Lancobrica conservou o seu nome
primitivo “Lancobriga”, não havendo
provas do contrário.
À medida que os cristãos foram conquistando território aos árabes e
tendo já conquistado toda a província do Minho até ao Porto, Afonso III de Leão
concedeu aos seus cavaleiros todas as terras que resgatassem a sul do Douro,
criando uma região administrativa e militar denominada Terras de Santa Maria, sendo a sua chefia numa fortaleza existente
em Santa Maria da Feira, a Civitas Sanctӕ Mariӕ, que funcionou
como base avançada da reconquista cristã e sentinela contra as invasões árabes
vindas do sul. Esta região abrangia todo o território conquistado desde o rio
Arda até ao mar e do rio Douro até ao rio Caima.
Em 990, no reinado de D. Bermudo II de Castela, o Gotoso, os condes Mem Guterres e Mem Lucídio, juntamente com os
senhores do Marnel, estando a então Lancobriga abandonada e muito destruída, a
reedificaram e povoaram de cristãos, reedificando também o seu castelo,
estrutura importante, naquele tempo, para a sua defensão.
Na Corografia Portuguesa, sobre Vila da Feira, se diz:
“T R A T A D O IV, Da Comarca, &
Ouvidoria da Feira. C A P I T V L O I. Da descrição da Vila da Feira. CINCO
léguas da Cidade do Porto para a parte do Sul, e duas do mar Oceano para o
Nascente, entre os dois celebrados rios Douro & Mondego, quási em igual
distância de um e outro, em um ameno e salutífero Vale tem seu assento a nobre
Vila da Feira, que povoaram pelos anos de 990. O Duque Mem Guterres e o Conde
Mem Lucídio, juntamente com os senhores de Marnel, todos mui chegados em
parentesco aos Reis de Leão, donde se chamaram Infanções antigos de Santa
Maria, como se chama toda esta terra, de que foram senhores os Condes da Feira,
que por muitos anos moraram no seu Castelo, que está em lugar iminente e foi
fundação dos Mouros. (…) É esta Vila
abundante de todos os frutos, caça, gado, carne de porco, linho, lenha e de
regalado peixe. Assistem ao seu governo civil um Ouvidor Letrado, que
apresentavam os Condes desta Vila, três Vereadores, um Procurador do Concelho,
Escrivão da Câmara, um Juiz dos Órfãos com seu Escrivão e Porteiro, quatro
Tabeliães do Judicial e Notas, Distribuidor, Inquiridor e Contador, um
Meirinho, um Alcaide, e é da Provedoria de Esgueira. Ao militar hum Capitão-mor
e Sargento-mor com treze Companhias da Ordenança da Vila e seu termo, que é mui
dilatado…”
É esta a versão mais corrente, mas há quem afirme existir um documento
de 897 em que aparece Mem Guterres como pai de Enderquina Pala e que Mem
Lucídio figura em documentos de 1014 a 1050. Assim sendo, é impossível que
juntos cometessem tal empreendimento. O mais provável é ter havido duas
reedificações e não uma só.
O lendário guerreiro árabe Almançor, no ano 1000, por duas vezes invadiu
a região, conquistou o castelo e arrasou a povoação, voltando sempre a ser
reconquistada e reconstruída pelos cristãos, mantendo o seu nome de Civitas Sanctӕ Mariӕ.
Esta região foi de novo invadida no reinado de Bermudo III (1028-1037),
mas foram os mouros desbaratados na batalha de Cesar, povoação que ainda hoje
mantém esse nome e é freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis. Também aqui
há controvérsia, pois há quem aponte como data desta batalha o ano de 1045,
mais exatamente a 10 de abril. O que parece certo é que Bermudo III faleceu
em1037.
Durante muito tempo a Terra de Santa Maria foi zona de fronteira com os
árabes. Depois da conquista de Coimbra (1064 ou1067), por Fernando I de Leão, o
Magno, funcionou como “viveiro” de
cavaleiros e peões que alimentava as tropas da frente sul, só possível pelo carácter
permanente da organização militar instalada na Terra de Santa Maria.
Os descendentes de Mem Lucídio, de Mem Guterres e dos senhores do
Marnel, ganharam o nobre título de infanções
de Santa Maria, título inferior ao de rico-homem, equivalente a escudeiro,
fidalgo que regia terras ou era guarda de castelos. Título que se atribuía aos
filhos segundos e capitães das tropas dos Infantes, assim como se dizem
Infantes aos filhos segundos dos reis.
No Portugal Antigo e Moderno, Volume Segundo, (pág. 351) se diz
que o moçárabe D. Sisnando:
«Desgostoso com o emir (de Sevilha) entrou ao
serviço de Fernando Magno, rei de Leão e Castella, e tanto se distinguiu pela
sua intelligencia e bravura, que D. Fernando o fez conde (governador) das
terras portuguesas ao sul do Douro, ás quais serviam de limite, pelo E. a linha
de Lamego, Viseu e Cea, e de fronteira pelo SE. a vertente N. da serra da
Estrella, cujo território formava então o condado de Coimbra.
Era
também senhor das Terras de Santa Maria (hoje Terra da Feira).»
A Terra de Santa Maria era tida em tanta conta pelos reis de Castela e
pelos primeiros Reis de Portugal, que todo o cavaleiro ali nascido tinha foros
e privilégios de infanção e todos os
peões tinham foro de cavaleiros. Os primeiros infanções que houve em Portugal
foram os da Terra de Santa Maria.
Quando, em 1093, o conde D. Henrique tomou posse de Condado
Portucalense, confirmou todos os foros e privilégios da Terra de Santa Maria e
lhe deu foral em 1109, em que dava a esta povoação o título de vila. Este foral
vem mencionado nas inquirições tiradas no mês de agosto de 1251.
Com a morte do conde D. Henrique, senhor do condado Portucalense,
passou este a ser governado pela viúva D. Teresa, a qual se deixou envolver pelo
fidalgo galego, Fernão Peres de Trava, que por sua vez estava ao serviço do
arcebispo de Compostela D. Diogo Gelmires, assumindo na prática este Fernão
Peres de Trava o governo do condado. Era intenção de D. Diogo Gelmires submeter
o Condado Portucalense. Pouco a pouco a pequena burguesia portucalense foi
sendo substituída por gentes da Galiza. Mais tarde este ataque económico e
administrativo estendeu-se aos grandes senhores de terras e de poder, quer
norte, quer a sul do Douro. As famílias Moniz: Ermígio, Mendo e Egas (de Riba
Douro), Sousas (da Maia), Nuno Soares (de Grijó) e a família de Pero Gonçalves
(do Marnel), famílias com vastas propriedades, quer no Alto Minho e Lamego,
quer na Terra de Santa Maria, viram-se confrontadas com a ameaça de perderem cargos,
prestígio e bens, em função de uma campanha, primeiro subtil e depois frontal,
orquestrada do exterior.
Destas famílias tiveram destaque dois nomes: Ermígio Moniz e Pero
Gonçalves do Marnel.
O primeiro era alcaide do castelo de Neiva ao tempo da revolta, mas
antes tinha sido afastado do governo da Terra de Santa Maria e de alcaide do
castelo. Era figura muito próxima do infante D. Afonso Henriques e irmão do
célebre Egas Moniz, que também tinha sido afastado da Terra de Lamego. O
segundo, Pero G. de Marnel, tinha sido substituído no governo de Coimbra pelo
próprio Fernão Peres de Trava, e ao tempo da revolta (1127/1128) era governador
da Terra de Santa Maria e alcaide do castelo. Fernão Peres de Trava passava
assim a ocupar o governo de dois polos fundamentais do Condado Portucalense – o
de Portucale e o de Coimbra.
A este movimento de revolta esteve ligado o infante D. Afonso
Henriques, que também não via com bons olhos a situação e começava a temer o
futuro que lhe estava a ser reservado.
Foi neste espaço geográfico delimitado por acidentes naturais muito
fortes, que se desenvolveu um espaço económico muito importante,
vivendo numa grande complementaridade de subsistência: as serranias davam-lhe a
caça, a pastorícia e abundância de madeira. Os rios que a atravessavam e a
extensa orla marítima, asseguravam-lhe a pesca. Nas planícies que se estendiam
de leste para o mar era o cultivo de cereais e do vinho. Uma próspera zona de
extração de sal garantia este elemento indispensável à conservação dos
alimentos. A par disto, uma notável rede viária assegurava um comércio intenso
num local de passagem obrigatório entre Coimbra e o Porto. Junto ao Castelo, a
realização de grandes feiras comerciais acabou por dar o nome à povoação:
Feira (já em 1117).
Era um espaço militar muito forte apoiado numa
organização militar permanente para defesa contra as incursões árabes e também
um espaço cultural servido por dezenas de cenóbios e pelos grandes
mosteiros de Grijó e de Pedroso, institutos religiosos que davam àquelas
gentes, para além de um esquema de valores cristãos, a possibilidade de
funcionarem como centros administrativos para a redação de documentos. Tudo
isto, acabou por gerar um clima de "autossuficiência de vida" e
"uma identidade peculiar", de que algumas linhas mestras perduram até
aos nossos dias.
Esta pujança da sua vida económica, o poderio da sua força militar
organizada e o estímulo do sentimento de independência, acabaram por
desempenhar um papel decisivo na formação e consolidação da nacionalidade
portuguesa com o levantamento coletivo que teve o seu epílogo
na batalha de S. Mamede, em 1128. Os homens de Santa Maria avançaram para
Guimarães – então capital de poder político – onde o infante D. Afonso já se
encontrava a mobilizar as gentes daqueles sítios. Para lá se dirigiu, a norte
do Douro e a partir do castelo de Neiva Ermígio Moniz.
Em socorro de Guimarães partiu Fernão Peres de Trava com as suas
tropas, reforçado com as tropas galegas que se lhe juntaram no castelo de
Lanhoso.
As forças em confronto defrontaram-se a 13 (ou 24?) de junho de 1128,
saindo as forças portuguesas vencedoras. Esta batalha foi um marco indiscutível
da nossa história, na sequência de um movimento independentista coletivo,
abrangendo uma grande área de condado, quer a norte, quer a sul do Douro. Foi a
tentativa galega de extinguir rapidamente este movimento latente, que acabou
por precipitar a mesma independência. A grande importância que tiveram neste
movimento militar as duas personagens fortemente ligadas à Terra e ao Castelo
de Santa Maria: Pero Gonçalves de Marnel e Ermígio Moniz, é evidenciada por
Alexandre Herculano (História de Portugal, 8ª
edição, tomo II, livro I e II, 1ª parte, pág. 265-BNP) quando refere a
carta de couto de S. Vicente de Fragoso, dado pelo infante (D. Afonso) a 4 de
dezembro de 1127, “Há nele a
circunstância de figurar entre os confirmantes Ermígio Moniz, o célebre conde
ou senhor da terra da Feira e o personagem talvez mais influente na revolução
do ano seguinte.”
A Terra de Santa Maria pode ser considerada como uma região que, no
caso de ter estabelecido uma ligação preferencial a Coimbra, teoricamente teria
inviabilizado a construção de um novo Reino. Associando-se a Portucale e
garantindo o seu prolongamento em direção à mesma cidade de Coimbra, acabou por
constituir o elo de ligação com ela. Por isto, bem pode dizer-se que a Terra de
Santa Maria é a TERRA MÃE DE PORTUGAL.
É a partir daqui que Afonso Henriques se intitula rei de Portugal,
vindo a sua independência a ser confirmada mais tarde pelos reis de Espanha e
pelo papa.
Há, com data de 1 de junho de 1212, foral velho de D. Afonso II, que dá
a Canedo (atual freguesia do concelho) o título de vila.
D. Afonso III concedeu foral à Feira em 1270, e D. Manuel I lhe deu
novo foral a 10 de fevereiro de 1514. Este foral abrangia não só a vila, mas
diversas povoações, e o seu título é: Foral
das Terras de Santa Maria.
Sobre o castelo da Feira consta também que D. Dinis o doou à rainha
Santa Isabel. As desavenças entre o rei D. Dinis e o infante herdeiro D.
Afonso, aquando da sua revolta por causa do coirmão Afonso Sanches, levaram a
que D. Afonso, entre outros, tomasse o castelo da Feira em 1322, sendo na
altura alcaide-mor Gonçalo Rodrigues de Freitas. Com a intervenção da
rainha-mãe, estas desavenças entre pai e filho foram sanadas com o juramento de
lealdade do infante perante a mãe e muitos fidalgos, em Pombal, e depois, em
maio de 1323, em Leiria, D. Dinis jurou aceitar as condições do juramento
anteriormente feito. No Portugal Antigo e Moderno, Volume Segundo, pág.
236, o autor afirma que estas desavenças foram sanadas em Santarém, a 25 de
fevereiro de 1325.
D. Fernando I fez mercê da Terra de Santa Maria ao irmão de D. Leonor de
Teles, o conde de Barcelos, D. Afonso Tello. Após a morte de D. Fernando, este
apoderou-se do castelo mas foi vencido por D. Gonçalo Coutinho, que se
encontrava ao serviço do mestre de Avis. Mais tarde o mestre de Avis, já D.
João I, rei de Portugal, fez mercê do castelo ao seu camareiro-mor João
Rodrigues de Sá, depois confirmada a seu filho Fernão de Sá, por D. Duarte.
Como Afonso Tello estava por Castela, D. João I doou todas as terras que lhe
pertenciam (Terra de Santa Maria), a Fernão Pereira. Assim, na altura da
doação, o domínio do castelo ficou separado do domínio das terras de Santa
Maria. A posse do castelo era mais honorífica que de proveito e, por isso, a
família Sá se foi desinteressando dele, deixando-o chegar a um estado de
abandono. Perante isto Fernão Pereira terá instado D. Afonso V no sentido de o
recuperar à sua própria custa, o que foi feito.
À criação do Condado da Feira foi atribuída a data de 14 de janeiro de
1452, por D. Afonso V, mas ao que parece tal não terá sido assim, pois Rui Pereira,
depois D. Rodrigo Pereira 1º conde da Feira, teria então entre 21 e 24 anos,
sendo ainda menor e estando ainda vivo seu pai, Fernão Pereira, senhor da Terra
de Santa Maria. Não se encontra o registo da atribuição deste título, mas há
uma primeira referência ao conde D. Rodrigo Pereira no alvará de 16 de maio de
1481, ainda em vida de D. Afonso V, alvará registado na Chancelaria de D. João
II, livro 3º, folhas 43 v.
Uma outra versão nos diz que D. Afonso V entregou, em 1448, o castelo
da Feira a Fernão Pereira, com a incumbência de o restaurar, sendo dessa época
a imagem arquitetónica que apresenta hoje, e cerca de 24 anos depois, em 12 de
janeiro de 1472, nomeou a Rui Pereira (depois D. Rodrigo Pereira) como 1º conde
da Feira e senhor da Terra de Santa Maria. Ficam aqui estas duas versões até
que as dúvidas se esclareçam.
A família dos Pereiras era o ramo primogénito do conde Mem Guterres, de
sangue godo, e foram donatários da Feira. O castelo conservou-se na posse da
família até ao falecimento do oitavo e último conde, pois este não deixou
sucessão. D. Pedro II integrou-o nos bens da Casa do Infantado com as suas
terras anexas, os quais, a seguir ao triunfo da monarquia liberal, foram
vendidos em hasta pública (1837). A partir daqui entrou o castelo num período
de abandono. Mais tarde, em 1881, foi classificado como monumento nacional.
Apesar de tudo, durante o período em que esteve votado ao abandono
pelas autoridades, foi recebendo algumas benfeitorias de privados que se
interessaram pela sua conservação, evitando-se a sua ruina completa.
Foram condes da Feira:
1º Conde – Rui Pereira – D. Rodrigo Pereira (1428-31†1486): 2º Conde –
D. Diogo Pereira (1457-61 † 17/7/1509); 3º Conde – D. Manuel Pereira (1488 †
4/10/1552); 4º Conde – D. Diogo Forjaz Pereira (1514 † 26/11/1578); 5º Conde –
D. João Forjaz Pereira (1563? † 15/5/1608); 6ºs Condes – D. Joana Forjaz
Pereira de Meneses e Silva (1607 † ?) D. Manuel Forjaz Pereira Pimentel (? †
?/6/1647); 7º Conde – D. João Forjaz Pereira Pimentel (1628 † 4/6/1660); 8º
Conde – D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel (1629 † 15/1/1700).
O condado da Feira era um dos maiores e melhores de Portugal, dado que
abrangia toda a Terra de Santa Maria, já então chamado vulgarmente Terra da
Feira, embora oficialmente fosse, até 1834, Terra de Santa Maria.
A comarca da Feira chegou a ser uma das maiores do país. Uma parte
pertenceu à correição de Barcelos e a outra parte à de Esgueira, passando depois
toda para esta última, e mais tarde para a de Aveiro, pela transferência de
corregedoria de Esgueira para Aveiro. Por fim formou uma corregedoria própria.
No recenseamento geral da população portuguesa, ordenado por D. João
III, em 1527, a Vila da Feira com o seu termo pertencia à Comarca (hoje
dir-se-ia Província) da Estremadura, e não da Beira.
Em 1834, a comarca de Feira tinha noventa e seis freguesias, algumas
delas com mais de mil fogos. As comarcas de Oliveira de Azeméis, Estarreja e
Ovar, foram formadas exclusivamente com freguesias da comarca da Feira, e
Arouca absorveu as freguesias de S. Miguel do Mato, Fermedo, Escariz a
Mançores.
A 7 de agosto de 1834, travou-se a batalha de Souto Redondo, no lugar
do mesmo nome, no sítio denominado Airas, S. João de Ver, Feira, já nos finais
das Guerras Liberais. Batalha travada entre as tropas liberais afetas a D.
Pedro IV e as forças absolutistas de seu irmão D. Miguel. Nesta batalha o
exército absolutista, comandado pelo general Póvoas, desbaratou completamente
as tropas liberais, comandadas pelo conde e marquês de Vila Flor, mais tarde
duque da Terceira, o general António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de
Noronha. Mas como perder uma batalha, não significa perder a guerra, esta
Guerra Civil Portuguesa, que durou de 1828 a 1834, travada entre
constitucionalistas e absolutistas sobre a sucessão real, terminou com a
vitória dos constitucionais liderados pela rainha D. Maria II, com o apoio de
seu pai D. Pedro.
Em Santa Maria da Feira esteve instalado, até 1834, o quartel do
Batalhão de Caçadores nº 11, cujas tropas combateram nesta batalha ao lado das
tropas miguelistas, para além de um regimento de milícias, capitão-mor, uma
companhia de ordenanças, na vila, e mais sete no concelho.
Celebra-se em Santa Maria de Feira, a 20 de janeiro, a festa de S.
Sebastião, também designada, festa das fogaças ou fogaceiras. Fogaças é uma
espécie de pão doce e fogaceiras as meninas que os transportam.
Esta festa foi instituída por ocasião de uma peste que assolou todo o
país, em 1500. Provavelmente foi a câmara e o povo que principiaram esta festa,
como prece ao santo pela cura desta moléstia, porém, dizem também que foram os
alcaides-mores que deram início a esta celebração. No entanto é tradição que
foi intenção dos condes da Feira e que a peste cessou no dia em que se fez a
festa, passando esta a ser realizada anualmente até hoje.
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O concelho de Santa Maria da Feira é um território economicamente muito
dinâmico e de elevada densidade populacional, superior à média nacional e às
regiões Norte e Centro, por virtude de um elevado grau de industrialização e
proximidade à área do Grande Porto. Situa-se
a sul da Área Metropolitana do Porto e na confluência de um importante conjunto
de vias de comunicação, que garantem proximidade aos centros urbanos do Porto,
Aveiro e Coimbra. Anteriormente Vila da Feira, com a sua elevação a cidade, em 14
de agosto de 1985, passou designar-se Santa Maria da Feira.
Pelo Censos da População de 2011, o concelho, com uma área de 213,45Km2,
tinha 138.312 habitantes, sendo 18.194 os habitantes na cidade sede do concelho
(União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca, Sanfins e Espargo).
Para além da sede, o concelho inclui mais duas cidades: Fiães e
Lourosa; 12 vilas: Argoncilhe, Arrifana, Canedo, S. Tiago de Lobão, Mozelos, Nogueira da Regedoura, Paços de
Brandão, Rio Meão, Santa Maria de Lamas, S. Paio de Oleiros e Souto.
O concelho de Santa Maria da Feira engloba um total de 21 freguesias:
Argoncilhe; Arrifana; Escapães; Fiães; Fornos; Lourosa; Milheirós de Poiares;
Mozelos; Nogueira da Regedoura; Paços de Brandão; Rio Meão; Romariz; Sanguedo;
Santa Maria de Lamas; S. João de Ver; S. Paio de Oleiros; União de Freguesia de
Caldas de S. Jorge e Pigeiros; União de Freguesias de Canedo, Vale e Vila
Maior; União de Freguesias de Lobão,
Gião Louredo e Guisande; União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca,
Sanfins e Espargo; União de Freguesias de S. Miguel de Souto e Mosteirô.
O maior centro mundial de transformação de cortiça e a maior
concentração nacional da indústria do calçado, encontram-se no concelho de Santa
Maria da Feira, destacando-se também nas indústrias de metalomecânica,
metalurgia, papel, cerâmica, lacticínios, puericultura, brinquedos e
equipamentos para crianças.
Em termos turísticos, há em Santa Maria da Feira importantes motivos de
natureza monumental e paisagística: destaque para o seu Castelo, exemplar da
arquitetura medieval; as Termas das Caldas de S. Jorge, uma das melhores
estâncias termais do país; o Museu Convento dos Loios; o Museu do Papel de
Santa Maria e o Castro de Romariz.
Destaque especial para o complexo do Europarque e Visionarium, o Museu
de Santa Maria de Lamas e Parque Ornitológico de Lourosa – Zoo de Lourosa, que reúne
fauna proveniente dos cinco continentes e muitas espécies raras em vias de
extinção, devidamente integradas no seu habitat natural.
Passa também este concelho pela forte aposta em atividades de interesse
turístico-cultural: são exemplos a Festa
das Fogaceiras, o Imaginárius – Festival Internacional de Teatro de Rua,
com destaque espacial para a Viagem
Medieval em Terra de Santa Maria, na qual se recriam espaços e episódios
históricos da época.
Ordenação
heráldica do brasão e bandeira:
Armas - Escudo
de azul, castelo de prata lavrado de negro, aberto e iluminado de vermelho,
quadrado, em perspetiva, com os ângulos exteriores formados por quatro torreões
cobertos de cinco cones, sendo o maior o do centro. O centro do castelo é
encimado por nuvens de prata, realçadas de azul, que sustêm uma imagem de
Nossa Senhora com o Menino ao colo, vestida de vermelho, com manto de azul
e resplendor de ouro. Coroa mural de cinco torres de prata. Listel branco
com a legenda de negro: " SANTA MARIA DA FEIRA ".
Estandarte
- Esquartelado de branco e vermelho, cordões e borlas de prata e vermelho.
Haste e lança de ouro.
Referências:
Leal, Pinho – Portugal
Antigo e Moderno – Volume Terceiro, págs. 153 a 158.
Costa, P.de António Carvalho da – Corografia Portuguesa, Tomo II, págs.
164 a 174.
http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/ArkivDtA/Vol04/Vol04p141.htm
http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=1140
http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/ArkivDtA/Vol19/Vol19p081.htm
http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/ArkivDtA/Vol19/Vol19p095.htm
http://ww3.aeje.pt/avcultur/avcultur/Aveidistrito/Boletim31/Page55.htm
http://www.castelodafeira.com/Castelo.asp
http://ww3.aeje.pt/avcultur/avcultur/Aveidistrito/Boletim09/Page41.htm
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73936