APONTAMENTO HISTÓRICO
A História de Arraiolos parece perder-se no
tempo. Vestígios relacionáveis com o Neolítico e o Calcolítico dão-nos sinais
de uma significativa presença humana a partir do IV milénio AC e que,
possivelmente, na elevação onde se localiza o castelo, seria já, na
Proto-história, um grande local de habitação.
O historiador arraiolense Joaquim Heliodoro
da Cunha Rivara, na sua obra «Memórias da
Vila de Arraiolos», depois de se referir a alguns aspetos históricos, bem
como da sua nobreza e antiguidade, refere “… seja como for, tenho por certo que em princípios do século XIII já
havia população no sítio de Arraiolos…” É ainda o mesmo autor que nos
transmite referências do padre António de Carvalho da Costa, na «Corographia Portugueza» (tomo 2 pág.
525) e do padre Luís Cardoso no «Diccionario
Geographico» (tomo 1º pág. 590), onde se atribui a fundação de Arraiolos a
Sabinos, Tusculanos e Albanos, que foram ocupantes da cidade de Évora, antes de
Sertório, e deram o governo de Arraiolos ao capitão grego, Reyo. Deste nome
parece ter derivado o nome da povoação, já que de Reyo terá passado a Rayolis,
Rayeopolis, Arrayolos e hoje Arraiolos.
Em 1212 inicia-se
um novo capítulo da história, com a concessão do termo do Arraiolos, por D.
Afonso II, ao bispo de Évora, D. Soeiro, e ao cabido da Sé da dita cidade.
D. Dinis atribui à vila o seu primeiro foral,
em 1290 e, em 1305, manda edificar o Castelo, sendo outorgado o contrato para a
sua construção em 26 de Dezembro do mesmo ano, entre o Rei e o Concelho,
representado por João Anes e Martim Fernandes.
O título de Conde de Arraiolos foi
originalmente concedido, por carta de D. Fernando, em 1371, a Álvaro Pires de
Castro (irmão de Inês de Castro), ficando o título vago por o seu filho
legítimo herdeiro (D. Pedro) ter seguido o partido de Castela. Em 16 de
dezembro de 1387, D. João I nomeou D. Nuno Alvares Pereira, o Condestável, como
2º Conde de Arraiolos, tendo este ali vivido longos períodos da sua vida antes
de se recolher ao Convento do Carmo, em Lisboa.
Em 1511 Arraiolos recebe novo foral de D.
Manuel I.
Tendo os seus limites administrativos a
partir de 1736, Arraiolos sofreu entretanto algumas alterações: inclusão no
distrito de Évora (1835); anexação do concelho de Vimieiro (1855); anexação do
concelho de Mora (1895) e, depois, sua desanexação (1898).
ARRAIOLOS, TERRA DOS TAPETES
Os Tapetes de Arraiolos são de há séculos a
imagem de marca a que a vila e o concelho são indissociáveis. São séculos de
história bordados à mão por gerações de bordadeiras que fizeram chegar até aos
nossos dias o nosso mais genuíno artesanato, «o Tapete de Arraiolos». Arte
antiga feita de muitos “saberes” e um
mesmo “saber fazer”, que mãos exímias
souberam construir, numa manifestação artística conhecida em todo o mundo e com
lugar de destaque nas artes portuguesas, cuja origem se perde ao longo do
tempo, testemunho de uma manufatura própria e única, sem repetição em qualquer
outra parte do mundo. Peça têxtil genuinamente portuguesa, parte da história de
Portugal, onde a influência oriental é a sua base estrutural decorativa,
misturada com o saber local do bordar, através do uso do ponto cruzado oblíquo.
O ponto cruzado surge na Península a partir
do século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características
muçulmanas (a Espanha recorre à seda, Portugal à lã).
Acerca da origem e história dos Tapetes de
Arraiolos sabe-se que a região dispunha de condições favoráveis para o
desenvolvimento deste artesanato, onde abundava a produção de lã em paralelo
com uma importante atividade têxtil.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se
terão estabelecido algumas famílias de mouros expulsos por D. Manuel I, em
1496. Localizaram-se na região alentejana, onde deitou raízes a influência
islâmica e, debaixo da aparência da recente conversão, apoiaram-se nos seus
tradicionais ofícios.
Já na primeira metade do século XVIII,
Arraiolos fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro
deste tipo de bordado. Este tipo de tapetes era habitualmente utilizado no
arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes,
mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
Em
documentação relativa à sisa de 1573, do núcleo urbano com profissão indicada,
de 122 moradores, 31 (25%) tinham profissões ligadas ao ramo: 18 tecelões, 7
cardadores, 2 pisoeiros, 2 tosadores, 1 tintureiro e 1 surrador. Os próprios
inventários dão conta da importância destas atividades no conjunto da
população. A produção de tapetes exigia quási todas estas as profissões, quer
na preparação da lã e coloração, quer na produção da tela na qual o bordado se
executava.
A referência mais antiga conhecida está no
inventário (1598) de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e
morador na herdade de Bolelos, no termo de Arraiolos, onde é descrita a
existência de um tapete da terra, novo, avaliado em “dous mil Reis”, que se encontra no Arquivo Municipal de Arraiolos.
No mesmo arquivo se encontra descrito outro exemplar, que a bordadeira deixou
incompleto, no inventário de Juliana Dordio, mulher de Belchior Meirinho,
moradora em Arraiolos, na rua da Cruz, onde de entre os bens do casal se menciona
“hum tapete por acabar avaliado em mil
Reis” e, mais à frente “huns pouquos
de novelos de fiado de lam para tapete de cores avalliados em tressentos Reis”,
“sinquo vellos de lam quatro pretos e hum
branquo (…)” e “des aRateis de lam
asul (…)”.
Se há referências que provam que já em 1598
se bordavam tapetes em Arraiolos, recentes investigações documentais e
arqueológicas apontam para que as origens de produção desta expressão
artística, em Arraiolos, sejam ainda mais antigas.
Com efeito, o estudo de amostras recolhidas
pelo Laboratório do Museu de Arqueologia da Catalunha (Barcelona), provenientes
das fossas escavadas na Praça do Município, identificou a presença de lã de
ovelha com restos de tintura por ação da raiz da “Rubia tintorum”, uma das plantas utilizadas na tinturaria, assim
como escavações arqueológicas, sob a responsabilidade da arqueológa Ana
Gonçalves, realizadas na Praça Lima e Brito, sem prejuízo de uma investigação
mais pormenorizada, indiciam a produção de tapetes em Arraiolos para uma fase
anterior ao século XV.
Fontes:
http://www.bdalentejo.net/BDAObra/obras/80/BlocosPDF/bloco09-55_64.pdf
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-visitar/tapetes%20de%20arraiolos/Paginas/Breve-apontamento-historico.aspx
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-municipio/O%20Concelho/Paginas/Apontamento-Hist%C3%B3rico.aspx
https://www.infopedia.pt/$tapetes-de-arraiolos
Dissertação de Rita Carvalho Teixeira de
Oliveira Marques, FCT da Universidade Nova de Lisboa (Grau de Mestre em Conservação
e Restauro)