O renascimento é o termo usado para
identificar o período da história europeia compreendido entre meados do século
XIV e início do século XVII. Chamou-se "Renascimento" em
virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica,
as quais nortearam as mudanças deste período na direção de um
ideal humanista e naturalista. O termo foi registado pela
primeira vez por Giorgio Vasari (1511-1574), em 1550, mas a noção de
Renascimento como hoje é entendida surgiu a partir da publicação do livro
de Jacob Burckhardt (1818-1898), “A cultura do Renascimento na
Itália” (1860), onde se definia o período como uma época de "descoberta
do mundo e do homem".
Foi um período marcado por grandes
transformações em muitas áreas da vida humana e iniciou a transição do
feudalismo para o capitalismo. O Ocidente vivia um período de grandes mudanças,
sobretudo a nível cultural e mental, pois estava a surgir uma nova visão do
mundo e do próprio homem, uma revolução no seu modo de pensar devido a um maior
espírito de curiosidade e vontade de saber.
Fez renascer a cultura clássica
greco-romana, censurada por um pensamento em que o homem colocava a vida
espiritual e a religiosidade como o centro de todos os interesses. O classicismo,
a valorização e cópia crítica da cultura clássica, assim como o humanismo – uma
atitude otimista que confia nas capacidades do homem e que acredita que o mundo
é uma realidade mensurável e não infinita como se pensava anteriormente – são
algumas das características básicas do Renascimento. O movimento renascentista
defende a valorização humana, colocando o homem no centro do universo
(antropocentrismo: do grego Anthropos = Homem + centro), enquanto ser dotado de
inteligência e símbolo de perfeição. Um pensamento racionalista, humanista e
individualista. A procura e reflexão de uma nova maneira de estar no mundo, o
que significou o fim da visão teocêntrica (do grego Theos = Deus + centro).
Desta forma se impôs uma rutura com
as estruturas medievais, impulsionando grandes transformações na cultura, na
sociedade, na economia, na política e na religião. Os seus efeitos fizeram-se
sentir, nomeadamente, nas artes, na filosofia e nas ciências.
Durante este período, os homens
transportaram para o seu tempo e aprofundaram os temas e modelos outrora
valorizados pelos seus antepassados greco-romanos, propondo-se construir um
conhecimento mais alargado do Homem e da Natureza. Recorrendo ao espírito
crítico e partindo da curiosidade que os movia, os intelectuais da renascença
fizeram da experiência e da razão os seus instrumentos de trabalho, despertando
uma nova atitude face ao saber, construído com base na crítica, na observação
direta da Natureza (naturalismo), na experimentação, submetendo-se a um
raciocínio crítico dos dados em estudo. Abre-se assim o caminho para o
conhecimento científico e para o desenvolvimento de vários ramos do saber.
Podemos destacar:
Na astronomia – através da observação e da
realização de cálculos matemáticos, Copérnico (1473-1543) que desenvolveu a
teoria heliocêntrica – o Sol é o centro e os planetas giram à sua volta –
contestando a teoria geocêntrica que defendia a Terra como o centro do
Universo;
Nas medicinas – distinguem-se André Vesálio
(1514-1564), que publicou um estudo sobre a circulação sanguínea e Ambroisie
Paré (1510-1590), que desenvolveu um método de estancar hemorragias. Através de
uma técnica muita contestada pela Igreja Católica – dissecação de cadáveres –
realizaram importantes progressos no conhecimento da anatomia;
Na matemática – destaca-se o português Pedro
Nunes pelos seus conhecimentos de cosmografia.
Na geografia – como resultado da sua vasta
experiência nos Descobrimentos portugueses, na sua obra “Esmeraldo de Situ
Orbis” (1506), dedicada a D. Manuel I, Duarte Pacheco Pereira descreve
pormenores do contato com outros povos e culturas, reunindo excelentes
descrições da fauna dessas paragens;
Na botânica – o livro “Colóquio dos Simples
e Drogas das Cousas Medicinais na Índia” (1563), publicado por Garcia da
Orta (1501-1568) que desenvolveu extensas pesquisas sobre plantas medicinais,
foi reconhecido como um guia de terapêutica médica.
São muitos os que consideram os
escritores classicistas italianos Dante (1265-1321) e Petrarca (1304-1374), que
escreviam em latim antigo, e italiano e se inspiravam nas obras de autores do
mundo clássico – como Cícero e Tito Lívio – como os grandes precursores do
movimento renascentista.
O movimento renascentista nasceu em
Itália, na região da Toscana e teve como principais centros as cidades de
Florença e Siena, difundindo-se para o resto da península itálica e, depois,
para praticamente toda a Europa Ocidental. Surgiu num período grande
instabilidade da Itália, uma vez que os estados que compunham o país se
guerreavam entre si, recorrendo ao auxílio de mercenários.
Face à sua localização geográfica,
bem no centro do Mediterrâneo, a península itálica era o centro de um intenso
tráfego comercial. A guerra, o comércio e os próprios estados permitiram o
florescimento de um grupo de burgueses empreendedores que, como forma de
enaltecer a sua notoriedade e riqueza numa sociedade cada vez mais
individualista, favoreceram as Artes através do mecenato. Cidades como, Génova,
Florença, Veneza, Milão e Pisa enriqueceram devido ao desenvolvimento comercial
facultado pelas Cruzadas. A riqueza das cidades originava rivalidades entre si;
todas queriam ter os melhores sábios e artistas. Príncipes e grandes
personalidades sustentavam e mantinham junto de si uma série de artistas que
trabalhavam para a glorificação do seu patrono. A promoção das artes e das
letras era uma forma de se prestigiarem e a capacidade económica de algumas
famílias, através das encomendas de trabalhos e da proteção concedida, ajudavam
na projeção dos artistas e das suas obras.
A invenção da tipografia
(Gutenberg), em meados do século XV, foi também um marco fundamental para a
difusão deste movimento. Obras que eram escritas em grego e latim – apenas
compreendidas por uma minoria erudita – passaram a ser redigidas em italiano,
ou outras línguas, e a publicação de livros em série permitiu a divulgação da
cultura, tornando-a acessível a um maior número de pessoas.
O Renascimento está dividido em três
fases:
O Trecento (século XIV) – É o período de
transição da cultura medieval para a renascentista; uma mistura de temas da
vida humana (sentimento, características físicas, comportamentos) com a
religiosidade; presença do humanismo nas artes plásticas e na literatura;
resgate de aspetos importantes da cultura greco-romana, principalmente na
literatura e manutenção de alguns elementos culturais e temáticas religiosas da
Idade Média.
Principais artistas e as suas obras:
Giotto (1267-1337), pintor italiano, autor
de “A Lamentação” e “O Beijo de Judas”; Petrarca (1304-1374)
e Boccáccio (1313-1375), escritores italianos, autores, respetivamente,
de “África”, “Odes a Laura” e “Epístola”; e “Fiammetta”,
“Decameron” e “Filostrato”.
O quatrocento (século XV) – O Renascimento
espalha-se pela península itálica e atinge o seu auge. Nota-se uma presença
mais acentuada dos aspetos da cultura greco-romana, nomeadamente do paganismo
(mitologia, personagens da literatura clássica, etc.): incentivo e
financiamento a artistas (mecenato); destaque para a utilização das técnicas da
pintura a óleo nas artes plásticas; rotura com as principais características
das artes plásticas e da literatura medievais; o apogeu da Arquitetura,
Literatura e das Artes Plásticas do Renascimento; busca da perfeição estética
(realismo) na escultura e pintura; o uso de elementos culturais e estéticos da
cultura greco-romana; a mistura do moderno com o clássico.
Principais artistas e as suas obras:
Sandro Botticelli (1445-1510) – importante pintor
renascentista italiano: “Nascimento de Vénus”, “A Primavera” e
“A Tentação de Cristo”. Leonardo da Vinci (1452-1519) – um dos
mais importantes e completos artistas do Renascimento Cultural: “Mona Lisa”
(Gioconda), “A Última Ceia”, “Leda e o Cisne” e “O
Batismo de Cristo”.
O cinquecento (século XVI) – Neste período o
Renascimento torna-se um movimento universal europeu, expandindo-se para países
como, nomeadamente, Holanda, Espanha, Portugal, França e Alemanha mas,
paradoxalmente, inicia a sua decadência com as grandes descobertas marítimas, a
instauração da contrarreforma e a Inquisição, e o Barroco começa a ser o estilo
oficial da Igreja Católica. Assiste-se à fusão de temas profanos com religiosos
e a uma forte presença do humanismo na literatura, pintura e escultura.
Principais artistas e as suas obras:
Maquiavel (1469-1527), escritor italiano que
se destacou na análise política da sua época, autor do livro famoso, “O
Príncipe”, e da peça de teatro “Mandrágora”. Rafael Sanzio
(1483-1520), pintor italiano, autor de “Transfiguração”, “As Três
Graças” e “Madona Sistina”. Miguel Ângelo (1475-1564),
escultor, arquiteto e pintor italiano, autor das famosas esculturas “David”,
“Pietà” e “Leah” e de pinturas de que se destaca o conjunto de
frescos da Capela Sistina. Erasmo de Roterdão (1466-1536, importante
escritor holandês, analista de questões políticas e religiosas do século XVI. A
sua principal obra é “O Elogio da Loucura”.
O brilhante florescimento cultural e
científico renascentista deu origem a sentimentos de otimismo, abrindo
positivamente o homem para o novo e incentivando o seu espírito de pesquisa,
desenvolvendo uma nova atitude perante a vida e deixando para trás a
espiritualidade excessiva do gótico, passando a ver o mundo material com as
suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na
experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. As experiências
democráticas italianas, o crescente prestígio dos artistas como eruditos e não
como simples artesãos, e um novo conceito de educação que valorando os talentos
individuais de cada um e buscando o desenvolvimento do homem como um ser
completo e integrado, com a plena expressão das suas faculdades espirituais,
morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.
Fontes:
http://www.infopedia.pt/$europa-do-renascimento-%28secs.-xiv-xvi%29
http://www.suapesquisa.com/renascimento/fases.htm
http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/filosofia/10_renascimento_d.htm
http://moodle.ag-sg.net/mod/book/tool/print/index.php?id=16600