sábado, 24 de junho de 2017

TAPETES DE ARRAIOLOS

APONTAMENTO HISTÓRICO
A História de Arraiolos parece perder-se no tempo. Vestígios relacionáveis com o Neolítico e o Calcolítico dão-nos sinais de uma significativa presença humana a partir do IV milénio AC e que, possivelmente, na elevação onde se localiza o castelo, seria já, na Proto-história, um grande local de habitação.
O historiador arraiolense Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, na sua obra «Memórias da Vila de Arraiolos», depois de se referir a alguns aspetos históricos, bem como da sua nobreza e antiguidade, refere “… seja como for, tenho por certo que em princípios do século XIII já havia população no sítio de Arraiolos…” É ainda o mesmo autor que nos transmite referências do padre António de Carvalho da Costa, na «Corographia Portugueza» (tomo 2 pág. 525) e do padre Luís Cardoso no «Diccionario Geographico» (tomo 1º pág. 590), onde se atribui a fundação de Arraiolos a Sabinos, Tusculanos e Albanos, que foram ocupantes da cidade de Évora, antes de Sertório, e deram o governo de Arraiolos ao capitão grego, Reyo. Deste nome parece ter derivado o nome da povoação, já que de Reyo terá passado a Rayolis, Rayeopolis, Arrayolos e hoje Arraiolos.
Em 1212 inicia-se um novo capítulo da história, com a concessão do termo do Arraiolos, por D. Afonso II, ao bispo de Évora, D. Soeiro, e ao cabido da Sé da dita cidade.
D. Dinis atribui à vila o seu primeiro foral, em 1290 e, em 1305, manda edificar o Castelo, sendo outorgado o contrato para a sua construção em 26 de Dezembro do mesmo ano, entre o Rei e o Concelho, representado por João Anes e Martim Fernandes.
O título de Conde de Arraiolos foi originalmente concedido, por carta de D. Fernando, em 1371, a Álvaro Pires de Castro (irmão de Inês de Castro), ficando o título vago por o seu filho legítimo herdeiro (D. Pedro) ter seguido o partido de Castela. Em 16 de dezembro de 1387, D. João I nomeou D. Nuno Alvares Pereira, o Condestável, como 2º Conde de Arraiolos, tendo este ali vivido longos períodos da sua vida antes de se recolher ao Convento do Carmo, em Lisboa.
Em 1511 Arraiolos recebe novo foral de D. Manuel I.
Tendo os seus limites administrativos a partir de 1736, Arraiolos sofreu entretanto algumas alterações: inclusão no distrito de Évora (1835); anexação do concelho de Vimieiro (1855); anexação do concelho de Mora (1895) e, depois, sua desanexação (1898).
ARRAIOLOS, TERRA DOS TAPETES
Os Tapetes de Arraiolos são de há séculos a imagem de marca a que a vila e o concelho são indissociáveis. São séculos de história bordados à mão por gerações de bordadeiras que fizeram chegar até aos nossos dias o nosso mais genuíno artesanato, «o Tapete de Arraiolos». Arte antiga feita de muitos “saberes” e um mesmo “saber fazer”, que mãos exímias souberam construir, numa manifestação artística conhecida em todo o mundo e com lugar de destaque nas artes portuguesas, cuja origem se perde ao longo do tempo, testemunho de uma manufatura própria e única, sem repetição em qualquer outra parte do mundo. Peça têxtil genuinamente portuguesa, parte da história de Portugal, onde a influência oriental é a sua base estrutural decorativa, misturada com o saber local do bordar, através do uso do ponto cruzado oblíquo.
O ponto cruzado surge na Península a partir do século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características muçulmanas (a Espanha recorre à seda, Portugal à lã).
Acerca da origem e história dos Tapetes de Arraiolos sabe-se que a região dispunha de condições favoráveis para o desenvolvimento deste artesanato, onde abundava a produção de lã em paralelo com uma importante atividade têxtil.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se terão estabelecido algumas famílias de mouros expulsos por D. Manuel I, em 1496. Localizaram-se na região alentejana, onde deitou raízes a influência islâmica e, debaixo da aparência da recente conversão, apoiaram-se nos seus tradicionais ofícios.
Já na primeira metade do século XVIII, Arraiolos fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado. Este tipo de tapetes era habitualmente utilizado no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
 Em documentação relativa à sisa de 1573, do núcleo urbano com profissão indicada, de 122 moradores, 31 (25%) tinham profissões ligadas ao ramo: 18 tecelões, 7 cardadores, 2 pisoeiros, 2 tosadores, 1 tintureiro e 1 surrador. Os próprios inventários dão conta da importância destas atividades no conjunto da população. A produção de tapetes exigia quási todas estas as profissões, quer na preparação da lã e coloração, quer na produção da tela na qual o bordado se executava.
A referência mais antiga conhecida está no inventário (1598) de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e morador na herdade de Bolelos, no termo de Arraiolos, onde é descrita a existência de um tapete da terra, novo, avaliado em “dous mil Reis”, que se encontra no Arquivo Municipal de Arraiolos. No mesmo arquivo se encontra descrito outro exemplar, que a bordadeira deixou incompleto, no inventário de Juliana Dordio, mulher de Belchior Meirinho, moradora em Arraiolos, na rua da Cruz, onde de entre os bens do casal se menciona “hum tapete por acabar avaliado em mil Reis” e, mais à frente “huns pouquos de novelos de fiado de lam para tapete de cores avalliados em tressentos Reis”, “sinquo vellos de lam quatro pretos e hum branquo (…)” e “des aRateis de lam asul (…)”.
Se há referências que provam que já em 1598 se bordavam tapetes em Arraiolos, recentes investigações documentais e arqueológicas apontam para que as origens de produção desta expressão artística, em Arraiolos, sejam ainda mais antigas.
Com efeito, o estudo de amostras recolhidas pelo Laboratório do Museu de Arqueologia da Catalunha (Barcelona), provenientes das fossas escavadas na Praça do Município, identificou a presença de lã de ovelha com restos de tintura por ação da raiz da “Rubia tintorum”, uma das plantas utilizadas na tinturaria, assim como escavações arqueológicas, sob a responsabilidade da arqueológa Ana Gonçalves, realizadas na Praça Lima e Brito, sem prejuízo de uma investigação mais pormenorizada, indiciam a produção de tapetes em Arraiolos para uma fase anterior ao século XV.
Fontes: 
http://www.bdalentejo.net/BDAObra/obras/80/BlocosPDF/bloco09-55_64.pdf
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-visitar/tapetes%20de%20arraiolos/Paginas/Breve-apontamento-historico.aspx
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-municipio/O%20Concelho/Paginas/Apontamento-Hist%C3%B3rico.aspx
https://www.infopedia.pt/$tapetes-de-arraiolos
Dissertação de Rita Carvalho Teixeira de Oliveira Marques, FCT da Universidade Nova de Lisboa (Grau de Mestre em Conservação e Restauro)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

RENASCIMENTO



O renascimento é o termo usado para identificar o período da história europeia compreendido entre meados do século XIV e início do século XVII. Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, as quais nortearam as mudanças deste período na direção de um ideal humanista e naturalista. O termo foi registado pela primeira vez por Giorgio Vasari (1511-1574), em 1550, mas a noção de Renascimento como hoje é entendida surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt (1818-1898), “A cultura do Renascimento na Itália”  (1860), onde se definia o período como uma época de "descoberta do mundo e do homem".
Foi um período marcado por grandes transformações em muitas áreas da vida humana e iniciou a transição do feudalismo para o capitalismo. O Ocidente vivia um período de grandes mudanças, sobretudo a nível cultural e mental, pois estava a surgir uma nova visão do mundo e do próprio homem, uma revolução no seu modo de pensar devido a um maior espírito de curiosidade e vontade de saber.
Fez renascer a cultura clássica greco-romana, censurada por um pensamento em que o homem colocava a vida espiritual e a religiosidade como o centro de todos os interesses. O classicismo, a valorização e cópia crítica da cultura clássica, assim como o humanismo – uma atitude otimista que confia nas capacidades do homem e que acredita que o mundo é uma realidade mensurável e não infinita como se pensava anteriormente – são algumas das características básicas do Renascimento. O movimento renascentista defende a valorização humana, colocando o homem no centro do universo (antropocentrismo: do grego Anthropos = Homem + centro), enquanto ser dotado de inteligência e símbolo de perfeição. Um pensamento racionalista, humanista e individualista. A procura e reflexão de uma nova maneira de estar no mundo, o que significou o fim da visão teocêntrica (do grego Theos = Deus + centro).
Desta forma se impôs uma rutura com as estruturas medievais, impulsionando grandes transformações na cultura, na sociedade, na economia, na política e na religião. Os seus efeitos fizeram-se sentir, nomeadamente, nas artes, na filosofia e nas ciências.
Durante este período, os homens transportaram para o seu tempo e aprofundaram os temas e modelos outrora valorizados pelos seus antepassados greco-romanos, propondo-se construir um conhecimento mais alargado do Homem e da Natureza. Recorrendo ao espírito crítico e partindo da curiosidade que os movia, os intelectuais da renascença fizeram da experiência e da razão os seus instrumentos de trabalho, despertando uma nova atitude face ao saber, construído com base na crítica, na observação direta da Natureza (naturalismo), na experimentação, submetendo-se a um raciocínio crítico dos dados em estudo. Abre-se assim o caminho para o conhecimento científico e para o desenvolvimento de vários ramos do saber. Podemos destacar:
Na astronomia – através da observação e da realização de cálculos matemáticos, Copérnico (1473-1543) que desenvolveu a teoria heliocêntrica – o Sol é o centro e os planetas giram à sua volta – contestando a teoria geocêntrica que defendia a Terra como o centro do Universo;
Nas medicinas – distinguem-se André Vesálio (1514-1564), que publicou um estudo sobre a circulação sanguínea e Ambroisie Paré (1510-1590), que desenvolveu um método de estancar hemorragias. Através de uma técnica muita contestada pela Igreja Católica – dissecação de cadáveres – realizaram importantes progressos no conhecimento da anatomia;
Na matemática – destaca-se o português Pedro Nunes pelos seus conhecimentos de cosmografia.
Na geografia – como resultado da sua vasta experiência nos Descobrimentos portugueses, na sua obra “Esmeraldo de Situ Orbis” (1506), dedicada a D. Manuel I, Duarte Pacheco Pereira descreve pormenores do contato com outros povos e culturas, reunindo excelentes descrições da fauna dessas paragens;
Na botânica – o livro “Colóquio dos Simples e Drogas das Cousas Medicinais na Índia” (1563), publicado por Garcia da Orta (1501-1568) que desenvolveu extensas pesquisas sobre plantas medicinais, foi reconhecido como um guia de terapêutica médica.
São muitos os que consideram os escritores classicistas italianos Dante (1265-1321) e Petrarca (1304-1374), que escreviam em latim antigo, e italiano e se inspiravam nas obras de autores do mundo clássico – como Cícero e Tito Lívio – como os grandes precursores do movimento renascentista.
O movimento renascentista nasceu em Itália, na região da Toscana e teve como principais centros as cidades de Florença e Siena, difundindo-se para o resto da península itálica e, depois, para praticamente toda a Europa Ocidental. Surgiu num período grande instabilidade da Itália, uma vez que os estados que compunham o país se guerreavam entre si, recorrendo ao auxílio de mercenários.
Face à sua localização geográfica, bem no centro do Mediterrâneo, a península itálica era o centro de um intenso tráfego comercial. A guerra, o comércio e os próprios estados permitiram o florescimento de um grupo de burgueses empreendedores que, como forma de enaltecer a sua notoriedade e riqueza numa sociedade cada vez mais individualista, favoreceram as Artes através do mecenato. Cidades como, Génova, Florença, Veneza, Milão e Pisa enriqueceram devido ao desenvolvimento comercial facultado pelas Cruzadas. A riqueza das cidades originava rivalidades entre si; todas queriam ter os melhores sábios e artistas. Príncipes e grandes personalidades sustentavam e mantinham junto de si uma série de artistas que trabalhavam para a glorificação do seu patrono. A promoção das artes e das letras era uma forma de se prestigiarem e a capacidade económica de algumas famílias, através das encomendas de trabalhos e da proteção concedida, ajudavam na projeção dos artistas e das suas obras.
A invenção da tipografia (Gutenberg), em meados do século XV, foi também um marco fundamental para a difusão deste movimento. Obras que eram escritas em grego e latim – apenas compreendidas por uma minoria erudita – passaram a ser redigidas em italiano, ou outras línguas, e a publicação de livros em série permitiu a divulgação da cultura, tornando-a acessível a um maior número de pessoas.
O Renascimento está dividido em três fases:
O Trecento (século XIV) – É o período de transição da cultura medieval para a renascentista; uma mistura de temas da vida humana (sentimento, características físicas, comportamentos) com a religiosidade; presença do humanismo nas artes plásticas e na literatura; resgate de aspetos importantes da cultura greco-romana, principalmente na literatura e manutenção de alguns elementos culturais e temáticas religiosas da Idade Média.
Principais artistas e as suas obras:
Giotto (1267-1337), pintor italiano, autor de “A Lamentação” e “O Beijo de Judas”; Petrarca (1304-1374) e Boccáccio (1313-1375), escritores italianos, autores, respetivamente, de “África”, “Odes a Laura e “Epístola”; e “Fiammetta”, “Decameron” e “Filostrato”.
O quatrocento (século XV) – O Renascimento espalha-se pela península itálica e atinge o seu auge. Nota-se uma presença mais acentuada dos aspetos da cultura greco-romana, nomeadamente do paganismo (mitologia, personagens da literatura clássica, etc.): incentivo e financiamento a artistas (mecenato); destaque para a utilização das técnicas da pintura a óleo nas artes plásticas; rotura com as principais características das artes plásticas e da literatura medievais; o apogeu da Arquitetura, Literatura e das Artes Plásticas do Renascimento; busca da perfeição estética (realismo) na escultura e pintura; o uso de elementos culturais e estéticos da cultura greco-romana; a mistura do moderno com o clássico.
Principais artistas e as suas obras:
Sandro Botticelli (1445-1510) – importante pintor renascentista italiano: “Nascimento de Vénus”, “A Primavera e “A Tentação de Cristo”. Leonardo da Vinci (1452-1519) – um dos mais importantes e completos artistas do Renascimento Cultural: “Mona Lisa” (Gioconda), “A Última Ceia”, “Leda e o Cisne e O Batismo de Cristo”.
O cinquecento (século XVI) – Neste período o Renascimento torna-se um movimento universal europeu, expandindo-se para países como, nomeadamente, Holanda, Espanha, Portugal, França e Alemanha mas, paradoxalmente, inicia a sua decadência com as grandes descobertas marítimas, a instauração da contrarreforma e a Inquisição, e o Barroco começa a ser o estilo oficial da Igreja Católica. Assiste-se à fusão de temas profanos com religiosos e a uma forte presença do humanismo na literatura, pintura e escultura.
Principais artistas e as suas obras:
Maquiavel (1469-1527), escritor italiano que se destacou na análise política da sua época, autor do livro famoso, “O Príncipe”, e da peça de teatro “Mandrágora”. Rafael Sanzio (1483-1520), pintor italiano, autor de “Transfiguração”, “As Três Graças e Madona Sistina”. Miguel Ângelo (1475-1564), escultor, arquiteto e pintor italiano, autor das famosas esculturas “David”, “Pietà” e “Leah” e de pinturas de que se destaca o conjunto de frescos da Capela Sistina. Erasmo de Roterdão (1466-1536, importante escritor holandês, analista de questões políticas e religiosas do século XVI. A sua principal obra é “O Elogio da Loucura”.
O brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu origem a sentimentos de otimismo, abrindo positivamente o homem para o novo e incentivando o seu espírito de pesquisa, desenvolvendo uma nova atitude perante a vida e deixando para trás a espiritualidade excessiva do gótico, passando a ver o mundo material com as suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. As experiências democráticas italianas, o crescente prestígio dos artistas como eruditos e não como simples artesãos, e um novo conceito de educação que valorando os talentos individuais de cada um e buscando o desenvolvimento do homem como um ser completo e integrado, com a plena expressão das suas faculdades espirituais, morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.
Fontes:
http://www.infopedia.pt/$europa-do-renascimento-%28secs.-xiv-xvi%29
http://www.suapesquisa.com/renascimento/fases.htm
http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/filosofia/10_renascimento_d.htm
http://moodle.ag-sg.net/mod/book/tool/print/index.php?id=16600