Ao analisar objetos de arte é necessário atender à
perspetiva valorativa que identifica a arte com a boa arte e a perspetiva
classificativa que pretende distinguir a arte de não-arte.
Já na Grécia Antiga os filósofos tomaram consciência
da importância e diversidade das artes e dos seus objetos, o que levou a
filosofia à procura de critérios e parâmetros que permitissem definir a arte e
distinguir os seus objetos restantes.
Consubstanciaram-se assim diversas teorias de arte,
sendo mais relevantes historicamente, as seguintes:
- A teoria da
arte como imitação, surgida na Grécia Antiga; - a teoria da arte como expressão, surgida no quadro do Romantismo,
século XIX; - a teoria da arte como
forma significante, já no início do século XX; - a teoria da indefinibilidade da arte, durante o século XX.
Platão e Aristóteles foram os primeiros a defender
que toda a obra de arte é uma imitação.
Platão argumentava que a obra de arte é mesmo uma
imitação de uma outra imitação, pois imita os objetos naturais, em si mesmo
cópias, aparências ou imagens de Ideias,
a verdadeira realidade.
Aristóteles também via na arte (de certo modo), uma
imitação da natureza. Para Aristóteles, a imitação é natural do homem, a
criatura mais imitativa do mundo. Segundo Aristóteles, o fim essencial da arte
consistiria na imitação ou reprodução dos objetos tal como existem na natureza,
e essa reprodução de acordo com a natureza seria uma origem de prazer.
Os críticos da teoria da arte como imitação
argumentam que o homem que se limita a imitar natureza apenas mostra a sua
habilidade, reproduzindo algo inútil e sem criatividade, reduzindo a arte a uma
caricatura da vida.
Contrariando a ideia da imitação, consideram que a
verdadeira arte é sempre uma transfiguração do real. Pela imaginação,
sensibilidade e inteligência, o artista deforma o real, transformando a sua
perceção imediata, criando novas formas.
Segundo José Régio (1901-1969), a expressão artística
é expressão segunda, mediata e indireta, em relação à expressão vital na qual o
artista corporiza as suas emoções, embora ambas tenham o mesmo conteúdo ou
objeto que é o ser humano, e tudo o mais através dele. O objeto da expressão
artística é o homem com as suas várias facetas: o homem animal, social,
religioso e espiritual. Os nossos instintos, impressões, emoções, sentimentos,
ideias, também são conteúdo, objeto, da expressão artística.
A expressão artística é dirigida, intencional,
interessada, relativamente à expressão vital que é espontânea, reflexa,
imprevidente.
Porém, a teoria da arte como expressão não é imune a
críticas.
Para John Hospers (1918-2011), não será correto
estabelecer que, à partida, a produção artística tem origem na experiência
emocional, havendo talvez outros fatores e condições que estejam na origem da criação
de obras de arte, pois alguns artistas negaram que a emoção comandasse os seus
trabalhos criativos. Devemos considerar a qualidade das obras de arte
decorrente das emoções que as originaram, quando afinal o mérito da obra
assenta mais na sua harmonia interna? Segundo Hospers pode levantar-se a dúvida
a respeito do conteúdo emocional de certas obras. Na arquitetura a expressão de
emoções é claramente subordinada. E, por fim, se a arte tende a suscitar
emoções no público, deverá suscitar todo o tipo de emoções. Apreciar uma obra que
retrata o ódio, por exemplo, não significa necessariamente sentir, como
espetador, essa emoção.
A teoria da arte como expressão, apesar de mais
abrangente que a teoria da arte como imitação, não é suficientemente objetiva
para incluir muitas das obras de arte, nomeadamente as obras de arte
contemporâneas.
A emoção estética que as verdadeiras obras de arte
desencadeiam no público, decorre de uma qualidade de tais obras: a forma
significante. Esta é uma teoria associada ao crítico de arte britânico
Clive Bell (1881-1964), segundo o qual, tal qualidade diz respeito à relação
existente entre as partes, notório sobretudo nas artes visuais, mas aplicável a
qualquer outro tipo de artes: harmonia dos sons, combinação das cores, ritmo das
palavras, cadência dos movimentos, sequências das cenas, etc.
Porém, esta qualidade das obras de arte é
indefinível. Apenas pode ser apreendida de modo intuitivo pelos dotados de
sensibilidade e inteligência e estas são condições da compreensão estética.
Encontrar e identificar a essência da obra de arte,
que é, segundo Bell, a forma significante, é trabalho da inteligência que a
emoção estética desperta. O objetivo da obra de arte é assim exibir a sua forma
significante.
Analisar um quadro, do ponto de vista dos defensores
da teoria da forma significante, é realçar a disposição das formas na tela, a
relação entre as suas linhas e a utilização das cores, é verificar se tudo se
combina de forma significante.
Esta teoria parece apoiar-se num argumento circular, quando
se refere que a emoção estética resulta de uma propriedade destinada a provocar
essa emoção no espetador, ou seja, a emoção sentida pelo espetador resulta de
algo que produz emoção estética e nada mais se pode acrescentar.
Apesar de interessante e dos argumentos de que esta
teoria permite explicar que uns sejam melhores críticos do que outros, pois
intuem mais facilmente a forma significante, ela levanta algumas objeções.
Em primeiro lugar não consegue explicar em que consiste
a forma significante, ela apenas pode ser intuída. Depois é um fraco argumento
sustentar que os que não reconhecem a forma significante numa obra, são
insensíveis. Outra argumentação dos defensores desta teoria é de que a forma
significante é a propriedade que provoca emoções estéticas, mas à questão, o
que são emoções estéticas, respondem que são emoções provocadas pela forma
significante.
A compreensão da obra de arte, segundo Bell, exige a
abstração do seu conteúdo, devendo concentrar-se a nossa atenção na forma
significante, que está intimamente ligada à perspetiva designada por
esteticismo ou arte pela arte.
Nesta perspetiva, a obra de arte deve situar-se
exclusivamente ao nível da exigência estética, alheando-se de qualquer outro
fim, seja ele moral, religioso, político, ou outro.
A arte convive intimamente com a cultura. O artista é
influenciado pela sua cultura e contribui igualmente para ela. O campo cultural
em que uma obra aparece é decisivo no que diz respeito à sua avaliação. A
avaliação de uma obra de arte está dependente de critérios relacionados com a
época histórica em que surge, não dependendo de qualquer norma intemporal e
universal.
A teoria institucional da arte, que tem entre os seus
defensores o filósofo contemporâneo George Dickie (1926), considera existirem
dois aspetos comuns a todas as obras de arte, seja na pintura, na literatura,
na música, na literatura, etc. Tais aspetos são:
a) Todas as obras de arte são artefactos, foram
manipuladas por alguém. A simples exposição intencional de qualquer objeto numa
galeria de arte é um passo para que venha a ser considerado uma obra de arte.
b) Todas as obras de arte têm esse estatuto porque
lhes é conferido por pessoas que detêm autoridade suficiente para o fazer.
Essas pessoas transformam os artefactos em obras de arte, através de processos
que vão desde a exibição, a representação e a publicação dessas obras, até ao
simples facto de lhes chamarem obras de arte.
É uma conceção muito flexível em relação ao que pode
ou não ser considerado obra de arte e, apesar de algumas virtudes, é alvo de
críticas.
Quase tudo se pode transformar em arte, bastando para
isso o parecer de pessoas avalizadas. Dizer que determinado objeto é arte, é
apenas classificá-lo como tal, sem qualquer apreciação valorativa. Se é boa ou
má arte, é indiferente.
Por outro lado, uma vez que só é arte aquilo que um
grupo restrito entende como tal, podemos ser levados a dizer que determinada
obra é arte porque há pessoas que pensam desse modo e, se essas pessoas pensam
desse modo, é porque essa obra é uma obra de arte.
Ainda, como afirma o filósofo Richard Wollheim
(1923-2003), que se admita que pessoas ligadas ao mundo da arte têm capacidade
para converter qualquer artefacto em obra de arte, deve haver razões para serem
escolhidos uns objetos e não outros. Se há razões deverão ser essas a fixar o
que é e o que não é arte, sendo inútil a teoria institucional. Se não há
razões, então a arte será arbitrária, não possuindo qualquer interesse.
A teoria idealista da arte afirma que a verdadeira e
autêntica obra de arte está apenas na mente do artista. Aquilo a que
vulgarmente chamámos obra de arte é a tradução, numa expressão física, que o
artista faz a partir da ideia ou da emoção que possui. Neste sentido, a obra de
arte não existe do ponto de vista material.
Segundo esta teoria, as obras de arte não têm um fim
específico, diferenciando-se dos meros objetos que pressupõem uma finalidade.
Tal não significa que as obras de arte não possam também ser artefactos, mas
que nenhuma obra de arte, enquanto tal, se reduz a um meio destinado a um fim.
Também esta teoria é alvo de críticas:
A perspetiva de que as obras de arte são ideias, em
vez de objetos materiais e concretos, é estranha e de difícil aceitação. A
música e a literatura, não se manifestando em suportes físicos que possam ser
considerados obras de arte, ainda conferem algum sentido a esta leitura;
Defendendo que apenas são obras de arte genuínas
aquelas que não têm fins específicos, exclui muitas obras que, tendo sido
criadas para divertir, como peças de teatro, ou para abrigar alguém ou coisas,
as obras de arquitetura, deixam, por isso, de ser belas obras de arte.
“A relação
real entre o artista e a sociedade mostra também (…) uma das conclusões da
imagem contraditória da teoria artística idealista – tanto clássica como
romântica. Os artistas são, como as outras pessoas da sua época, seres sociais,
produtos e produtores da sociedade, quer dizer, nem pessoas completamente
independentes e autocráticas, nem à partida, desenraizadas ou isoladas.”
(Arnold Hauser, A Arte e a Sociedade,
Editorial Presença, p. 45)
A arte é interpretação da sociedade e tanto pode
corroborar como criticar uma determinada situação social ou certos valores de
uma época. Esta possibilidade atribui à obra um certo valor social de
intervenção. Arte militante.
A criação artística como expressão social está
patente na variedade de estilos, formas, matérias e temas que marcam as épocas
das obras de arte.
As relações entre a arte e a sociedade são recíprocas
e dinâmicas. Tanto o campo social influencia a produção artística, como a arte
condiciona o contexto social. A repercussão social da arte, resultado do seu
processo de circulação no seio da sociedade, permite conhecer o raio de ação do
campo artístico sobre o campo social, o efeito (interesse, indignação ou
indiferença) que a obra desencadeia no público e o seu consumo (interpretação e
contemplação ou utilização da obra).
A arte pela arte é uma criação humana ligada exclusivamente
a manifestações de ordem estética (beleza, revolta, harmonia, equilíbrio), concebida
por artistas a partir da sua perceção de emoções, sentimentos, ideias e
contexto atual, com o objetivo de estimular e comunicar com um ou mais
espectadores, afastando-se de qualquer outro fim, seja ele moral, religioso,
político etc.
Na arte militante os artistas, partindo da perceção das suas
emoções, sentimentos, ideias e contextualização atual, estimulam a crítica
social, procurando exprimir ideias e fins políticos ou ideológicos.