O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.Friedrich Nietzsche

sábado, 4 de fevereiro de 2017

RENASCIMENTO



O renascimento é o termo usado para identificar o período da história europeia compreendido entre meados do século XIV e início do século XVII. Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, as quais nortearam as mudanças deste período na direção de um ideal humanista e naturalista. O termo foi registado pela primeira vez por Giorgio Vasari (1511-1574), em 1550, mas a noção de Renascimento como hoje é entendida surgiu a partir da publicação do livro de Jacob Burckhardt (1818-1898), “A cultura do Renascimento na Itália”  (1860), onde se definia o período como uma época de "descoberta do mundo e do homem".
Foi um período marcado por grandes transformações em muitas áreas da vida humana e iniciou a transição do feudalismo para o capitalismo. O Ocidente vivia um período de grandes mudanças, sobretudo a nível cultural e mental, pois estava a surgir uma nova visão do mundo e do próprio homem, uma revolução no seu modo de pensar devido a um maior espírito de curiosidade e vontade de saber.
Fez renascer a cultura clássica greco-romana, censurada por um pensamento em que o homem colocava a vida espiritual e a religiosidade como o centro de todos os interesses. O classicismo, a valorização e cópia crítica da cultura clássica, assim como o humanismo – uma atitude otimista que confia nas capacidades do homem e que acredita que o mundo é uma realidade mensurável e não infinita como se pensava anteriormente – são algumas das características básicas do Renascimento. O movimento renascentista defende a valorização humana, colocando o homem no centro do universo (antropocentrismo: do grego Anthropos = Homem + centro), enquanto ser dotado de inteligência e símbolo de perfeição. Um pensamento racionalista, humanista e individualista. A procura e reflexão de uma nova maneira de estar no mundo, o que significou o fim da visão teocêntrica (do grego Theos = Deus + centro).
Desta forma se impôs uma rutura com as estruturas medievais, impulsionando grandes transformações na cultura, na sociedade, na economia, na política e na religião. Os seus efeitos fizeram-se sentir, nomeadamente, nas artes, na filosofia e nas ciências.
Durante este período, os homens transportaram para o seu tempo e aprofundaram os temas e modelos outrora valorizados pelos seus antepassados greco-romanos, propondo-se construir um conhecimento mais alargado do Homem e da Natureza. Recorrendo ao espírito crítico e partindo da curiosidade que os movia, os intelectuais da renascença fizeram da experiência e da razão os seus instrumentos de trabalho, despertando uma nova atitude face ao saber, construído com base na crítica, na observação direta da Natureza (naturalismo), na experimentação, submetendo-se a um raciocínio crítico dos dados em estudo. Abre-se assim o caminho para o conhecimento científico e para o desenvolvimento de vários ramos do saber. Podemos destacar:
Na astronomia – através da observação e da realização de cálculos matemáticos, Copérnico (1473-1543) que desenvolveu a teoria heliocêntrica – o Sol é o centro e os planetas giram à sua volta – contestando a teoria geocêntrica que defendia a Terra como o centro do Universo;
Nas medicinas – distinguem-se André Vesálio (1514-1564), que publicou um estudo sobre a circulação sanguínea e Ambroisie Paré (1510-1590), que desenvolveu um método de estancar hemorragias. Através de uma técnica muita contestada pela Igreja Católica – dissecação de cadáveres – realizaram importantes progressos no conhecimento da anatomia;
Na matemática – destaca-se o português Pedro Nunes pelos seus conhecimentos de cosmografia.
Na geografia – como resultado da sua vasta experiência nos Descobrimentos portugueses, na sua obra “Esmeraldo de Situ Orbis” (1506), dedicada a D. Manuel I, Duarte Pacheco Pereira descreve pormenores do contato com outros povos e culturas, reunindo excelentes descrições da fauna dessas paragens;
Na botânica – o livro “Colóquio dos Simples e Drogas das Cousas Medicinais na Índia” (1563), publicado por Garcia da Orta (1501-1568) que desenvolveu extensas pesquisas sobre plantas medicinais, foi reconhecido como um guia de terapêutica médica.
São muitos os que consideram os escritores classicistas italianos Dante (1265-1321) e Petrarca (1304-1374), que escreviam em latim antigo, e italiano e se inspiravam nas obras de autores do mundo clássico – como Cícero e Tito Lívio – como os grandes precursores do movimento renascentista.
O movimento renascentista nasceu em Itália, na região da Toscana e teve como principais centros as cidades de Florença e Siena, difundindo-se para o resto da península itálica e, depois, para praticamente toda a Europa Ocidental. Surgiu num período grande instabilidade da Itália, uma vez que os estados que compunham o país se guerreavam entre si, recorrendo ao auxílio de mercenários.
Face à sua localização geográfica, bem no centro do Mediterrâneo, a península itálica era o centro de um intenso tráfego comercial. A guerra, o comércio e os próprios estados permitiram o florescimento de um grupo de burgueses empreendedores que, como forma de enaltecer a sua notoriedade e riqueza numa sociedade cada vez mais individualista, favoreceram as Artes através do mecenato. Cidades como, Génova, Florença, Veneza, Milão e Pisa enriqueceram devido ao desenvolvimento comercial facultado pelas Cruzadas. A riqueza das cidades originava rivalidades entre si; todas queriam ter os melhores sábios e artistas. Príncipes e grandes personalidades sustentavam e mantinham junto de si uma série de artistas que trabalhavam para a glorificação do seu patrono. A promoção das artes e das letras era uma forma de se prestigiarem e a capacidade económica de algumas famílias, através das encomendas de trabalhos e da proteção concedida, ajudavam na projeção dos artistas e das suas obras.
A invenção da tipografia (Gutenberg), em meados do século XV, foi também um marco fundamental para a difusão deste movimento. Obras que eram escritas em grego e latim – apenas compreendidas por uma minoria erudita – passaram a ser redigidas em italiano, ou outras línguas, e a publicação de livros em série permitiu a divulgação da cultura, tornando-a acessível a um maior número de pessoas.
O Renascimento está dividido em três fases:
O Trecento (século XIV) – É o período de transição da cultura medieval para a renascentista; uma mistura de temas da vida humana (sentimento, características físicas, comportamentos) com a religiosidade; presença do humanismo nas artes plásticas e na literatura; resgate de aspetos importantes da cultura greco-romana, principalmente na literatura e manutenção de alguns elementos culturais e temáticas religiosas da Idade Média.
Principais artistas e as suas obras:
Giotto (1267-1337), pintor italiano, autor de “A Lamentação” e “O Beijo de Judas”; Petrarca (1304-1374) e Boccáccio (1313-1375), escritores italianos, autores, respetivamente, de “África”, “Odes a Laura e “Epístola”; e “Fiammetta”, “Decameron” e “Filostrato”.
O quatrocento (século XV) – O Renascimento espalha-se pela península itálica e atinge o seu auge. Nota-se uma presença mais acentuada dos aspetos da cultura greco-romana, nomeadamente do paganismo (mitologia, personagens da literatura clássica, etc.): incentivo e financiamento a artistas (mecenato); destaque para a utilização das técnicas da pintura a óleo nas artes plásticas; rotura com as principais características das artes plásticas e da literatura medievais; o apogeu da Arquitetura, Literatura e das Artes Plásticas do Renascimento; busca da perfeição estética (realismo) na escultura e pintura; o uso de elementos culturais e estéticos da cultura greco-romana; a mistura do moderno com o clássico.
Principais artistas e as suas obras:
Sandro Botticelli (1445-1510) – importante pintor renascentista italiano: “Nascimento de Vénus”, “A Primavera e “A Tentação de Cristo”. Leonardo da Vinci (1452-1519) – um dos mais importantes e completos artistas do Renascimento Cultural: “Mona Lisa” (Gioconda), “A Última Ceia”, “Leda e o Cisne e O Batismo de Cristo”.
O cinquecento (século XVI) – Neste período o Renascimento torna-se um movimento universal europeu, expandindo-se para países como, nomeadamente, Holanda, Espanha, Portugal, França e Alemanha mas, paradoxalmente, inicia a sua decadência com as grandes descobertas marítimas, a instauração da contrarreforma e a Inquisição, e o Barroco começa a ser o estilo oficial da Igreja Católica. Assiste-se à fusão de temas profanos com religiosos e a uma forte presença do humanismo na literatura, pintura e escultura.
Principais artistas e as suas obras:
Maquiavel (1469-1527), escritor italiano que se destacou na análise política da sua época, autor do livro famoso, “O Príncipe”, e da peça de teatro “Mandrágora”. Rafael Sanzio (1483-1520), pintor italiano, autor de “Transfiguração”, “As Três Graças e Madona Sistina”. Miguel Ângelo (1475-1564), escultor, arquiteto e pintor italiano, autor das famosas esculturas “David”, “Pietà” e “Leah” e de pinturas de que se destaca o conjunto de frescos da Capela Sistina. Erasmo de Roterdão (1466-1536, importante escritor holandês, analista de questões políticas e religiosas do século XVI. A sua principal obra é “O Elogio da Loucura”.
O brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu origem a sentimentos de otimismo, abrindo positivamente o homem para o novo e incentivando o seu espírito de pesquisa, desenvolvendo uma nova atitude perante a vida e deixando para trás a espiritualidade excessiva do gótico, passando a ver o mundo material com as suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. As experiências democráticas italianas, o crescente prestígio dos artistas como eruditos e não como simples artesãos, e um novo conceito de educação que valorando os talentos individuais de cada um e buscando o desenvolvimento do homem como um ser completo e integrado, com a plena expressão das suas faculdades espirituais, morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.
Fontes:
http://www.infopedia.pt/$europa-do-renascimento-%28secs.-xiv-xvi%29
http://www.suapesquisa.com/renascimento/fases.htm
http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/filosofia/10_renascimento_d.htm
http://moodle.ag-sg.net/mod/book/tool/print/index.php?id=16600