quarta-feira, 3 de junho de 2015

Memorial do Convento - As preocupações da classe dominante, do povo e o papel das mulheres na sociedade daquela época


Na narrativa do Memorial do Convento estão representadas três classes sociais: a nobreza, o clero e o povo.
Ao longo do desenrolar da ação, o autor usa o tom irónico, por vezes sarcástico, para caracterizar a nobreza e o clero, este que se acoita à sombra daquele, ambos tirando benefício desta união. Enquanto a nobreza exercia o poder material, personificado no seu rei, o clero exercia o poder espiritual, representando o poder divino. O povo, na obra representado principalmente por Baltasar, Blimunda e por aquela massa humana de homens que levantaram o convento, tem, por parte do narrador, um tratamento de favor ao ser elevado ao estatuto de herói anónimo e quase sempre esquecido. Um povo oprimido, mantido na ignorância para ser mais manobrável e ao mesmo tempo manobrador, mantido na miséria, submetido aos caprichos dos seus senhores e aos ditames da Inquisição, e tudo isto por temer a Deus.
Eram estas as preocupações das classes dominantes – manter o povo na ignorância retirando-lhe capacidades de organização e reivindicação e, deste modo, manobrável e submisso aos seus caprichos e fantasias. A um povo ignorante, educado no temor a Deus e convencido de que para se alcançar a felicidade eterna são precisos sacrifícios terrenos, poucas aspirações lhe restam do que aceitar de bom grado as graças que Deus, o clero e os poderosos lhe concedem e ir porfiando para que não morra de fome.
Numa sociedade como aquela que é retratada em Memorial do Convento, às mulheres do povo, para além dos cuidados no lar e com os filhos, sobrava ainda a missão de ajudar no sustento da casa, quer nos trabalhos agrícolas, quer noutras tarefas que se proporcionavam, em especial nos centros urbanos. Já as senhoras das classes nobres, devido ao fervor religioso da época, matavam a ociosidade com rezas, missas, novenas e peregrinações de igreja em igreja, de convento em convento, não sei se convencidas de que era esse o caminho que as levaria a Deus, se para se distraírem ou mesmo se convencidas das duas coisas ou ainda, quem o saberia, se com outras intenções, como o autor sugere. Uma coisa parece inegável: as mulheres deviam submeter-se ao homem, satisfazer os seus desejos de luxúria e procriar. E isto era transversal a todas as sociedades – à nobreza e ao povo –, o clero, é claro, também aproveitava, no que à luxúria diz respeito.
Memorial do Convento, um livro para ler e pensar.

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