segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Condes de S. Tiago de Lobão

Lino Henriques Bento de Sousa, Conde de S. Tiago de Lobão, nasceu na freguesia de Lobão, concelho da Feira, em 19 de Novembro de 1857, no lugar de São Martinho, filho de, António Francisco Henriques e Ana Ferreira Pais (assento de baptismo do ano de 1857, folha 52 do Livro Misto nº 9, freguesia de Lobão, Arquivo Distrital de Aveiro). Foi casado com Maria Albertina Saraiva de Sousa (faleceu no Porto, a 19/6/1948), laureada também com o título de Condessa de S. Tiago de Lobão não havendo descendentes directos deste casamento.

 Ainda muito novo rumou para o Brasil onde fixou residência e graças ao seu trabalho, esforço, tenacidade, inteligência e indomável determinação conseguiu amealhar uma enorme fortuna.
Segundo o testemunho de um parente (sobrinho-neto Pimentel Paiva), ali chegado, começou a trabalhar naquilo que apareceu. Em determinada altura, ainda jovem, foi despedido da casa onde trabalhava e estava a chorar numa rua do Rio de Janeiro. Passou por ali uma senhora, que ao vê-lo a chorar, lhe perguntou qual o motivo de tanta tristeza?!... O senhor Lino, se calhar com mau aspecto, terá contado à senhora o sucedido: ela teve pena dele e acolheu-o em sua casa. A senhora era viúva e dona de uma grande fortuna. Ele tê-la-á servido com tanta dedicação e fidelidade, que a dita fortuna, por morte da senhora, ficou para ele. Não se sabe de que constava a fortuna. Os escritos que se conhecem sobre o assunto, dizem que se dedicou ao comércio.
 A sua actividade comercial estendeu-se a várias regiões do Brasil, nomeadamente em Santos, onde era muito influente e respeitado integrando-se perfeitamente na comunidade tendo-se até naturalizado brasileiro. Foi, digamos uma forma de agradecer ao Brasil tudo aquilo que conseguiu na sua segunda Pátria.
Segundo histórias da tradição oral da família de Boaventura Rodrigues de Sousa, o Conde e Boaventura eram muito amigos e havia em Santos uma empresa fundada por Boaventura e seu irmão Bento de Sousa, que se chamava: Bento de Sousa & Cª.
Curioso o Conde ter no seu nome Bento de Sousa, pelo que será de admitir que tenha adoptado o nome da empresa. Possivelmente terá sido sócio na empresa, pois do pouco que se conhece é que terá sido comprada, já no século XX, pela empresa Moinho Santista.
Regressado a Portugal, com 40 a 50 anos, uma das primeiras coisas que fez após o regresso, foi cumprir a promessa feita quando partiu (que se a sorte lhe sorrisse no Brasil, casaria com uma mulher que tivesse sido falada, isto é, que tivesse andado nas bocas do povo por algo…). Foi assim que, embora muito rico, casou com uma senhora de classe humilde, a futura condessa.
Sendo detentor de grandes recursos patrimoniais e financeiros e dotado de grandes qualidades de filantropia, implementou uma extraordinária obra de acção social, cultural e educativa que muito contribui para o desenvolvimento local e regional. No âmbito da terra que o viu nascer, para além de apoiar gente anónima e carenciada, mandou refundir os sinos da igreja paroquial em 1894, promoveu a sua reforma geral em 1899 e em 1907, a expensas suas, foi feito o douramento dos altares e outras talhas e adquiriram-se muitos objectos de culto. Mandou ampliar o cemitério, comprando para o efeito bastante terreno. Promoveu a construção do 2º andar das sacristias uma das quais serviu de sede da Junta durante várias décadas. Em 1911 adquiriu terreno e mandou construir a Escola Conde S. Tiago de Lobão com duas salas de aulas e duas residências anexas para os respectivos professores no lugar da Igreja. Em acta de 16/11/1910 a Junta de então faz referência à construção da Escola exarando: “magestoso templo de instrução popular onde as criancinhas de hoje, mas homens de amanhã, irão beber a santa seiva da educação e instrução”.
O título de Visconde de S. Tiago de Lobão foi-lhe concedido por decreto do Rei D. Carlos I de 10 de Março de 1906. Em 22 de Fevereiro de 1908, por decreto do Rei D. Manuel II, é elevado a Conde de S. Tiago de Lobão. (Nobreza de Portugal, volume III, pág. 306/307)
Em 1917 efectua a compra da residência para o pároco e passal anexo. O povo de Lobão não podia e não devia ficar indiferente por tanta generosidade de um dos seus filhos pelo que nesse mesmo ano de 1917, a Junta de Freguesia "interpretando o sentir unânime da população" prestou-lhe pública homenagem em 19 de Novembro, dia do seu 60º aniversário.
A sua acção de bem-fazer estendeu-se a outras terras: Oliveira de Azeméis, beneficiando do grande auxílio do Conde, conseguiu o abastecimento de água à população e o restauro da Igreja Matriz; foi ainda benemérito do Castelo da Feira tendo subsidiado obras de conservação do mesmo, subsidiou os jornais do Porto - Comércio do Porto, Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias - para apoio a pobres e desprotegidos da sorte.
A Ordem Terceira do Carmo e a Santa Casa da Misericórdia do Porto foram instituições amplamente beneficiadas pela sua fortuna desenvolvendo um trabalho extraordinariamente meritório nas áreas da saúde, assistência social e no ensino.
Consta que construíram de raiz um palacete (defronte da moradia dos Owen) em Vilar do Paraíso (Gaia), na outrora denominada Quinta do Condessa de S. Tiago do Lobão, também conhecida por Quinta da Boa Nova, onde viviam os períodos de verão, actualmente ocupada(?)  pela Academia de Música de Vilar do Paraíso (livro “S. Pedro de Vilar do Paraíso – subsídios monográficos”).
Em 26 de Outubro de 1920 fez o seu testamento contemplando com valiosos bens os seus familiares, amigos e várias instituições. À Junta de Freguesia de Lobão deixou uma valiosa capela-jazigo construída em granito, datada de 1913, no cemitério paroquial e um legado cujo rendimento é aplicado na conservação do dito jazigo e no apoio aos alunos da escola da Igreja.
Na actualidade a Junta de Freguesia de Lobão, prestou pública homenagem ao grande benemérito Lino Henriques Bento de Sousa mandando construir um busto em sua memória e que foi colocado na Praça Condes S. Tiago de Lobão.
Este grande lobonense faleceu no dia 13 de Abril de 1921, na sua residência (um palacete [Arte-Nova?] mandado construir por António Júlio Machado que faz esquina com a rua de Belos Ares, em cujo interior fez um teatro e onde se realizaram várias récitas, adquirido pelo conde) da avenida da Boavista nº 1256, na cidade do Porto (legado ao município), que tem um famoso jardim e que a Câmara ainda não tornou acessível ao público (!!!), estando sepultado, num imponente mausoléu, no cemitério de Agramonte, que levou vários anos a ser construído e cujas pedras vieram de Itália. Após a sua morte, as relações da Condessa com a família do marido praticamente deixaram de existir. Dada a sua monumentalidade, o jazigo (também Arte-Nova), vem citado nos estudos sobre arte fúnebre do Prof. Vasconcelos de Sousa.
Existe em Agramonte um outro mausoléu que, segundo consta na família, terá sido mandado construir pelo seu amigo Boaventura e imitavam, os dois; o Sacré Coeur e a Madeleine.
O Conde de S. Tiago de Lobão é lembrado na toponímia da sua terra natal, Oliveira de Azeméis e de Vilar do Paraíso (Gaia).
Em edição especial comemorativa do cinquentenário do jornal “A Tribuna” de Santos, Brasil (edição de 1944), é destacada a participação lusa no desenvolvimento da cidade onde, entre muitos lusos, consta o de Lino Henriques Bento de Sousa, Conde de São Tiago de Lobão.
 Com estas notas soltas sobre parte da vida do Conde de Lobão, de uma forma sucinta se lembra aqui a vida e obra de um homem ilustre da terra.

22 comentários:

  1. Ainda existe uma sobrinha directa em Lobão a minha mãe Alice Ferreira Pimentel com 98 anos.

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  2. Muito obrigada pelo belo artigo sobre o meu tio-visavô. A minha avó nos seus 98 anos conta o bem que o seu tio legou a esta freguesia. Gostaria de pedir a acta da compra da residência para o pároco e passal anexo, que não se consegue visualizar e tinha todo o interesse em ver. Obrigada

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  3. E também existe, aqui no Rio de Janeiro, uma das sobrinhas-netas do Conde que é Josefina Ferreira Pais, com 94 anos...

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  4. Existem no fundo fotográfico Aurélio da Paz dos Ris fotografias do palacete e da família

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  5. Boa noite como estão os nossos amigos de Portugal? A Sra Alice Ferreira Pimentel seria tia de minha mãe!!! Sr Jorge, obrigada

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    1. A minha mãe, Alice Ferreira Pimentel, faleceu no dia 08.12.2018, com 103,5 anos.
      Era a única soboinha neta viva do Conde Santiago de Lobão

      Sou filho

      João Ferreira Pinto

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    2. A minha mãe faleceu no dia 08.12.2018, com 103 5 anos.
      Era a única sobrinha neta viva do Caconde Santiago

      João Ferreira Pinto
      ( seu filho)

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    3. A minha mãe faleceu no dia 08.12.2018, com 103 5 anos.
      Era a única sobrinha neta viva do Caconde Santiago

      João Ferreira Pinto
      ( seu filho)

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    4. Única sobrinha neta??? Ainda existem alguns sobrinhos netos e Vivos!!! A minha avó era sobrinha e única afilhada do conde. O meu pai LINO possuía uma certidão do registo de testamento e seu teor, que agora se encontra em meu poder.

      Maria Celeste Matos ( sobrinha bisneta )

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    5. Viva (na altura)
      Também tenho copia integral do testamento e li todo o processo de inventário

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  6. Boa tarde...sempre admirei esta história da vida dos condes de lobão...alguém me sabe dizer quem é o Thomas Alberto que está sepultado entre os condes no seu mausuleu....

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    1. Boa tarde.
      Lamento, mas não lhe sei responder.

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    2. Olá boa noite o melhor é perguntar à Freguesia de Lordelo Massarelos

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  7. Triste estado, é o atual estado do mausoléu…
    Caixões ao monte! No piso inferior, consegue observar-se (através das janelas partidas) … ossos à vista !!!

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  8. O atual estado do mausoléu, é triste!
    Degradado… com caixões dispostos uns em cima doutros!
    Pelas janelas partidas (do piso inferior), consegue observar-se “ ossos à mostra” e, mais uma vez caixões dispostos uns em cima de outros!!!

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  9. O atual estado do mausoléu, é triste!
    Degradado… com caixões dispostos uns em cima de outros, no chão do mausoléu!
    Pelas janelas partidas (do piso inferior), consegue observar-se “ ossos à mostra” e, mais uma vez caixões dispostos uns em cima de outros!!!

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  10. Viva!
    Estou a investigar sobre o jazigo dos Condes, alguém me pode ajudar com alguma informação? Quem foi o mestre de obras?
    deixo tlf: 936314605

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  11. Olá boa noite!!! Eu estou a tratar do mau estado do Palacete e seus jardins e vou e quero participar na limpeza dos mesmos. Gostaria de saber onde obteve as informações.

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  12. Olá boa tarde!!! Estou a fazer uma investigação para escrever um livro sobre os Condes de Santiago do Lobão, poderia me dizer a onde posso ir ou ver o pedido de naturalização do Conde no Brasil. Muito obrigada. Carla Amorim

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    1. Boa noite Carla Amorim

      Para melhor fundamentar algumas das partes do livro que pensa escrever aconselho-a a consultar os inventários do Conde e da Condessa que se encontram no Arquivo do Tribunal Judicial da Comarca do Porto (Palácio da Justiça).
      Já os consultei e tenho cópia do testamento do Conde.
      Neste, estão identificados todos os seus irmãos e irmãs a quem legou bens e dinheiro.
      Sou neto da sua irmã, pelo lado paterno, Filomena Henriques Santiago, nascida em Lobão (como, segundo julgo, todos eles). Os descendentes dos seus irmãos e irmãs estão espalhados por Portugal e pelo Brasil.
      Brasil.
      A título de curiosidade refiro que o Conde era tio do pai (também nascido em Lobão e primo directo da minha mãe) do Professor Doutor Mota Pinto, que foi Primeiro Ministro e Professor Catedrático na Faculdade de Direito de Coimbra.
      A minha avó residiu na ala Sul de uma casa, que ainda existe, sita no lugar de Sub-Outeiro, freguesia se Lobão, agora Rua Dr. Mota Pinto, e o Conde habitou a ala Norte quando se deslocava à sua terra natal.
      Existe um livro recente, que possuo, sobre a freguesia de Lobão (a sua história), que contém parte da Árvore Genealógica do Conde
      (segundo sei está esgotado).
      Se vier a escrever o livro gostaria do adquirir.

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  13. Boa noite Carla Amorim

    Penso que deveria consultar os inventários do Conde e da Condessa que se encontram no Arquivo do Tribunal Judicial da Comarca do Porto (Palácio da Justiça).
    Tenho cópia do testamento do Conde
    Nele estão identificados todos os irmãos e irmãs a quem ele legou bens e dinheiro.
    Os seus descendentes estão espalhados por Portugal e pelo Brasil.
    A título de curiosidade refiro que o pai (também nascido em Lobão e primo directo da minha mãe) do Professor Doutor Mota Pinto que foi Primeiro Ministro e Professor Catedrático na Faculdade de Direito de Coimbra.
    No lugar de Sub-Outeiro, freguesia de Lobão, agora Rua Dr Mota Pinto, existe uma casa que o Conde habitou (a sua ala Norte) quando se deslocava a Lobão e na qual a minha avó tambem esidiu (na ala Sul).
    Foi publicado, recentemente, um livro sobre a história da freguesia de Lobão que também possuo e que contém parte da Árvore Genealógica do Conde (estar esgotado)
    Quando o seu livro for publicado gostaria de o adquirir

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  14. Agradeco a todos que escreveram este comentario da estoria da minha familia muito obrigado

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