domingo, 21 de maio de 2023

Joana da Silva – Heroína de Portugal

Na galeria de heróis da História de Portugal figuram apenas nomes masculinos. Se por um lado se compreende, pois o homem é geralmente mais forte mais forte fisicamente e, portanto, mais apto para o combate, não deixa de ser irónico que os heróis são geralmente aqueles que em razão da sua posição social comandavam os exércitos, e o seu heroísmo dependia dos que verdadeiramente lutavam, até porque nem sempre o comandante marchava à frente dos seus homens, porque se o fizesse, corria o risco de ser dos primeiros morrer e lá ficava o exército sem comando. Quero com isto dizer que a vitória ou derrota numa batalha estava dependente, entre vários fatores, da bravura, ou falta dela, daqueles que realmente combatiam.

Ora, se aqueles heróis não combatiam, mas dirigiam os exércitos, por que não eram esses exércitos comandados por mulheres? Em inteligência e artes de dissimulação parece que são até superiores aos homens. Talvez até houvesse menos guerras (ou mais, sabe-se lá) na história dos povos, dado que os homens de antanho não quereriam ser comandados por mulheres, recusariam ir combater e assim o mundo viveria pacificamente.

Isto que estou para aqui a dizer até parece fazer sentido, mas, se olharmos a nossa História, verificamos que também tem (poucas, é certo) heroínas: Deu-la-Deu Martins; Antónia Rodrigues, natural de Aveiro, a mulher-soldado e o terror dos mouros; a Padeira de Aljubarrota; a Inês Negra, de Melgaço e a Maria da Fonte.

A história destas mulheres anda envolvida em lendas populares, numa mistura entre o que é suposto ser real e o que a tradição oral foi contando ao longo dos tempos, onde os pormenores variavam de contador para contador, confundindo-se a história com estória.

Mas, se a lenda das mulheres acima mencionadas faz mais ou menos parte do nosso imaginário, já a história, ou estória, de Joana da Silva não aparece na galeria das nossas heroínas, pelo que não resisto a contá-la aqui, segundo o que li.

Joana da Silva nasceu pelos anos de 1530, em Peniche. Era uma mulher cheia de força e com uma coragem de leão.

Estava esta mulher na casa dos 50 anos, quando reinava em Portugal o neto de D. Manuel I, o Filipe II de Espanha e cognominado Filipe I de Portugal.

Apesar da idade, esta mulher era tão vigorosa nas suas forças e de tal ânimo, que o mais varonil dos homens lhe cedia, sem controvérsia, toda a primazia. Envergonhava-se até de lutar contra um só e até mesmo contra dois, o seu brio não admitia paralelismos. Era mesmo capaz de enfrentar sozinha quatro ou cinco.

Numa discussão com três castelhanos, de que muito se aborrecia, deixou-os em tal estado, que foram precisos muitos tempos para se restabelecerem.

A outro que intentou ofender a sua honra, desonrou-o com uma grande bofetada, e, porque este se quis vingar da “insolência”, recebeu dela tal tratamento que ficou às portas da morte.

Para lá destas, outras façanhas idênticas esta guerreira operou contra os espanhóis.

Desconhece-se a data do seu falecimento.

(Leal, Pinho. Portugal Antigo e Moderno, volume 6º, pág. 639)